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VENEZA
"Julien Donkey-boy", segundo filme dirigido pelo roteirista de "Kids", é exibido em mostra paralela
Korine leva Dogma ao cinema dos EUA
AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza
Revelado aos 19 anos como roteirista de "Kids", Harmony Korine é tão petulante quanto talentoso. "Julien Donkey-boy", seu segundo filme como diretor, exibido na mostra paralela Cinema do
Presente, levou o movimento
Dogma 95 ao cinema americano.
Lançado por cineastas dinamarqueses em Cannes 98, o Dogma defende filmes realistas e livres de artifícios. Um de seus líderes, Lars von Trier, convidou Korine a rodar um filme "dogmático". O jovem cineasta não pestanejou em se converter.
"Julien" é o sexto filme a obter o
certificado do Dogma. Como em
"Festa de Família", concentra-se
sobre uma família problemática.
Seu protagonista é um jovem
mentalmente perturbado, o esquizofrênico Julien (Ewen Bremner, de "Trainspotting"), como
em "Os Idiotas" e "Mifune".
Apesar dos pesares, é Julien que
ainda mantém a coesão familiar
depois da morte da mãe. O pai é
um nazistóide vivido por Werner
Herzog. O irmão de Julien sonha
em se tornar um profissional da
luta livre. Sua irmã, interpretada
por Chloe Sevigny, casada com
Korine, não revela o nome de
quem a engravidou. A revelação
de que se tratou de uma relação
incestuosa faz sentido no vale-tudo de seu universo.
Auxiliado pelo diretor de fotografia de "Festa", Anthony Dod
Mantle, Korine explorou exaustivamente as possibilidades de trucagem na câmera estimuladas pelo Dogma. Rodando em vídeo e
ampliando o material para 16 mm
e depois para 35 mm, buscou a
textura granulada das imagens
caseiras em super-8. Algo repetitivo, apesar de durar apenas uma
hora e meia, "Julien" é a produção
do Dogma que mais ousa em experimentos com som e imagem.
De camiseta azul e calça cáqui,
Korine, 25, falou sobre "Julien" a
um grupo de cinco jornalistas no
Hotel Des Bains, do Lido veneziano. Leia abaixo uma síntese das
respostas que deu à Folha.
Folha - Por que a conversão ao
Dogma?
Harmony Korine - Dogma é
uma ação de resgate do cinema,
visando salvá-lo. É uma reação ao
fracasso da novas ondas dos anos
60, um movimento romântico e
burguês de "autorismo", com exceção de Godard. Todo mundo
deveria fazer ao menos um filme
seguindo o Dogma. É uma purificação por meio do cinema. Quis
me tornar um cineasta graças aos
filmes de Buster Keaton, Bresson,
Godard, Fassbinder, Ozu, Dreyer.
Esses cineastas foram substituídos por artificialidade.
Folha - É Dogma ou nada?
Korine - Não, não penso assim.
Acho que é o mais importante
movimento desde a "nouvelle vague" dos anos 60. A cada momento, há apenas dois ou três diretores tentando empurrar a forma
para frente ou fazer algo novo.
Nos EUA, não tenho amigos entre
os cineastas. Não sou um diretor
independente, sou um cineasta
comercial, faço filmes para as pessoas verem. É mais na linha do
que faziam John Cassavetes e Sam
Peckinpah do que dos atuais cineastas. Queria fazer esse filme
antes de Lars (von Trier) e Thomas (Vinterberg) me telefonarem. Achei importante fazer parte
deste momento particular.
Folha - Como foi rodar dentro
das regras?
Korine - Não havia um roteiro.
Improvisamos a partir de cenas.
Usei 13 câmeras por vez. Coloquei
câmeras ocultas em todos os atores. Queria fazer um monte de
coisas que não fizeram nos outros
filmes do Dogma, mas tinha que
fazê-las de maneira orgânica.
Queria muita música, mas tinha
que tocá-la nos bastidores. Tudo
que é feito com a câmera rodando
é permitido.
Folha - Qual dos filmes do
Dogma é seu preferido?
Korine - Prefiro "Festa de Família" como filme; cinematograficamente é o mais bem resolvido.
Mas prefiro "Os Idiotas" como
experiência.
Folha - Seu próximo filme seguirá o Dogma?
Korine - Não, da mesma forma
que não o seguem os novos filmes
de Lars e Thomas, mas posso voltar ao Dogma para me purificar.
Estou há três anos rodando
"Fighting Harm", em que provoco as pessoas que encontro na
rua.
O crítico Amir Labaki viajou a convite da organização do festival.
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