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MÚSICA
Show com ligação clandestina em acampamento no interior do Estado encerra a turnê do músico no Brasil
Manu Chao se apresenta para sem-terra no Ceará
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OCARA
O músico francês Manu Chao
encerrou sua turnê pelo Brasil
com uma apresentação em um
acampamento de sem-terra no
interior do Ceará, onde é praticamente desconhecido, mas todos
dançaram e gostaram do que viram e ouviram.
As 30 famílias que vivem no
acampamento -cerca de 150
pessoas- foram escolhidas para
acompanhar de perto o show improvisado, num palco enfeitado
com lençóis coloridos e bandeiras
do MST e do Brasil. Não foram,
porém, as únicas privilegiadas.
Pelo menos outras 150 pessoas de
fora também foram aproveitar o
show, que não chegou a ser mostrado na capital cearense.
A iniciativa foi do próprio Manu
Chao e é mais um apoio internacional ao MST. O linguista norte-americano Avram Noam
Chomsky e a ativista guatemalteca Rigoberta Menchú, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em
1992, também já divulgaram solidariedade ao movimento.
Dois motivos levaram Manu ao
acampamento Francisco Aldenir
Mesquita, em Ocara (a 94 km de
Fortaleza). O primeiro foi a antiga
vontade do músico de conhecer o
MST e fazer algo para ajudar. O
assassinato, em julho, do agricultor Francisco Aldenir Mesquita,
que dá nome ao acampamento,
comoveu o músico.
O segundo motivo é pessoal.
Manu sempre que pode vai ao
Ceará, porque tem um filho que
vive no Estado.
Toda a família do sem-terra assassinado estava no show. Como
outros companheiros de acampamento, pai, mãe e irmãos nunca
tinham ouvido falar em Manu
Chao. "Agora, sou fã dele. O que
ele está fazendo vai melhorar
muito a nossa vida. Com toda a
certeza", disse Joaquim Mesquita,
59, pai de Francisco Aldenir.
"É engraçado como uma pessoa
de fora tem essa consciência e
vem nos ajudar. Infelizmente, no
Brasil, a maioria das músicas não
quer dizer nada. Manu nem fala a
nossa língua, mas a gente entende
o que ele quer passar", disse a líder do acampamento, Francisca
Maria Aragão. Ela também nunca
tinha ouvido falar no músico.
Nove dos 14 músicos que acompanham Manu em shows normais participaram dessa apresentação especial. Os instrumentos
só puderam ser ligados por um
"gato" (ligação clandestina).
O repertório foi igual ao apresentado no Free Jazz Festival deste ano, em que ele mostrou "Clandestino", seu mais recente CD. No
mundo inteiro, ele já vendeu 2 milhões de cópias.
Do Brasil, parte para o México,
onde fará uma apresentação em
Chiapas para os rebelados do
EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional). "Fiz a minha
parte. É o que faço pelo mundo,
até para respirar. Se eu não tivesse
feito nada, não conseguiria dormir à noite", disse Manu.
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