São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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CINEMA

"Bens Confiscados", de Carlos Reichenbach, aborda corrupção política como elemento de degradação de vidas comuns

Longa mira política com "desencanto"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O ator Antonio Grassi, presidente da Funarte (Fundação Nacional de Arte), instituição ligada ao Ministério da Cultura, é o cumpridor das ordens nada republicanas de um corrupto senador em processo de cassação, no filme "Bens Confiscados", que estréia hoje no Rio e em São Paulo.
O senador, sua mulher e as amantes formam o círculo da trama que, a partir de Brasília, empurra para o Sul do país os destinos do adolescente Luiz (Renan Geocelli) e da enfermeira Serena (Betty Faria).
Serena é chamada a cuidar de Luiz, filho que o senador teve fora do casamento e que entra em choque com o suicídio da mãe.
Reichenbach diz que "Bens Confiscados" é "irmão gêmeo" de outro filme seu, "Dois Córregos" (1999), no propósito de "tratar da vida e das sensações dos personagens tendo como pano de fundo a história do país".
A relação entre "Bens Confiscados" e o cenário político brasileiro data de quatro anos atrás, "período pré-eleitoral", como lembra o diretor, em que o roteiro do filme foi concluído.
Reichenbach julga, contudo, que seu filme tem menos a ver com o "faits-divers" da política brasileira e mais com a tradução de um "estado de espírito". No caso, espírito de "decepção, desencanto, traição".
A opção por uma "dramaturgia do trivial" fez com que o diretor posicionasse sua câmera de forma a parecer que "é tudo enxergado pela porta da cozinha".
Para seguir "o viés de melodrama" que lhe interessava, Reichenbach buscou referências em "Martha", de Fassbinder (1945-1982) e nas "Palavras ao Vento", de Douglas Sirk (1900-1987).
"Bens Confiscados" é o primeiro resultado da longamente ambicionada parceira entre os sócios Reichenbach e Sara Silveira, da produtora paulistana Dezenove, e a atriz Betty Faria com sua empresa carioca, Supernova.
Reichenbach acha que "Betty Faria é a Barbara Stanwyck [1907-1990] brasileira: a imagem da mulher independente dos homens".
Para a personagem da atriz em "Bens Confiscados", o diretor quis explorar o perfil "da mulher que aparentemente não tem nenhuma fragilidade, mas que vai se fragilizando na relação com os homens, por causa do afeto".
À platéia da pré-estréia de seu longa, em São Paulo, na última terça, Reichenbach afirmou que ""Bens Confiscados" não é um filme oportunista. O país é que se repete, como dizia [o cineasta] Roberto Santos [1928-1987]".
Embora não enxergue ineditismos na atual crise política brasileira, o diretor acha que sua extensão demandará anos para ser avaliada. "Não ouso antecipar nada."


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