São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2007

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Violência do Rio vira exposição em Paris

ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE PARIS

Entrar com pneus em um país europeu é tarefa quase impossível. O controle é rigoroso, mas não ao ponto de impedir que o fotógrafo carioca Rogério Reis montasse em Paris sua peça "Microondas".
A instalação, que será exibida a partir de hoje na Maison Européenne de la Photographie, é formada por cerca de 30 pneus, a maioria recheados de imagens que evocam a violência urbana nas grandes cidades brasileiras. A obra é uma referência ao método hediondo utilizado por traficantes do Rio de Janeiro que improvisam, com pneus, crematórios para assassinar seus inimigos sem deixar vestígios.
Em "Microondas", as imagens adquirem contornos arredondados para serem apresentadas dentro de pneus, empilhados no chão. "Um meio de dar uma embalagem contemporânea a uma proposta documental", explica Reis. A instalação é formada por uma série de fotos em preto-e-branco, produzidas em reportagens sobre violência realizadas nos anos 80, e por uma série colorida, resultado de uma performance com pneus em chamas. Algumas das imagens expostas em Paris foram feitas em parceria com o jornalista Tim Lopes, assassinado pelo método "microondas" no Rio em 2002.
Segundo o curador francês da Bienal para o Brasil, Jean-Luc Monterosso, diretor da Maison Européenne de la Photographie, Reis é um fotógrafo engajado socialmente. "Esse registro de testemunha é importante para a criação contemporânea atual, muitas vezes excessivamente interessada por temas banais", afirma.
A mostra do fotógrafo carioca antecipa a programação da primeira edição da Photoquai, que tem início no dia 30 de outubro. A mais nova bienal francesa dedicada à criação visual contemporânea foi idealizada pelo Museu do Quai Branly. "Queremos traçar um panorama da criação contemporânea mundial e revelar artistas de países não ocidentais ainda pouco conhecidos do público europeu", explica o presidente do Museu, Stéphane Martin.
Ao todo, são mais de 80 artistas de cerca de 40 países. Depois da China, o Brasil é, junto com o Irã, o país com o maior número de representantes.
As principais exposições da Photoquai serão realizadas às margens do Rio Senna, mas outras mostras poderão ser vistas em instituições parceiras do festival. Além do trabalho de Reis, a bienal traz imagens dos fotógrafos brasileiros Luiz Braga, Lúcia Guanaes, Numo Rama, João Wainer, Iatã Cannabrava e o coletivo Cia de Foto.


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