|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Leões e Cordeiros"
Esquematismo e tom professoral minam filme de Robert Redford
Debate sobre política externa dos EUA se dirige diretamente ao público interno
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Se já não fosse perceptível
apenas pelo noticiário, a
tomada de consciência
de parte significativa da sociedade norte-americana em relação às ações do governo Bush
no Oriente Médio poderia ser
detectada graças ao cinema
que, por seus prazos dilatados
de produção, tende a refletir
com certo atraso sentimentos
que se encontram há muito
tempo nas ruas.
Filmes como "Leões e Cordeiros", que entra em cartaz
hoje, e "No Vale das Sombras",
com estréia prevista para o dia
23, demonstram não só o grau
de mobilização de profissionais
da indústria cinematográfica
em torno dos erros da política
externa norte-americana mas
também, e não menos importante, a idéia de que o grande
público do mercado interno estaria pronto a ouvir esse tipo de
discurso.
O que talvez cale fundo por
lá, entretanto, não necessariamente encontra a mesma acolhida fora dos EUA. "Leões e
Cordeiros" ilustra bem as implicações políticas de filmes
norte-americanos que, ao lavar
a roupa suja de casa, se dirigem
prioritariamente a um público
inserido no mesmo cenário -e
que entende a ficção como algo
a respeito de "todos nós". Aqui
no Brasil, são vistos muitas vezes como um problema "deles".
Para amplificar o efeito, Robert Redford (em seu sétimo
longa-metragem como diretor)
adota o tom professoral de sermão, com uma didática envelhecida que, enfraquecida pelo
esquematismo, quase corre o
risco de ser contraproducente.
A responsabilidade deve ser dividida, na pior das hipóteses,
com o roteirista Matthew Michael Carnaham, que assina o
ainda inédito "O Reino", também sobre a intervenção dos
EUA no Oriente Médio.
Três ações paralelas se desenvolvem durante poucas horas. Em Washington, um ambicioso senador republicano
(Tom Cruise) concede entrevista a uma repórter veterana
(Meryl Streep) e parece disposto a lhe contar um segredo de
Estado. No Afeganistão, um
grupo de soldados executa missão perigosa. E, na Califórnia,
um professor (Redford) procura convencer um aluno talentoso, mas desinteressado de suas
aulas, a se dedicar mais ao curso e, no futuro, à vida pública.
As conexões entre os núcleos
se revelam à medida que as histórias se mostram braços de
uma única história e, por extensão, da História, com "h"
maiúsculo. As intenções podem ser as melhores, mas a
execução não faz jus a elas.
LEÕES E CORDEIROS
Direção: Robert Redford
Produção: EUA, 2007
Com: Meryl Streep, Tom Cruise, Robert Redford
Quando: a partir de hoje, no Bristol, Cine TAM e circuito
Avaliação: ruim
Texto Anterior: Crítica/"Antes Só do que Mal Casado": Irmãos Farrelly levam seu humor amoral ao casamento Próximo Texto: Crítica/"Mandando Bala": Com influência de Tarantino, thriller abusa da crueldade Índice
|