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MANUEL DA COSTA PINTO
Arte minoritária
A. Alvarez analisa
em ensaios a invenção de
uma voz "autêntica", que
caracterizaria a literatura
"AUTOR", "narrador" e "leitor ideal" são categorias
elementares na teoria literária, mas que admitem grande
número de definições e variantes.
Em "A Voz do Escritor", A. Alvarez
discute um conceito correlato, que
tem sido associado pelos estudos
culturais à expressão de minorias
étnicas ou sexuais -aos quais o escritor inglês opõe uma erudita concepção de arte, avessa a qualquer
concessão ao politicamente correto.
Os três ensaios reunidos no livro
foram apresentados originalmente
em palestras na Biblioteca Pública
de Nova York. Pertencem, portanto,
ao gênero de "Seis Propostas para o
Próximo Milênio", de Italo Calvino,
e "Sete Noites", do argentino Jorge
Luis Borges.
Os dois primeiros textos de A. Alvarez expõem aquilo que para ele caracteriza a literatura: a invenção de
uma voz "autêntica", que não se
confunde com o estilo, embora não
possa prescindir dele. Em "Encontrando uma Voz" e "Escutando",
examina o fenômeno dos pontos de
vista do autor e do receptor -instâncias complementares, uma vez
que os escritores que menciona são
também grandes leitores, que conquistaram sua singularidade no confronto com a tradição.
Não por acaso, um de seus modelos é o T. S. Eliot de "Tradição e Talento Individual". Ao comentar célebre aforismo de Eliot ("poetas imaturos imitam; poetas amadurecidos
roubam"), Alvarez mostra que essa
"piada maliciosa a respeito de si
mesmo" e das apropriações cifradas
em "A Terra Devastada" revelam a
estratégia pela qual o escritor encontra sua voz:
"Como ele acreditava firmemente
na impessoalidade clássica da arte,
teria alegado que essa colcha de retalhos de citações e referências era
simplesmente um modo de confrontar a cultura fragmentada da
Europa após a Primeira Guerra com
um passado espiritualmente mais
rico e enraizado. Mas tornou os fragmentos tão seus que eles também
acabaram compondo uma imagem
estilhaçada de seus problemas particulares, reflexos de um espelho rachado, um auto-retrato cubista."
Pontuado por análises de Henry
James e Yeats, "A Voz do Escritor"
evita o biografismo, mostrando que
autores como Sylvia Plath, Robert
Lowell e John Berryman (que Alvarez denomina "extremistas") souberam criar "uma arte que se desenvolve sobre a frágil borda entre o tolerável e o intolerável, embora (...)
com toda a disciplina, a lucidez e a
atenção ao detalhe a que Eliot tacitamente se refere quando fala em
classicismo". No terceiro e mais polêmico ensaio, "O Culto da Personalidade e o Mito do Artista", Alvarez
lança esse arsenal contra um arco
que leva da agonia do gênio romântico até a exaltação psicodélica e o antiintelectualismo dos beatniks
("realismo socialista transformado
pelo livre-comércio em surrealismo
de mercado") e contrapõe à literatura das minorias uma "arte minoritária" -exigente e culta, exilada da sociedade do espetáculo.
A VOZ DO ESCRITOR
Autor: A. Alvarez
Tradução: Luiz Antonio Aguiar
Editora: Civilização Brasileira
Quanto: R$ 28,90 (160 págs.)
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