|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/gastronomia
Livro de Atala sintetiza cozinha nacional
Nas mais de 500 páginas de "Escoffianas Brasileiras", o chef cria bê-á-bá capaz de entreter e armar de estudantes a profissionais
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Pode parecer meio cedo,
mas o chef Alex Atala,
autor de outras obras
tanto de receitas quanto de reflexões sobre a cozinha brasileira, já parece propor-se a se
instalar no panteão dos grandes nomes da cultura gastronômica e brasileira.
É assim que seu mais recente
livro se intitula "Escoffianas
Brasileiras". Em duas palavras,
o título, adaptado das "Bachianas Brasileiras", de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), remete
a nomes de gênios como Bach
(1685-1750), o próprio Villa-Lobos e Auguste Escoffier
(1846-1935), o chef francês que
codificou muito das receitas,
das técnicas e dos métodos da
cozinha tradicional de seu país
com um viés modernizador,
numa grande obra.
Pretensão ou atrevimento? O
chef responde, no próprio livro:
"Além de atrevido, também me
considero abusado". E faz bem.
Poucos chefs no Brasil têm
conseguido realizar o trânsito
que Atala costura entre as técnicas clássicas, a vanguarda
atual, os ingredientes brasileiros e, por último, mas não menos importante, o pensamento
conceitual.
Articulando produtores caboclos, grandes chefs europeus,
pensadores brasileiros e o público gourmet e seduzindo cada
um com suas sínteses que, ao
fim e ao cabo, saem menos pelas palavras do que no prato.
Pois é pelo prato que se manifesta o percurso. E, nesse
sentido, o "Escoffianas Brasileiras" sintetiza seu valor pelas
receitas. Elas são distribuídas
ao longo das três partes do livro: "Aprendizado", "Sonho" e
"Realidade", nas quais, revendo
sua própria trajetória, sua própria formação e consolidação
como um líder de fato de sua
categoria, Atala procura pôr à
mesa, para o público, os resultados de sua visão de mundo.
E essa visão é a da busca por
uma gastronomia brasileira,
cujas bases, até onde amadureceu a questão, ele expõe. E,
mais uma vez, expõe dando a
faca e o queijo a quem se interessar. O livro explica técnicas e
produtos, percorre um bê-á-bá
capaz de entreter e armar desde estudantes da área até profissionais. Ele vai de aspectos
da fisiologia do gosto aos caldos
básicos, passando até por instruções ingênuas e francamente dispensáveis -como as que
constam do item "recebendo
amigos" ("Tenha sempre um
sorriso no rosto" e por aí vai).
E, ao longo de mais de 500
páginas preenchidas em letras
grandes e belas fotos de Cássio
Vasconcellos, estão as receitas.
As sínteses de sua modernidade apoiada na alma e nos ingredientes brasileiros. Pimenta
cambuci com pupunha e coalhada. Cupim com purê de pequi. Cavalinha e ovas ao vapor
de cachaça. Ambrosia e sorbet
de cambuci. Royal de banana-passa com sorvete de coco. E, se
falamos de Brasil, com sua multiculturalidade, cabem espaguete ao alho e óleo, por exemplo, ou a brandade de bacalhau
com feijão-preto e couve e, ainda, o sorbet de jabuticaba e wasabi. "Escoffianas Brasileiras" é
uma obra para refletir e, ainda
por cima, para cozinhar.
ESCOFFIANAS BRASILEIRAS
Autores: Alex Atala e Carolina
Chagas
Editora: Larousse
Quanto: R$ 249 (528 págs.)
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Crítica Ruim e ideológico, longa consagra estética da TV Próximo Texto: Livro reúne 60 poemas escritos com os olhos Índice
|