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Edemar está em catálogo da Bienal
Excluído de conselho deliberativo da instituição, ex-banqueiro, por força de estatuto, permanece em colegiado de honra
Conselheiro Sena Madureira diz à Folha estar "satisfeito" com honraria a amigo e critica falta de assiduidade de membros do conselho
UIRÁ MACHADO
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS
Excluído do conselho deliberativo da Fundação Bienal,
Edemar Cid Ferreira, ex-controlador do Banco Santos, terá
seu nome garantido em lugar
de destaque no catálogo da 27ª
Bienal: o conselho de honra.
A honraria é conferida pelo
estatuto da entidade. De acordo
com seu 12º artigo, a presença
no conselho de honra é assegurada aos ex-presidentes da diretoria executiva da Bienal ou
de seu conselho de administração. Edemar ocupou este último cargo por duas vezes: na
Bienal de 1994 e na de 1996.
O catálogo da 27ª Bienal
-que começa no mês que
vem- já está sendo preparado,
e dele consta o nome de Edemar. O conselho de honra não
tem prerrogativas na Bienal. É
puramente laudatório.
Assim, conselheiros que votaram pela exclusão de Edemar
por considerar que sua reputação não é ilibada ou que sua
presença no conselho causava
"desconforto" terão de conviver com a idéia de que o ex-banqueiro continua a merecer lugar de honra na Bienal.
Quem fica satisfeito é o editor Pedro Paulo de Sena Madureira. Ele serviu de abre-alas
quando Edemar, de quem continua muito amigo, decidiu investir na imagem de mecenas.
A relação entre os dois é tão
próxima que Sena Madureira
foi procurador de Edemar em
empresas que lançaram milhões de reais em debêntures.
Ele diz que assinava os papéis
por confiar no amigo.
Sobre a manutenção de Edemar no conselho de honra, Sena Madureira diz: "Mais do que
pela amizade, fico satisfeito por
ver o estatuto ser cumprido".
Sena Madureira foi o único
conselheiro que, na reunião em
que se decidiu excluir Edemar
do conselho deliberativo, votou
por sua permanência. Na ocasião, compareceram 33 dos 60
membros do conselho. Trinta
votaram pela saída do ex-controlador do banco Santos.
Sem falar com a imprensa
desde então, Sena Madureira
conversou com a Folha com
exclusividade e explicou seu
voto a favor de Edemar. E aproveitou para, "respeitosamente", se queixar de alguns conselheiros e defender a renovação
do órgão da Bienal.
"Injustiça"
A motivação de Sena Madureira para romper seu silêncio
foi a decisão do STF (Supremo
Tribunal Federal) que, no dia
22/8, autorizou a libertação de
Edemar, preso desde 26/5.
"Agora estou confortável para falar, porque o STF se manifestou dessa maneira." O editor, na última reunião do conselho deliberativo da Bienal,
sustentou que Edemar, embora
preso, não estava condenado
em definitivo pela Justiça.
"E o que agora foi dito pelo
Supremo é que não há elementos suficientes para formação
de culpa que justifique a manutenção dessa pessoa na prisão",
argumenta Sena Madureira.
O editor afirma que a exclusão de Edemar foi uma injustiça cometida pelo conselho.
"Disseram na reunião que a exclusão do Edemar foi legal. Ora,
mas nem tudo que é legal é legítimo. A ditadura militar foi legal, mas não foi legítima", diz.
Embora conteste a decisão,
Sena Madureira evita bater de
frente com o conselho da Bienal e seus membros. Mas faz
uma crítica: a assiduidade dos
conselheiros nas reuniões.
"É uma pena para o conselho
que, no seu cotidiano, não haja
tanta participação. Sinto falta
de um maior debate", diz. Sena
Madureira afirma que, desde
que é conselheiro, há mais de
dez anos, poucas vezes, a não
ser nas crises, viu mais de 30
conselheiros em uma reunião.
Daí porque o editor sustenta
que o conselho da Bienal precisa de renovação: "Os últimos
presidentes têm falado sobre a
necessidade de renovação do
conselho nesse sentido de uma
maior participação, maior presença. É uma necessidade".
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