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Enrique Diaz roda a Europa com Lispector
À frente de 13 atores, diretor coordena a 18ª edição do projeto École des Maîtres
Depois de passar pela Bélgica, montagem de "Perto do Coração Selvagem" será apresentada na Itália e em Portugal
Joana Pupo/Divulgação
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A portuguesa Maria João Pinho e a italiana Corinne Castelli atuam em "Perto do Coração Selvagem", dirigida por Enrique Diaz
DANIELA ROCHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BRUXELAS
Quatro semanas para elaborar um espetáculo com um
elenco de 13 atores vindos da
Bélgica, França, Portugal e Itália. Esta foi a proposta aceita
pelo diretor teatral peruano radicado no Brasil Enrique Diaz,
41: coordenar a 18ª edição da
École des Maîtres (Escola dos
Mestres), um curso de formação teatral avançada a atores
profissionais europeus na faixa
de 24 a 32 anos.
Aos atores, Diaz lançou o desafio de pesquisar o universo da
escritora Clarice Lispector e, a
partir dele, trazer elementos de
cena, idéias, sensações. Apresentado no Théâtre Varia, em
Bruxelas, no último sábado, o
espetáculo "Perto do Coração
Selvagem" será visto hoje no
Teatro Quirino de Roma e, na
sexta-feira, no Teatro Nacional
D. Maria, em Lisboa.
Para a montagem do que chama de "demonstração pública
dos alunos", Diaz utilizou a técnica de viewpoints (desenvolvida por Anne Bogart, diretora
artística da SITI Company, de
Nova York), com improvisação
dos atores, de forma intuitiva, e
de Tadashi Suzuki, que explora
o equilíbrio físico. O resultado é
uma encenação em que Lispector tem presença marcante,
mesmo com raras menções literais de sua obra.
"Passamos duas semanas
sem saber onde estávamos. Parecia uma "caixa de pandora".
Nos dez últimos dias, estruturamos o espetáculo a partir dos
trechos que os atores elaboraram. Foram eles que criaram rigorosamente tudo, de forma
honesta e generosa", explica o
diretor, que conta sobre o processo de construção do espetáculo, em que os próprios atores
se reciclavam, se apropriavam
de trechos de outros do grupo.
"De repente, o que um ator
havia descrito nas discussões,
era dito em primeira pessoa
por outro, dando vida ao espetáculo", afirma Diaz. Segundo o
diretor, este trabalho propõe
buscar novas poéticas e formatos por meio de jogos entre os
atores, com combinação de
narrativas pessoais e urbanas,
exploração da voz e do corpo.
Ligação Lispector
Para um dos fundadores da
École des Maîtres e diretor do
Centro de Pesquisa e de Experimentação em Pedagogia Artística, Serge Rangoni, 49, o sucesso desta edição está justamente no trabalho elaborado
de direção teatral. "Enrique
Diaz se deparou com uma Europa que não é unida culturalmente. Ele conseguiu uma
construção coletiva sem abrir
mão do individual. Trouxe uma
urbanidade que destaca a singularidade da pessoa, da sua
identidade cultural", diz.
Rangoni acredita que a escolha de Clarice Lispector tenha
sido muito feliz. "Ela é uma autora que faz a ligação entre o
Brasil e a Europa. É sensível e
complexa ao mesmo tempo."
Uma das atrizes que se destacam na montagem, a belga Florence Minder, 26, não conhecia
a obra de Lispector antes de integrar o elenco de Diaz. "É uma
escritora moderna, que trata o
universo feminino de forma
muito agradável. Para mim, foi
uma descoberta."
Segundo a atriz, o diretor tem
um papel fundamental na escolha do que os atores fazem.
"Com o diretor, tudo muda e vira uma criação coletiva mesmo." Ela afirma que a técnica
de viewpoints tem regras, justamente para permitir a liberdade de criação. "Não sabemos
como será o próximo espetáculo. Mas essa incerteza é parte
da proposta."
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