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Violência do Rio vira exposição em Paris
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE PARIS
Entrar com pneus em um
país europeu é tarefa quase impossível. O controle é rigoroso,
mas não ao ponto de impedir
que o fotógrafo carioca Rogério
Reis montasse em Paris sua peça "Microondas".
A instalação, que será exibida
a partir de hoje na Maison Européenne de la Photographie, é
formada por cerca de 30 pneus,
a maioria recheados de imagens que evocam a violência urbana nas grandes cidades brasileiras. A obra é uma referência
ao método hediondo utilizado
por traficantes do Rio de Janeiro que improvisam, com pneus,
crematórios para assassinar
seus inimigos sem deixar vestígios.
Em "Microondas", as imagens adquirem contornos arredondados para serem apresentadas dentro de pneus, empilhados no chão. "Um meio de
dar uma embalagem contemporânea a uma proposta documental", explica Reis. A instalação é formada por uma série de
fotos em preto-e-branco, produzidas em reportagens sobre
violência realizadas nos anos
80, e por uma série colorida, resultado de uma performance
com pneus em chamas. Algumas das imagens expostas em
Paris foram feitas em parceria
com o jornalista Tim Lopes, assassinado pelo método "microondas" no Rio em 2002.
Segundo o curador francês
da Bienal para o Brasil, Jean-Luc Monterosso, diretor da
Maison Européenne de la Photographie, Reis é um fotógrafo
engajado socialmente. "Esse
registro de testemunha é importante para a criação contemporânea atual, muitas vezes excessivamente interessada por temas banais", afirma.
A mostra do fotógrafo carioca antecipa a programação da
primeira edição da Photoquai,
que tem início no dia 30 de outubro. A mais nova bienal francesa dedicada à criação visual
contemporânea foi idealizada
pelo Museu do Quai Branly.
"Queremos traçar um panorama da criação contemporânea
mundial e revelar artistas de
países não ocidentais ainda
pouco conhecidos do público
europeu", explica o presidente
do Museu, Stéphane Martin.
Ao todo, são mais de 80 artistas de cerca de 40 países. Depois da China, o Brasil é, junto
com o Irã, o país com o maior
número de representantes.
As principais exposições da
Photoquai serão realizadas às
margens do Rio Senna, mas outras mostras poderão ser vistas
em instituições parceiras do
festival. Além do trabalho de
Reis, a bienal traz imagens dos
fotógrafos brasileiros Luiz Braga, Lúcia Guanaes, Numo Rama, João Wainer, Iatã Cannabrava e o coletivo Cia de Foto.
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