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Walter Franco busca acerto de contas histórico
Artista experimental paulistano, afastado do mercado de música nos anos 80, faz show hoje no Auditório Ibirapuera
Trabalho iconoclasta feito pelo músico nos anos 70 foi influência para "Araçá Azul", álbum menos comercial
de Caetano Veloso
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O show que Walter Franco
faz nesta noite no palco do Auditório Ibirapuera pode ser o
começo de um acerto de contas.
O passo fundamental em direção à redescoberta -e ao redimensionamento- da obra
mais radicalmente experimental que a música popular do
Brasil já conheceu.
Ele pode entrar, finalmente,
no movimento que vem trazendo de volta, desde meados dos
anos 90, artistas como Tom Zé
e Jorge Mautner -outros afastados do mercado de música na
segunda metade da década de
80 porque considerados "pouco comerciais".
Walter Franco não lança um
novo álbum desde o quase secreto "Tutano", de 2001. O anterior, "Walter Franco", é de
1982. Parece absurdo pensar
que, em 1978, chegou a reunir
quase 150 músicos para a gravação de um único LP.
Sim. Espalhados em suas 10
faixas, "Respire Fundo" contava com participações de João
Donato, Zé Ramalho, Sivuca,
Lulu Santos, Lobão, Geraldo
Azevedo, Wagner Tiso, Elba
Ramalho, Altamiro Carrilho,
membros das bandas A Cor do
Som e O Terço, e ainda os ex-Mutantes Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, entre muitos.
Tal credibilidade foi conquistada em 1972, quando Franco
surgiu, no Festival da Globo,
defendendo a iconoclasta "Cabeça" -um poema concreto sonoro que desfazia qualquer
possibilidade de canção.
Caetano Veloso ouviu aquilo
e, no mesmo ano, respondeu
com "Araçá Azul", fracasso comercial de que mais se orgulha.
Caetano, no entanto, não esconde certa "inveja" (palavra
dele) de Walter Franco e sempre diz que "Ou Não", a pedra
fundamental do paulistano lançada em 1973, resultou muito
melhor resolvido que seu araçá.
Gravado no estúdio Eldorado
nos últimos meses de 1972, "Ou
Não" é, ainda hoje, um dos álbuns mais revolucionários da
história da música popular brasileira. A mosca solitária impressa no meio de sua capa
branca dá a dica: esse negócio
foi feito para incomodar.
Franco lembra que bateu recorde de tempo em estúdio,
"mais de 130 horas" -sempre
sob os olhos do maestro Rogério Duprat, que assina como diretor de gravação.
Ainda que pouco palatáveis
ao gosto do público de rádio, algumas faixas deste álbum -e
de seu sucessor, "Revolver"
(1975)- seriam regravadas depois por nomes da corrente
central da MPB, como Chico
Buarque ("Me Deixe Mudo") e
Wanderléa ("Feito Gente").
Mas nada que pudesse manter
Franco no foco do público por
muito tempo.
Ainda assim, ele continua vivendo de música. Faz shows de
voz e violão, principalmente no
circuito Sesc.
Para o Ibirapuera, vem com
banda completa, mais cinco
músicos -incluindo o filho
Diogo Franco, que está prestes
a lançar um trabalho autoral.
Vai fazer um apanhado de toda
a carreira e mostrar o que compôs desde que parou de gravar.
"Agora que coloquei a cabeça
de novo para fora, pretendo
reeditar meus álbuns antigos,
gravar um novo, só de canções
inéditas, e seguir fazendo
shows", ele diz. "Não vou negar
fogo logo agora."
WALTER FRANCO
Quando: hoje, às 21h
Onde: Auditório Ibirapuera (av. Pedro
Álvares Cabral, s/nº, portão 2 do Parque Ibirapuera, tel. 3629-1014)
Quanto: R$ 30
Classificação: livre
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