|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RELÂMPAGOS
Promessa
JOÃO GILBERTO NOLL
No quarto do hotel, ao retirar a colcha atoalhada, tentou
se acalmar. Apenas olhou o
azul-turquesa, como se a cor
naquela substância felpuda
fosse uma superfície desconhecida, mais nobre, quem sabe, bem mais antiga que aquele
pano seboso e enxovalhado,
tocado sabe lá por quem antes
que ele chegasse ali, naquela
tarde chuvosa de um sábado
mais morto que o habitual. Por
que tinha chegado ao ponto de
abstrair do espaço que lhe fora
dado? Por que não suportava
aquele tecido, se aquilo era o
melhor que podia ter ali? Lembrou-se de alguém cujo nome
não lhe vinha. Talvez precisasse apenas puxar a colcha para
que sua memória pudesse se
materializar sobre o lençol.
Pois puxou-a. Do lençol encardido vinha o nome, enfim. E
ele se deitou, como se ao encontro...
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Literatura: Margaret Atwood é nova dona da Inglaterra Índice
|