Convencional, DVD se salva pelas entrevistas sobre o fundador da Microsoft

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

O soar de trombetas que acompanha o menu inicial da videobiografia de Bill Gates já dá o tom do que será esse vídeo: uma ode ao magnata empreendedor, cofundador da maior empresa de software do mundo e mais rico homem do planeta. O subtítulo do DVD do The Biography Channel -"O Sultão do Software"- corrobora a impressão de que estamos prestes a enfrentar uma travessia idólatra.
As primeiras imagens, então, servem para explicitar o tom grandiloquente. No lançamento do Windows 95, o apresentador televisivo Jay Leno, que atua como mestre de cerimônia de luxo, chama o bilionário ao palco e pede aplausos para "Bill Gates e suas gatetes" (a tradução livre é minha; no DVD, está "e suas dançarinas"). Ele faz, então, sua entrada triunfal, e o locutor que vai acompanhar o espectador ao longo dos pouco mais de 40 minutos de vídeo assume seu posto.
A narração também é pomposa e não contribui para dar ao programa um clima documental. Mais parece uma locução de comercial, com tom gongórico. E é ela que toma as rédeas do vídeo, pois esse programa é pouco mais do que uma leitura de legendas de fotos feita em sequência. Do ponto de vista de conteúdo, é quase uma linha de tempo lida em voz alta, com alguns destaques merecendo um pouquinho mais de atenção -em suma, são pinceladas sobre a vida de Gates, que não deixam de fora nenhum ponto importante, mas não trazem informação mais relevante.
O formato é absolutamente convencional: entrevistas são intercaladas com sucessão de fotos com narração em off; de quando em vez, algum vídeo. Dos entrevistados, os que mais aparecem são dois biógrafos de Gates, o que deixa claro o caráter terciário da informação.
Mas não é só chatice. Trechos da entrevista com Bill Gates pai chegam a ser emocionantes e há alguns segundos de vídeos históricos divertidos, mostrando encontro de Gates e Steve Jobs (então um moleque usando gravata borboleta). Ou a aparição de Gates, fantasiado de personagem de ficção científica, em um evento.
A entrevista com a amiga Heidi Roizen traz um tempero extra, pois é dos poucos momentos em que o vídeo se debruça sobre a vida privada do empresário e suas atividades mais particulares na Microsoft -por exemplo, a organização dos Microgames, espécie de olimpíada interna.
Em favor do vídeo, diga-se que não passa ao largo das polêmicas em que Gates se envolveu nem deixa de registrar as acusações feitas a ele e à Microsoft por empresários e pelo governo dos EUA. Mas as descarta como de somenos importância se comparadas à obra do "sultão do software" que, afirma sua videobiografia, "mudou o modo como o mundo trabalha e se diverte".