São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000

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MÚSICA
Show com ligação clandestina em acampamento no interior do Estado encerra a turnê do músico no Brasil
Manu Chao se apresenta para sem-terra no Ceará

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OCARA

O músico francês Manu Chao encerrou sua turnê pelo Brasil com uma apresentação em um acampamento de sem-terra no interior do Ceará, onde é praticamente desconhecido, mas todos dançaram e gostaram do que viram e ouviram.
As 30 famílias que vivem no acampamento -cerca de 150 pessoas- foram escolhidas para acompanhar de perto o show improvisado, num palco enfeitado com lençóis coloridos e bandeiras do MST e do Brasil. Não foram, porém, as únicas privilegiadas. Pelo menos outras 150 pessoas de fora também foram aproveitar o show, que não chegou a ser mostrado na capital cearense.
A iniciativa foi do próprio Manu Chao e é mais um apoio internacional ao MST. O linguista norte-americano Avram Noam Chomsky e a ativista guatemalteca Rigoberta Menchú, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1992, também já divulgaram solidariedade ao movimento.
Dois motivos levaram Manu ao acampamento Francisco Aldenir Mesquita, em Ocara (a 94 km de Fortaleza). O primeiro foi a antiga vontade do músico de conhecer o MST e fazer algo para ajudar. O assassinato, em julho, do agricultor Francisco Aldenir Mesquita, que dá nome ao acampamento, comoveu o músico.
O segundo motivo é pessoal. Manu sempre que pode vai ao Ceará, porque tem um filho que vive no Estado.
Toda a família do sem-terra assassinado estava no show. Como outros companheiros de acampamento, pai, mãe e irmãos nunca tinham ouvido falar em Manu Chao. "Agora, sou fã dele. O que ele está fazendo vai melhorar muito a nossa vida. Com toda a certeza", disse Joaquim Mesquita, 59, pai de Francisco Aldenir.
"É engraçado como uma pessoa de fora tem essa consciência e vem nos ajudar. Infelizmente, no Brasil, a maioria das músicas não quer dizer nada. Manu nem fala a nossa língua, mas a gente entende o que ele quer passar", disse a líder do acampamento, Francisca Maria Aragão. Ela também nunca tinha ouvido falar no músico.
Nove dos 14 músicos que acompanham Manu em shows normais participaram dessa apresentação especial. Os instrumentos só puderam ser ligados por um "gato" (ligação clandestina).
O repertório foi igual ao apresentado no Free Jazz Festival deste ano, em que ele mostrou "Clandestino", seu mais recente CD. No mundo inteiro, ele já vendeu 2 milhões de cópias.
Do Brasil, parte para o México, onde fará uma apresentação em Chiapas para os rebelados do EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional). "Fiz a minha parte. É o que faço pelo mundo, até para respirar. Se eu não tivesse feito nada, não conseguiria dormir à noite", disse Manu.


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