São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

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CANTORAS de bolso

Elas fazem sucesso se apresentando para platéias seletas e sonham com o dia em que serão descobertas pela multidão

Eder Medeiros/Folha Imagem
Anna Gelinskas faz estilo cabaré no palco

Anna Gelinskas chega ao restaurante Capim Santo, nos Jardins, de vestido, meia-calça e sapatos de salto pretos. Tira um CD da bolsa. "Vai cantar uma ou duas músicas?", pergunta Junior Alexandre, coordenador de eventos do local. "Hoje eu trouxe três. Duas no estilo cabaré e uma mais "Aãããuuunnn!!", mais pop", responde a cantora, uma das mais requisitadas no mercado de pocket shows (em tradução literal, "shows de bolso"): apresentações curtas em festas badaladas, num circuito que vai de casamentos a desfiles.

 
A loura de 29 anos, 100 cm de busto e 11 tatuagens foi contratada para cantar no aniversário de Adriana Drigo, uma das sócias do Capim Santo. "Fiz uma festa deles no ano passado. Hoje, pediram um pocketzinho mais simples, com microfone e playback pré-gravado, coisa rápida", diz. "Mas tenho vários produtos, com big band, quarteto." Para o pocket com playback, Ana cobra entre R$ 1.000 e R$ 1.500. O valor sobe de acordo com o formato da apresentação, mas não é fixo. "Um amigo já pagou R$ 30 mil para eu cantar uma música."
 
Versão VIP das apresentações em barzinhos dos anos 80 e 90, o pocket show é, muitas vezes, a plataforma para vôos mais altos -ou para tornar mais conhecido o nome da cantora. Com 45 anos de idade e 24 de palco, Izzy Gordon apareceu em jornais e revistas em 2006, quando foi contratada para fazer um show particular de MPB para o cantor Bono, do U2.
 
Na época, ela já tinha até gravado o disco "Aos Mestres com Carinho", em homenagem a sua tia, a cantora Dolores Duran. "Um dos diretores do Hyatt [local da apresentação] ouviu o CD e me contratou para esse show", diz ela, que teve medo de perder a voz diante do astro. "Eu ainda estava testando o som quando ele entrou, batendo palmas. E ainda trouxe o [produtor] Quincy Jones de braço dado com ele!" Izzy lembra que cantou "pisando em ovos", mas, no final, fez até um dueto com Bono, em "I've Got You Under My Skin". E ganhou dele uma garrafa de champanhe, para brindarem ao show.
 
Rápido no gatilho, o marido e produtor de Izzy, Edu Silva, reajustou o cachê da moça em 50% depois disso. Hoje, ela cobra cerca de R$ 3.000 para uma participação "de duas, três músicas" no show de outro artista e R$ 7.000, em média, para as próprias apresentações. Na lista de clientes, empresas como Honda e Pfizer e uma trilha incidental para a Citroën, interpretando a música "At Last" no comercial de carro estrelado pelo ator Kiefer Sutherland. Também já cantou na casa de Ana Paula Padrão e, recentemente, no casamento da jornalista Rosana Jatobá, da Globo. Antes da entrevista, Izzy folheava um exemplar da revista "Caras", em busca de fotos suas em algum evento.
 
A curitibana Geanine Marques, 36, entrou no mercado de pocket shows quando veio para São Paulo, no início dos anos 90. Os sete integrantes de sua banda se dispersaram e ela teve que se adaptar à carreira solo. Com a ajuda do produtor George Freire, montou um repertório de "jazzinho e bossa nova para eventos".
 
Mais conhecida como "musa de Alexandre Herchcovitch", pelas participações nos desfiles do estilista, ela diz que "sempre quis cantar" e que "a moda é que apareceu por acaso". Em 1994, na fase pré-São Paulo Fashion Week, foi chamada por Paulo Borges para subir às passarelas de Herchcovitch e de Walter Rodrigues. "Aí não deixei mais de fazer."
 
O repertório mudou de lá para cá -desde novembro de 2007, ela é vocalista da banda Stop Play Moon, de música eletrônica-, mas Geanine continua requisitada pelos descolados. No mês passado, cantou após os desfiles de um evento de moda em Curitiba e abriu as apresentações da dupla belga Vive la Fête em SP e no Rio. No final de setembro, tocou no coquetel de lançamento do iPhone da Vivo -aquela festa em que famosos da música e da TV fizeram fila para tentar ganhar o aparelho. "Prefiro minha parte em dinheiro", diz.
 
Dinheiro, em alguns casos, não é preocupação. Filha do empresário francês Alain Aouizerate e de Fernanda Sodré, headhunter de moda, Lorrah Wizz, 19, mora no Jardim Europa em uma casa com três carros na garagem e onde a empregada trabalha de uniforme. Ela nasceu em Paris, veio para SP com poucos meses de vida e morou dos oito aos 16 anos na França, onde começou a estudar canto lírico e a se apresentar em eventos de amigos. Na volta ao Brasil, entrou no circuito de bares e passou a ser chamada para festas fechadas.
 
Fluente em inglês e francês, Lorrah se especializou no repertório de Edith Piaf e Billie Holiday. Além de clubes de jazz, já subiu ao palco em eventos da Daslu, da Bulgari e do joalheiro Pedro Brando, com cachê médio de R$ 6.000. "Faço também missa de sétimo dia e casamento, mas só quando conheço os noivos", diz. "Casamento por casamento eu não gosto, porque é como botar um CD para tocar. Olho ao redor e ninguém está me vendo. Não tem nada pior. A gente tem que cantar alto, para chamar a atenção." Lorrah está dando um tempo: foi fazer cursos de arte dramática na França -ela também é atriz, assim como Anna Gelinskas e Bibba Chuqui, que está em cartaz em SP com o musical infantil "Peter Pan".
 
Bibba, 40, chegou a aparecer na TV entre 2003 e 2004, como caloura do "Programa Raul Gil", mas já tinha no currículo peças como "Bacantes", no teatro Oficina, e contatos na noite. "Fiz a inauguração da casa da Cláudia Raia e do Celulari e o casamento do Roberto Justus com a Adriane Galisteu", diz, abrindo uma lista que também inclui empresas como a Natura e a agência Y&R.
 
No futuro das cantoras, além da temporada de fim de ano -quando fazem até três eventos por dia-, vários projetos. Izzy Gordon vai gravar o segundo disco em breve. Incentivada por Ana Cañas, que ficou conhecida nos pockets antes de lançar o elogiado álbum "Amor e Caos", Bibba também quer o seu. Mas as festas fechadas continuarão na agenda. "Se Deus quiser, vou fazer pocket até quando for bem famosa", diz Anna Gelinskas. "Aí é que vou ganhar dinheiro mesmo."

Frases

"Faço casamento, mas só quando conheço os noivos. É como botar um CD para tocar. Olho ao redor e ninguém está me vendo. Não tem nada pior"
LORRAH WIZZ
cantora

"Se Deus quiser, vou fazer pocket até quando for bem famosa. Aí é que vou ganhar dinheiro mesmo"
ANNA GELINSKAS
cantora

Reportagem DIÓGENES CAMPANHA



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