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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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Por meio de ONG, nova geração de diretores conquista espaço e dribla obstáculos para a produção livre no Irã

Tela vendada

ALESSANDRA MELEIRO
ENVIADA ESPECIAL A TEERÃ

A produção cinematográfica nacional se transformou numa preocupação delicada para o governo do Irã. Mas, como as reformas no âmbito político se dão com extremo vagar, a solução encontrada por uma nova geração de diretores foi justamente deixar o governo um pouco de fora -e assim conseguir a autonomia necessária para expor seus temas.
Seus filmes se tornaram viáveis graças à criação da ONG Independentes do Irã, em 1995, maximizando o potencial individual de produção dos filmes. Essa organização se firmou como o mais vigoroso centro de produção de documentários com temáticas sociais e políticas do Irã (já que todos os outros órgãos oficiais de produção evitam tais temáticas).
"Os diretores situam-se de maneira diferente sobre a relação das forças sociais e políticas, mas a grande maioria dos independentes incorpora um cinema ideológico e preocupado com as recentes mudanças na sociedade", diz Bahman Kiarostami, 25, filho do premiado Abbas Kiarostami.
A ONG é também o mais competente centro de distribuição internacional de filmes no Irã. Compete com a infra-estrutura da governamental Fundação Farabi Cinema, mas consegue melhores resultados na inserção das produções do país em festivais internacionais.
Apesar de defender publicamente a tese de que os jovens, na ausência de direitos de liberdade de expressão dentro da sociedade, podem se desiludir com o islã, a atual política do Irã -presidido pelo reformista Mohammad Khatami- em relação ao cinema tem sido promover uma nova geração de diretores que esteja dedicada a projetar na tela uma imagem da sociedade islâmica desenhada pela Revolução Islâmica.
O principal objetivo da política de governo do Irã em relação ao cinema não tem sido artístico ou econômico, mas o resultado de um projeto ideológico. No Irã os valores morais e a orientação política do diretor, produtor e equipe técnica importam mais para a aprovação (de produção ou exibição) no Ministério da Cultura do que um roteiro de qualidade.
Vários órgãos governamentais estão voltados para a produção de filmes e para a capacitação de jovens cineastas, como a Sociedade Iraniana de Cinema Jovem (que promoveu em outubro o 8º Festival Internacional de Curtas, em Teerã), do Centro para o Desenvolvimento Experimental e Semi-Amador de Filmes, que produz animações, curtas e alguns documentários.
Mas assim como mensagens islâmicas fazem parte do cinema "oficial" da nova geração, pedidos de reformas e de mudanças, embasados em um forte movimento político que existe hoje no Irã, aparecem nos filmes de jovens cineastas independentes.
Bahman Kiarostami é um dos que procuram "caminhos criativos" para obter financiamento e mecanismos de produção no exterior, em busca de maior autonomia nos projetos.
Depois de trabalhar com seu pai em vários filmes, atuou recentemente como editor em "Ten" (2002) e dirigiu documentários de cunho social, como o que mostra a vida de ciganos animistas forçados a se converterem após a Revolução Islâmica.
Neste momento, Bahman, com o apoio de produção da Independentes do Irã, está na fronteira com o Iraque entrevistando xiitas iranianos que peregrinam clandestinamente. Pretendendo chegar na mesquita de Iman Hossein (ou Iman Ali) na cidade de Karbala, um dos mais sagrados templos do Iraque, essas pessoas arriscam suas vidas no deserto, entre campos minados e soldados dos EUA.


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