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"IN SPITE OF WISHING AND WANTING"
Labirintos da mente são foco propulsor
Divulgação
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Cena final de "In Spite of Wishing and Wanting", de Wim Vandekeybus, que termina hoje em SP |
ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
D urante seus 110 minutos, o
espetáculo "In Spite of Wishing and Wanting", de Wim Vandekeybus, oferece aos espectadores a chance de renovar seus próprios conceitos sobre dança. Fora
dos parâmetros habituais, esse
coreógrafo belga vem construindo uma linguagem cênica original, ousada e contundente, que
tem gerado não só influências,
mas inúmeros imitadores pelo
mundo afora. Hoje, no teatro Alfa, o grupo dirigido por Vandekeybus, o Ultima Vez, encerra sua
curta temporada brasileira.
Na condição de "outsider" que
não frequentou escolas convencionais de dança, Vandekeybus
inventou sua versão pessoal do
espetáculo total. Em cena, ele faz
da coreografia uma arte de proporções plenas, em que a composição de movimentos extrapola os
corpos dos bailarinos para se estender à orquestração de várias
expressões, seja dança, teatro,
música, literatura ou cinema.
Para Vandekeybus, o instinto
serve como fonte geradora de reações, movimentos e, consequentemente, dança. No início de sua
carreira, as platéias dividiam-se
entre o fascínio e a indignação
frente à interpretação que ele fazia
de tal estímulo. Em "What the
Body Does Not Remember", de
1987, eram os perigos externos representados pelos tijolos que os
bailarinos arremessavam uns nos
outros que desencadeavam os
comportamentos instintivos.
Em "In Spite of Wishing and
Wanting", a relação é inversa.
Com maior densidade, Vandekeybus agora elege os labirintos
da mente como foco propulsor.
Do âmago de cada personagem,
aflora o dilema sobre o que somos
e o que desejamos ser. Para estabelecer contato com os anseios
mais primitivos, Vandekeybus livra-se das vias racionais, penetrando no território do sono.
Dentro da dimensão onírica, ele
proporciona ao público um jogo
teatral estimulante, generoso e
memorável. De início incorporando cavalos, os bailarinos-atores contrapõem os desejos a um
animal integrado à própria natureza, alheio a conflitos.
Ao usar a fala como elemento
capaz de transformar as intenções
do movimento, os intérpretes associam conotações ao como e não
ao que é dito. Além de revelar a
beleza da dança masculina, o
elenco de homens salienta texturas brutas, atenuadas pela música
sensual de David Byrne. Aberto
para inesgotáveis interpretações,
o espetáculo também foge à regra
por incluir o filme sobre o vendedor de gritos, inspirado em Julio
Cortázar. Apesar do tema correlato, que se completa em cena, o
curta-metragem tem identidade
própria, ganhando sentido dentro ou além do palco.
In Spite of Wishing and Wanting
Coreógrafo: Wim Vandekeybus
Quando: hoje, às 21h
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722; tel. 0800-558191)
Quanto: de R$ 20 a R$ 90
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