São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2006

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Edemar está em catálogo da Bienal

Excluído de conselho deliberativo da instituição, ex-banqueiro, por força de estatuto, permanece em colegiado de honra

Conselheiro Sena Madureira diz à Folha estar "satisfeito" com honraria a amigo e critica falta de assiduidade de membros do conselho


UIRÁ MACHADO
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS

Excluído do conselho deliberativo da Fundação Bienal, Edemar Cid Ferreira, ex-controlador do Banco Santos, terá seu nome garantido em lugar de destaque no catálogo da 27ª Bienal: o conselho de honra.
A honraria é conferida pelo estatuto da entidade. De acordo com seu 12º artigo, a presença no conselho de honra é assegurada aos ex-presidentes da diretoria executiva da Bienal ou de seu conselho de administração. Edemar ocupou este último cargo por duas vezes: na Bienal de 1994 e na de 1996.
O catálogo da 27ª Bienal -que começa no mês que vem- já está sendo preparado, e dele consta o nome de Edemar. O conselho de honra não tem prerrogativas na Bienal. É puramente laudatório.
Assim, conselheiros que votaram pela exclusão de Edemar por considerar que sua reputação não é ilibada ou que sua presença no conselho causava "desconforto" terão de conviver com a idéia de que o ex-banqueiro continua a merecer lugar de honra na Bienal.
Quem fica satisfeito é o editor Pedro Paulo de Sena Madureira. Ele serviu de abre-alas quando Edemar, de quem continua muito amigo, decidiu investir na imagem de mecenas.
A relação entre os dois é tão próxima que Sena Madureira foi procurador de Edemar em empresas que lançaram milhões de reais em debêntures. Ele diz que assinava os papéis por confiar no amigo.
Sobre a manutenção de Edemar no conselho de honra, Sena Madureira diz: "Mais do que pela amizade, fico satisfeito por ver o estatuto ser cumprido".
Sena Madureira foi o único conselheiro que, na reunião em que se decidiu excluir Edemar do conselho deliberativo, votou por sua permanência. Na ocasião, compareceram 33 dos 60 membros do conselho. Trinta votaram pela saída do ex-controlador do banco Santos.
Sem falar com a imprensa desde então, Sena Madureira conversou com a Folha com exclusividade e explicou seu voto a favor de Edemar. E aproveitou para, "respeitosamente", se queixar de alguns conselheiros e defender a renovação do órgão da Bienal.

"Injustiça"
A motivação de Sena Madureira para romper seu silêncio foi a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que, no dia 22/8, autorizou a libertação de Edemar, preso desde 26/5.
"Agora estou confortável para falar, porque o STF se manifestou dessa maneira." O editor, na última reunião do conselho deliberativo da Bienal, sustentou que Edemar, embora preso, não estava condenado em definitivo pela Justiça.
"E o que agora foi dito pelo Supremo é que não há elementos suficientes para formação de culpa que justifique a manutenção dessa pessoa na prisão", argumenta Sena Madureira.
O editor afirma que a exclusão de Edemar foi uma injustiça cometida pelo conselho. "Disseram na reunião que a exclusão do Edemar foi legal. Ora, mas nem tudo que é legal é legítimo. A ditadura militar foi legal, mas não foi legítima", diz.
Embora conteste a decisão, Sena Madureira evita bater de frente com o conselho da Bienal e seus membros. Mas faz uma crítica: a assiduidade dos conselheiros nas reuniões.
"É uma pena para o conselho que, no seu cotidiano, não haja tanta participação. Sinto falta de um maior debate", diz. Sena Madureira afirma que, desde que é conselheiro, há mais de dez anos, poucas vezes, a não ser nas crises, viu mais de 30 conselheiros em uma reunião.
Daí porque o editor sustenta que o conselho da Bienal precisa de renovação: "Os últimos presidentes têm falado sobre a necessidade de renovação do conselho nesse sentido de uma maior participação, maior presença. É uma necessidade".


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