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CINEMA/ESTRÉIAS
Com investimentos pesados em produção e marketing, Disney também lança saga inspirada em obras infantis de sucesso
"Nárnia" dá seqüência a fábulas fantásticas
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO A BERKSHIRE (INGLATERRA)
Com a estréia mundial, hoje, de
"As Crônicas de Nárnia: O Leão, a
Feiticeira e o Guarda-Roupa", a
Disney começa a colher os resultados, ainda indefinidos, de sua
maior aposta em anos: a tentativa
de lançar uma franquia milionária de filmes baseados em uma série de livros infantis de sucesso.
"O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" é o primeiro dos sete livros escritos pelo irlandês Clive
Staples Lewis (1898-1963) que formam as chamadas "Crônicas de
Nárnia". Dirigida por Andrew
Adamson (das duas animações de
"Shrek"), a adaptação da história
dos quatro irmãos britânicos que
encontram, em um guarda-roupa, a passagem para o mundo encantado de Nárnia -habitado
por seres mitológicos, animais falantes, uma feiticeira má e um
deus leão- é a chance da Disney
de igualar o sucesso das adaptações das séries de livros de "Harry
Potter" e "O Senhor dos Anéis".
A aposta não é baixa: em parceria com a Walden Media, a Disney
investiu estimados US$ 150 milhões no filme (mais do que custou qualquer um dos quatro
"Harry Potter" e dos três "Senhor
dos Anéis"), além de US$ 100 milhões na campanha publicitária-o que incluiu levar 80 jornalistas do mundo todo para uma
sessão de entrevistas no luxuoso
Cliveden House, um castelo-hotel
em Berkshire, na Inglaterra, e fazer uma pré-estréia de gala com a
presença do príncipe Charles, anteontem, em Londres.
Tampouco é sem riscos a aposta: além de um diretor que nunca
havia dirigido um longa com atores reais, o filme não tem elenco
badalado (o mais famoso é Liam
Neeson, que dubla o leão Aslam) e
estréia espremido entre o sucesso
do último "Harry Potter" -atual
líder de bilheteria no mundo- e
outro potencial "blockbuster", a
adaptação de "King Kong" por
Peter Jackson (da trilogia "O Senhor dos Anéis"), que tem estréia
mundial na próxima sexta.
"Para um filme desse tamanho,
é impressionante a liberdade artística que me deram. Não me empurraram nenhum ator hollywoodiano, pude fazer o filme como quis e com quem quis", explica Adamson, o diretor que também é produtor-executivo.
A tal liberdade, ironicamente,
pode ser creditada ao bruxo adolescente que concorre com "Nárnia". "Nosso filme tem uma dívida com Harry Potter, que mostrou ser possível fazer uma história britânica com crianças inglesas e ser bem-sucedido nos EUA",
explica o produtor Mike Johnson.
As semelhanças entre "As Crônicas de Nárnia", "Harry Potter" e
"O Senhor dos Anéis" são temas
constantes de perguntas dos jornalistas. Além dos fatores comuns
aos três -são baseados em séries
de livros britânicos de sucesso,
têm temática fantástica-, há detalhes específicos: C.S. Lewis era
colega de turma de J.R.R. Tolkien,
autor da saga do anel; a Nova Zelândia serviu de palco às adaptações desses dois livros.
A insistência em comparar as
obras irrita alguns ("É um filme
diferente dos outros", diz Georgie
Henley, 10, que vive a caçula Lúcia
Pevensie em "Nárnia"), mas é tirada de letra por outros ("Há coisas piores para ser comparado",
afirma o diretor Adamson).
Alegoria religiosa
Onde todos os entrevistados
convergem é na ensaiada negação
de qualquer referência religiosa
presente no filme, ainda que, ao
longo dos sete livros que formam
"As Crônicas de Nárnia", seja
possível notar uma clara alegoria
bíblica -C.S. Lewis era católico
fervoroso. Dentro do contexto
dos livros, a história contada em
"O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" tem referências ao sacrifício e à ressurreição de Jesus.
"O que as pessoas consideram
alegoria está menos presente nesse livro do que em "Matrix", onde
há um personagem que é o Escolhido, morre, ressuscita e salva o
mundo", argumenta Adamson.
"O livro pode ser interpretado de
várias maneiras e acho que o filme
também deixa várias interpretações para o público", completa,
afinado com a tática da Disney de
não vender "As Crônicas de Nárnia" para um público específico.
Os donos do espólio de Lewis
parecem não se opor à versão do
estúdio. Douglas Gresham, afilhado do autor e diretor da C.S. Lewis
Co., é co-produtor de "O Leão, a
Feiticeira e o Guarda-Roupa" e, à
imprensa internacional, se disse
satisfeito com o filme.
As alterações em relação à história original, entretanto, não são
poucas. A adaptação incluiu cenas mirabolantes que não estão
no livro -como uma fuga por
um rio em cima de um iceberg-
e outras que eram apenas citadas
brevemente, como o bombardeio
de Londres pelos alemães, na Segunda Guerra. A própria batalha
final, um único parágrafo no livro, vira o clímax do filme, com
grandes cenas campais ao estilo
de "O Senhor dos Anéis".
A favor da produção, registre-se
que uma das maiores preocupações de Lewis -a dificuldade de
bem representar o majestoso leão
Aslam- foi resolvida com efeitos
especiais espetaculares, que dão
vida não apenas ao personagem
rei de Nárnia mas à fauna de centauros, grifos e unicórnios.
O repórter Marco Aurélio Canônico viajou a convite da Disney
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