São Paulo, sexta-feira, 09 de outubro de 2009

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Walter Franco busca acerto de contas histórico

Artista experimental paulistano, afastado do mercado de música nos anos 80, faz show hoje no Auditório Ibirapuera

Trabalho iconoclasta feito pelo músico nos anos 70 foi influência para "Araçá Azul", álbum menos comercial de Caetano Veloso


MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O show que Walter Franco faz nesta noite no palco do Auditório Ibirapuera pode ser o começo de um acerto de contas. O passo fundamental em direção à redescoberta -e ao redimensionamento- da obra mais radicalmente experimental que a música popular do Brasil já conheceu.
Ele pode entrar, finalmente, no movimento que vem trazendo de volta, desde meados dos anos 90, artistas como Tom Zé e Jorge Mautner -outros afastados do mercado de música na segunda metade da década de 80 porque considerados "pouco comerciais".
Walter Franco não lança um novo álbum desde o quase secreto "Tutano", de 2001. O anterior, "Walter Franco", é de 1982. Parece absurdo pensar que, em 1978, chegou a reunir quase 150 músicos para a gravação de um único LP.
Sim. Espalhados em suas 10 faixas, "Respire Fundo" contava com participações de João Donato, Zé Ramalho, Sivuca, Lulu Santos, Lobão, Geraldo Azevedo, Wagner Tiso, Elba Ramalho, Altamiro Carrilho, membros das bandas A Cor do Som e O Terço, e ainda os ex-Mutantes Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, entre muitos.
Tal credibilidade foi conquistada em 1972, quando Franco surgiu, no Festival da Globo, defendendo a iconoclasta "Cabeça" -um poema concreto sonoro que desfazia qualquer possibilidade de canção. Caetano Veloso ouviu aquilo e, no mesmo ano, respondeu com "Araçá Azul", fracasso comercial de que mais se orgulha.
Caetano, no entanto, não esconde certa "inveja" (palavra dele) de Walter Franco e sempre diz que "Ou Não", a pedra fundamental do paulistano lançada em 1973, resultou muito melhor resolvido que seu araçá.
Gravado no estúdio Eldorado nos últimos meses de 1972, "Ou Não" é, ainda hoje, um dos álbuns mais revolucionários da história da música popular brasileira. A mosca solitária impressa no meio de sua capa branca dá a dica: esse negócio foi feito para incomodar.
Franco lembra que bateu recorde de tempo em estúdio, "mais de 130 horas" -sempre sob os olhos do maestro Rogério Duprat, que assina como diretor de gravação. Ainda que pouco palatáveis ao gosto do público de rádio, algumas faixas deste álbum -e de seu sucessor, "Revolver" (1975)- seriam regravadas depois por nomes da corrente central da MPB, como Chico Buarque ("Me Deixe Mudo") e Wanderléa ("Feito Gente").
Mas nada que pudesse manter Franco no foco do público por muito tempo. Ainda assim, ele continua vivendo de música. Faz shows de voz e violão, principalmente no circuito Sesc. Para o Ibirapuera, vem com banda completa, mais cinco músicos -incluindo o filho Diogo Franco, que está prestes a lançar um trabalho autoral.
Vai fazer um apanhado de toda a carreira e mostrar o que compôs desde que parou de gravar. "Agora que coloquei a cabeça de novo para fora, pretendo reeditar meus álbuns antigos, gravar um novo, só de canções inéditas, e seguir fazendo shows", ele diz. "Não vou negar fogo logo agora."


WALTER FRANCO

Quando: hoje, às 21h
Onde: Auditório Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 2 do Parque Ibirapuera, tel. 3629-1014)
Quanto: R$ 30
Classificação: livre




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