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Mix Brasil destaca "marginal" da Turquia
Famoso no circuito das artes, cineasta Kutlug Ataman retrata o submundo
Em sua 14ª edição, festival acontece de amanhã até o dia 19, em São Paulo, com filmes em cinco salas, festas e atrações musicais
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de cineasta, o turco
Kutlug Ataman, 45, é mais conhecido entre os aficionados de
arte contemporânea. Tendo
participado de mostras importantes como a Documenta, de
Kassel (Alemanha), a Bienal de
Veneza (Itália) e a própria Bienal de São Paulo, em 2002, sua
produção é marcada por dar
voz a personagens muitas vezes
confinados ao submundo, sejam eles homossexuais ou não.
"Os marginais são muito superiores a nós, pois são mais
centrados, mais fortes, apesar
da imprensa caracterizá-los
sem realmente os conhecer",
diz o diretor à Folha.
Sua mais recente produção
para cinema, entretanto, foca
um aspecto nem tanto radical:
a vida de duas adolescentes em
Istambul, Behiye e Handan,
que possuem uma relação intensa, quase apaixonada, mas
não concretizada. Trata-se de
"Duas Garotas em Istambul",
baseado no romance homônimo de Perihan Magden.
O filme é um dos destaques
do 14º Festival Mix Brasil de
Cinema e Vídeo da Diversidade
Sexual, que tem início hoje, para convidados, com a exibição
de "Boy Culture", de Q. Allan
Brocka, no Espaço Unibanco.
A partir de amanhã e até o
dia 19, o Mix se espalha por cinco locais de exibição de São
Paulo e segue depois para outras três cidades, Rio, Niterói e
Brasília. "Duas Garotas" será
exibido na quarta, dia 15, à 1h
da manhã, no Espaço Unibanco. Além de filmes, o festival
conta ainda com uma programação de música em dez clubes da cidade.
Conexão
Curiosamente, foi em São
Paulo que Ataman visitou pela
primeira vez uma bienal, em
1994, na sua primeira vinda à
cidade, das cinco que já realizou. Na época, não imaginou
que, oito anos depois, estaria
exposto no mesmo prédio. "Foi
muito inspirador ver a Bienal",
afirma o artista.
Em 1997, após ter realizado
seu primeiro longa, Ataman
gravou quase oito horas de depoimentos com a cantora de
ópera Semiha Berksoy e as
mostrou, informalmente, para
a curadora Rosa Martinez e, então, foi "descoberto" para as artes plásticas. "Eu comecei a
realizar "Semiha B. Unplugged"
e fiz isso de uma maneira bem
distinta da forma tradicional de
produzir um filme. Eu não sabia realmente o que era aquilo,
e, logo após o término das filmagens, meu parceiro convidou Rosa para um encontro",
afirma Ataman.
Na seqüência, o artista já participou da Bienal de Istambul,
que era organizada por Martinez, e entrou rápido para o circuito das mostras, o que ainda
incluem as respeitadas Serpentine Gallery e Tate, ambas em
Londres, onde exibiu depoimentos distintos, de terroristas
a travestis. "Eu tenho a atenção
voltada para pessoas que sabem transmitir como elas são.
Gosto de mostrar como identidade pode ser formada através
da fala", diz o diretor.
"Antes de tudo, me sinto um
cineasta. O mundo das artes
plásticas não mudou minha
forma de trabalho, apesar de
perceber que são áreas distintas. O cinema é muito mais conservador, enquanto as artes
plásticas, mais livres e abertas
para o contemporâneo", afirma
Ataman.
Em sua nova produção, o cineasta buscou retratar o cotidiano adolescente em Istambul, mas acaba vendo similaridades com São Paulo.
"A cultura brasileira e a turca
são muito parecidas. Ambas
têm ainda uma grande maioria
jovem -os jovens são puros e
sempre têm idéias de risco. É
disso que o filme trata, a partir
de um argumento aparentemente banal, mas de forma romântica", conta o cineasta.
Em suas produções, Ataman
sempre aborda o universo homossexual, sendo ele mesmo
gay assumido desde o início de
sua carreira, em 1993, com "O
Rabo da Serpente".
"Sou conhecido por "abrir
portas" na Turquia, tentar novas possibilidades no país e direcionar as pessoas de forma
sensata. No início de minha
carreira isso até trouxe dificuldades, mas hoje a sociedade
turca é mais dinâmica e não sofro mais preconceitos", diz ainda o diretor.
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