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Última Moda
ALCINO LEITE NETO, em Paris - ultima.moda@grupofolha.com.br
Corpo é o novo luxo em Paris
Em tempos de contenção econômica, grifes e estilistas da semana de moda francesa apostam em formas ultrassensuais
Tudo seguia sem surpresas
no desfile da grife Viktor &
Rolf, quando, de repente, as
modelos começaram a entrar
na passarela com roupas gigantescas. Eram feitas de metros e
mais metros de tule compactados, parecendo blocos inteiriços de pano, enormes esculturas de tecido de formas circulares, em que os estilistas fizeram
buracos oceânicos e recortes
impiedosos, produzindo uma
visão impressionante -tanto
bela quanto absurda.
Foi uma dupla provocação da
Viktor & Rolf na semana de
moda de Paris, que terminou
ontem. Primeiramente, por
gastar tanto pano numa época
de economia recessiva. Em segundo lugar, por relembrar que
a moda é também feita de risco
e de experimentação. "As pessoas não param de falar em cortes, em redução de orçamento...
Nós pegamos isso ao pé da letra", ironizaram os estilistas.
Habitualmente mais aberta à
inventividade, Paris desta vez
puxou em geral o freio da criatividade descontrolada - a grife
Viktor & Rolf foi exceção.
O cabresto colocado nos estilistas, porém, não implicou em
timidez do design nem em perda de glamour. Ao contrário, a
recessão teve até seu lado útil:
trouxe o prêt-à-porter um tanto de volta à Terra. Como ocorreu em Milão, as maisons miraram realisticamente o desejo
das mulheres, se esforçando
por mostrar criações de apelo
irresistível, embora sem o luxo
e a ousadia de outros tempos.
Nem todas conseguiram. A
Emmanuel Ungaro, por exemplo, que acaba de contratar a
"starlette" Lindsay Lohan como consultora, afundou-se
completamente no déjà-vu.
"Irresistível", em Paris, não
implica em repisar lugares-comuns e evocar imagens banalizadas na TV e nas ruas. É preciso algo mais: inteligência para
acrescentar -mesmo com o orçamento reduzido- novidade,
interesse e alguma invenção
aos looks. Tudo isso, sem jamais botar em risco o padrão de
elegância exigido na fashion
week mais famosa do mundo.
Foi essa alquimia que conseguiram fazer a Chanel, a Dior, a
Lanvin, a Givenchy e a Balenciaga, para citar os principais
desfiles exibidos nesta temporada da primavera-verão 2010.
Inspirada em temas campestres, a Chanel mostrou uma de
suas coleções mais bonitas nos
últimos anos. O desfile no
Grand Palais foi uma verdadeira festa chique na roça, do cenário (um vasto depósito de feno)
ao microshow da cantora britânica Lily Allen.
Muito idílica, de cores suaves
e formas delicadas, a coleção,
porém, não é nostálgica. É decididamente contemporânea,
versátil e também apimentada,
seguindo a palavra de ordem da
temporada: é preciso ser sexy.
As grifes hesitaram em firmar imagens juvenis ou adultas
das mulheres. Na Chanel, prevaleceram as primeiras. Mulheres mais fortes dominaram
a Dior, que se inspirou nas
"femmes fatales" do filme policial noir, e na Lanvin, com sua
coleção passional e primorosa.
Apesar dessa hesitação, entre
o jovial e o adulto, a semana de
Paris esteve centrada na busca
de uma feminilidade menos
tensa e neurótica do que a proposta na estação passada.
Daí a ênfase em silhuetas soltas e diáfanas, em looks alegres
feitos com tecidos vaporosos,
muitas vezes transparentes (e
algumas evocações do estilo
hippie dos anos 70). Assim,
também as calças vieram sobretudo folgadas (há exceções,
como os desfiles da Balenciaga
e da Balmain).
Isso não significou o desaparecimento total de formas mais
estruturadas. Em contraposição à fragilidade transmitida
pelas roupas leves, apareceram
ombros fortes e realçados, cinturas marcadas, elementos
masculinos e temas construtivos (a Givenchy fez sua bela coleção baseada em losangos e ziguezagues; Hussein Chalayan
se baseou na estrutura do smoking; a Balenciaga explorou
com brilho as geometrias).
Na decoração e nas estampas, a temporada é sobretudo
dos motivos florais, mas as referências "étnicas" permanecem para o próximo verão -como na poética coleção de Issey
Miyake. As cores dominantes
foram o "nude" (pele), o bege, o
rosa, o branco e o preto.
Seguindo Milão, Paris confirmou que o verão de 2010 será
radicalmente sensual -com
looks curtos e curtíssimos, fendas ousadas, shorts tipo calcinha, peças inspiradas em lingerie, entre outras malícias. Já
que o luxo está em crise, por
que não exibir esta preciosidade: o próprio corpo feminino?
com VIVIAN WHITEMAN
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