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CINEMA
"Bens Confiscados", de Carlos Reichenbach, aborda corrupção política como elemento de degradação de vidas comuns
Longa mira política com "desencanto"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O ator Antonio Grassi, presidente da Funarte (Fundação Nacional de Arte), instituição ligada
ao Ministério da Cultura, é o cumpridor das ordens nada republicanas de um corrupto senador em
processo de cassação, no filme
"Bens Confiscados", que estréia
hoje no Rio e em São Paulo.
O senador, sua mulher e as
amantes formam o círculo da trama que, a partir de Brasília, empurra para o Sul do país os destinos do adolescente Luiz (Renan
Geocelli) e da enfermeira Serena
(Betty Faria).
Serena é chamada a cuidar de
Luiz, filho que o senador teve fora
do casamento e que entra em choque com o suicídio da mãe.
Reichenbach diz que "Bens
Confiscados" é "irmão gêmeo" de
outro filme seu, "Dois Córregos"
(1999), no propósito de "tratar da
vida e das sensações dos personagens tendo como pano de fundo a
história do país".
A relação entre "Bens Confiscados" e o cenário político brasileiro
data de quatro anos atrás, "período pré-eleitoral", como lembra o
diretor, em que o roteiro do filme
foi concluído.
Reichenbach julga, contudo,
que seu filme tem menos a ver
com o "faits-divers" da política
brasileira e mais com a tradução
de um "estado de espírito". No caso, espírito de "decepção, desencanto, traição".
A opção por uma "dramaturgia
do trivial" fez com que o diretor
posicionasse sua câmera de forma
a parecer que "é tudo enxergado
pela porta da cozinha".
Para seguir "o viés de melodrama" que lhe interessava, Reichenbach buscou referências em
"Martha", de Fassbinder (1945-1982) e nas "Palavras ao Vento",
de Douglas Sirk (1900-1987).
"Bens Confiscados" é o primeiro resultado da longamente ambicionada parceira entre os sócios
Reichenbach e Sara Silveira, da
produtora paulistana Dezenove, e
a atriz Betty Faria com sua empresa carioca, Supernova.
Reichenbach acha que "Betty
Faria é a Barbara Stanwyck [1907-1990] brasileira: a imagem da mulher independente dos homens".
Para a personagem da atriz em
"Bens Confiscados", o diretor
quis explorar o perfil "da mulher
que aparentemente não tem nenhuma fragilidade, mas que vai se
fragilizando na relação com os
homens, por causa do afeto".
À platéia da pré-estréia de seu
longa, em São Paulo, na última
terça, Reichenbach afirmou que
""Bens Confiscados" não é um filme oportunista. O país é que se
repete, como dizia [o cineasta]
Roberto Santos [1928-1987]".
Embora não enxergue ineditismos na atual crise política brasileira, o diretor acha que sua extensão demandará anos para ser avaliada. "Não ouso antecipar nada."
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