São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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CINEMA/ESTRÉIAS

Com investimentos pesados em produção e marketing, Disney também lança saga inspirada em obras infantis de sucesso

"Nárnia" dá seqüência a fábulas fantásticas

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO A BERKSHIRE (INGLATERRA)

Com a estréia mundial, hoje, de "As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa", a Disney começa a colher os resultados, ainda indefinidos, de sua maior aposta em anos: a tentativa de lançar uma franquia milionária de filmes baseados em uma série de livros infantis de sucesso.
"O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" é o primeiro dos sete livros escritos pelo irlandês Clive Staples Lewis (1898-1963) que formam as chamadas "Crônicas de Nárnia". Dirigida por Andrew Adamson (das duas animações de "Shrek"), a adaptação da história dos quatro irmãos britânicos que encontram, em um guarda-roupa, a passagem para o mundo encantado de Nárnia -habitado por seres mitológicos, animais falantes, uma feiticeira má e um deus leão- é a chance da Disney de igualar o sucesso das adaptações das séries de livros de "Harry Potter" e "O Senhor dos Anéis".
A aposta não é baixa: em parceria com a Walden Media, a Disney investiu estimados US$ 150 milhões no filme (mais do que custou qualquer um dos quatro "Harry Potter" e dos três "Senhor dos Anéis"), além de US$ 100 milhões na campanha publicitária-o que incluiu levar 80 jornalistas do mundo todo para uma sessão de entrevistas no luxuoso Cliveden House, um castelo-hotel em Berkshire, na Inglaterra, e fazer uma pré-estréia de gala com a presença do príncipe Charles, anteontem, em Londres.
Tampouco é sem riscos a aposta: além de um diretor que nunca havia dirigido um longa com atores reais, o filme não tem elenco badalado (o mais famoso é Liam Neeson, que dubla o leão Aslam) e estréia espremido entre o sucesso do último "Harry Potter" -atual líder de bilheteria no mundo- e outro potencial "blockbuster", a adaptação de "King Kong" por Peter Jackson (da trilogia "O Senhor dos Anéis"), que tem estréia mundial na próxima sexta.
"Para um filme desse tamanho, é impressionante a liberdade artística que me deram. Não me empurraram nenhum ator hollywoodiano, pude fazer o filme como quis e com quem quis", explica Adamson, o diretor que também é produtor-executivo.
A tal liberdade, ironicamente, pode ser creditada ao bruxo adolescente que concorre com "Nárnia". "Nosso filme tem uma dívida com Harry Potter, que mostrou ser possível fazer uma história britânica com crianças inglesas e ser bem-sucedido nos EUA", explica o produtor Mike Johnson.
As semelhanças entre "As Crônicas de Nárnia", "Harry Potter" e "O Senhor dos Anéis" são temas constantes de perguntas dos jornalistas. Além dos fatores comuns aos três -são baseados em séries de livros britânicos de sucesso, têm temática fantástica-, há detalhes específicos: C.S. Lewis era colega de turma de J.R.R. Tolkien, autor da saga do anel; a Nova Zelândia serviu de palco às adaptações desses dois livros.
A insistência em comparar as obras irrita alguns ("É um filme diferente dos outros", diz Georgie Henley, 10, que vive a caçula Lúcia Pevensie em "Nárnia"), mas é tirada de letra por outros ("Há coisas piores para ser comparado", afirma o diretor Adamson).

Alegoria religiosa
Onde todos os entrevistados convergem é na ensaiada negação de qualquer referência religiosa presente no filme, ainda que, ao longo dos sete livros que formam "As Crônicas de Nárnia", seja possível notar uma clara alegoria bíblica -C.S. Lewis era católico fervoroso. Dentro do contexto dos livros, a história contada em "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" tem referências ao sacrifício e à ressurreição de Jesus.
"O que as pessoas consideram alegoria está menos presente nesse livro do que em "Matrix", onde há um personagem que é o Escolhido, morre, ressuscita e salva o mundo", argumenta Adamson. "O livro pode ser interpretado de várias maneiras e acho que o filme também deixa várias interpretações para o público", completa, afinado com a tática da Disney de não vender "As Crônicas de Nárnia" para um público específico.
Os donos do espólio de Lewis parecem não se opor à versão do estúdio. Douglas Gresham, afilhado do autor e diretor da C.S. Lewis Co., é co-produtor de "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" e, à imprensa internacional, se disse satisfeito com o filme.
As alterações em relação à história original, entretanto, não são poucas. A adaptação incluiu cenas mirabolantes que não estão no livro -como uma fuga por um rio em cima de um iceberg- e outras que eram apenas citadas brevemente, como o bombardeio de Londres pelos alemães, na Segunda Guerra. A própria batalha final, um único parágrafo no livro, vira o clímax do filme, com grandes cenas campais ao estilo de "O Senhor dos Anéis".
A favor da produção, registre-se que uma das maiores preocupações de Lewis -a dificuldade de bem representar o majestoso leão Aslam- foi resolvida com efeitos especiais espetaculares, que dão vida não apenas ao personagem rei de Nárnia mas à fauna de centauros, grifos e unicórnios.


O repórter Marco Aurélio Canônico viajou a convite da Disney

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