São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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crítica

Ruim e ideológico, longa consagra estética da TV

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Há um bom princípio, em "Romance": observar a contaminação do teatro pela TV no Brasil (na trama, jovem atriz aceita trocar o anonimato do teatro pelas novelas).
A questão existe, de fato, e reflete-se no estilo de interpretação quase insuportável, porém freqüente nos nossos palcos, em que à idéia geral de que teatro consiste de gritos e gesticulação excessiva juntou-se a autocomplacência criada pelo êxito na TV.
Aos poucos, porém, percebemos que Guel Arraes não vê na TV algo daninho. A ridicularização das novelas mostra-se apenas um pretexto para melhor demonstrar que as relações ali são mais complexas -e até criativas. Ou seja, o filme discute, ou finge discutir, as relações entre uma arte "pura", mas que não fala a ninguém, e outra "impura", que fala a muitos, e explora o território das relações entre representação e verdade. Tudo amarrado pelo paralelo maníaco entre "vida real" (a ficção do filme) e "Tristão e Isolda" (a peça encenada de início).
Se no nível das idéias o filme avança para o macete puro e simples, no da encenação caminha para uma espécie de ressurreição do estilo Vera Cruz, ou de algo tão antiquado quanto. Se no roteiro boas idéias se alternam com falatório inútil, no setor interpretação os vícios da TV atacam o elenco em peso (exceção: Wagner Moura).
As voltas, os circunlóquios, a desgastada aproximação de clássico e moderno (saudade de "Carnaval Atlântida", de J.C. Burle) levam à consagração da estética de TV no teatro (ver cena final) e à vitória do bom senso sobre a paixão.
Desde os tempos do CPC (Centro Popular de Cultura), não se via nada tão carregado de ideologia.

ROMANCE
Direção: Guel Arraes
Quando: estréia na próxima sexta-feira
Classificação: não indicado a menores de 12 anos
Avaliação: ruim



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