São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000

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"IN SPITE OF WISHING AND WANTING"
Labirintos da mente são foco propulsor

Divulgação
Cena final de "In Spite of Wishing and Wanting", de Wim Vandekeybus, que termina hoje em SP


ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

D urante seus 110 minutos, o espetáculo "In Spite of Wishing and Wanting", de Wim Vandekeybus, oferece aos espectadores a chance de renovar seus próprios conceitos sobre dança. Fora dos parâmetros habituais, esse coreógrafo belga vem construindo uma linguagem cênica original, ousada e contundente, que tem gerado não só influências, mas inúmeros imitadores pelo mundo afora. Hoje, no teatro Alfa, o grupo dirigido por Vandekeybus, o Ultima Vez, encerra sua curta temporada brasileira.
Na condição de "outsider" que não frequentou escolas convencionais de dança, Vandekeybus inventou sua versão pessoal do espetáculo total. Em cena, ele faz da coreografia uma arte de proporções plenas, em que a composição de movimentos extrapola os corpos dos bailarinos para se estender à orquestração de várias expressões, seja dança, teatro, música, literatura ou cinema.
Para Vandekeybus, o instinto serve como fonte geradora de reações, movimentos e, consequentemente, dança. No início de sua carreira, as platéias dividiam-se entre o fascínio e a indignação frente à interpretação que ele fazia de tal estímulo. Em "What the Body Does Not Remember", de 1987, eram os perigos externos representados pelos tijolos que os bailarinos arremessavam uns nos outros que desencadeavam os comportamentos instintivos.
Em "In Spite of Wishing and Wanting", a relação é inversa. Com maior densidade, Vandekeybus agora elege os labirintos da mente como foco propulsor. Do âmago de cada personagem, aflora o dilema sobre o que somos e o que desejamos ser. Para estabelecer contato com os anseios mais primitivos, Vandekeybus livra-se das vias racionais, penetrando no território do sono.
Dentro da dimensão onírica, ele proporciona ao público um jogo teatral estimulante, generoso e memorável. De início incorporando cavalos, os bailarinos-atores contrapõem os desejos a um animal integrado à própria natureza, alheio a conflitos.
Ao usar a fala como elemento capaz de transformar as intenções do movimento, os intérpretes associam conotações ao como e não ao que é dito. Além de revelar a beleza da dança masculina, o elenco de homens salienta texturas brutas, atenuadas pela música sensual de David Byrne. Aberto para inesgotáveis interpretações, o espetáculo também foge à regra por incluir o filme sobre o vendedor de gritos, inspirado em Julio Cortázar. Apesar do tema correlato, que se completa em cena, o curta-metragem tem identidade própria, ganhando sentido dentro ou além do palco.


In Spite of Wishing and Wanting
    
Coreógrafo: Wim Vandekeybus Quando: hoje, às 21h Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722; tel. 0800-558191) Quanto: de R$ 20 a R$ 90




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