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Padre Marcelo agora mira evangélicos
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O que o papa disse a padre Marcelo Rossi quando ele lhe entregou uma cópia do filme "Maria
-Mãe do Filho de Deus?"
"Não falou muito, em razão da
doença, mas deu para entender
que era para eu continuar o trabalho", diz o religioso. E o cinema
faz parte do pacote, conclui.
Bênção melhor impossível para
Diler Trindade, produtor de "Maria" -visto por mais de 2,7 milhões de espectadores- e de outros recordistas de bilheteria.
Amanhã, 11 meses após a estréia
do primeiro longa protagonizado
pelo sacerdote astro, Diler coloca
em mais de 200 salas sua nova saga, "Irmãos de Fé".
Desta vez, o padre deu um passo
além rumo ao paraíso das bilheterias. "Irmãos" custou R$ 4,8 milhões -R$ 300 mil a mais do que
"Maria"- e abriu as portas dos
cinemas aos evangélicos, já que o
tema -a vida do apóstolo Paulo- não é restrito ao catolicismo,
como a história da mãe de Jesus.
"Esse é mais ecumênico do que
"Maria", que foi chamado por uma
revista de "contra-ataque dos católicos aos evangélicos", o que os
desagradou", diz Rossi, para
quem o novo longa "tem forte
conteúdo de evangelização". "Irmãos" é certamente mais voltado
a evangélicos'", afirma Diler.
Se conquistar evangélicos e ampliar seu rebanho cinematográfico, Rossi consolida o que o produtor chama de "filão da Bíblia no
cinema". "Quando fizemos "Maria", não conhecíamos o segmento
e não sabíamos no que ia dar. Para "Irmãos" esperamos, no mínimo, bilheteria semelhante à do
anterior", afirma o produtor.
Já que papa e público parecem
abençoar, ele prepara também
uma série bíblica com Rossi para
a TV paga do Brasil e da América
Latina.
Para Diler -que assina a produção de longas como os de Xuxa
Meneghel e de Renato Aragão-,
o polêmico "A Paixão de Cristo",
de Mel Gibson, deu um empurrão
à nova onda de "cinema de fé".
E a questão anti-semita, que
acabou alavancando as bilheterias
do filme de Gibson, poderá vir à
tona também em "Irmãos". O filme mostra a conversão de Saulo,
judeu perseguidor de cristãos, no
apóstolo Paulo de Tarso. O galã
global Thiago Lacerda faz cara de
"mau" para interpretar Saulo, que
tortura fiéis de Cristo.
Após a conversão, vira mocinho
e apanha de judeus ao pregar em
sinagogas. E passa a questionar
costumes judaicos, como a circuncisão. "A lei não pode ser um
fardo impossível", declara.
Rossi não vê anti-semitismo,
mas fidelidade à bíblia. "Falei com
o [rabino Henry] Sobel, meu amigo. Tomamos todos os cuidados
para não passar nada anti-semita.
Se alguém se sentir ofendido, peço desculpas antecipadamente."
"Irmãos de Fé" demonstra realmente precaução. Numa das cenas, o apóstolo Paulo diz: "Não
são todos os judeus que me
odeiam, somente aqueles a que
toma a intolerância". Além disso,
Marcelo Rossi usou o quipá judaico nas cenas em Jerusalém (realizadas graças a um merchandising
da Varig, que coloca um de seus
aviões numa cena do filme, como
se levasse o padre a seu destino).
"Gravei no Muro das Lamentações [local sagrado dos judeus e
muçulmanos] só por essa razão."
Críticas à religião
Co-astro do longa-metragem
-ao lado do próprio padre, claro-, Thiago Lacerda concorda
que não haja anti-semitismo. E ele
fala quase como uma autoridade
em assuntos bíblicos -já fez papel de Jesus quatro vezes, três nas
grandes encenações nordestinas
da Paixão de Cristo, e uma na peça teatral "O Evangelho Segundo
Jesus Cristo" (que agora terá uma
temporada em Portugal).
O ator, que foi batizado no catolicismo mas diz não ser praticante, chegou a ficar na dúvida se deveria aceitar o convite para "Irmãos de Fé", que "seria um instrumento de comunicação da
igreja". "Resolvi dizer sim porque
sou ator e estava sendo preconceituoso com o projeto, por ele ser de
um instituição. Conclui que, apesar disso, leva uma mensagem
boa, de tolerância", afirma.
Mas Lacerda se mantém crítico
a algumas passagens do longa, como a que seu personagem diz:
"Não ter nada, andar a pé, dormir
exausto, tudo isso me acalma.
Amanhã, o seu corpo sentirá saudades das dores de hoje".
"A sociedade ocidental, cristã e
judaica, vive sob a doutrina do arrependimento, do pecado original, que tem a clara intenção de
manter as pessoas na rédea. Não
me identifico com isso e acho que
não devemos nos desculpar de
nada, mas viver."
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