São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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Após ver o show, brasileiro treina e vira astro do gelo

DA REPORTAGEM LOCAL

Sabe aquela vontade que quase todo mundo sente de sair patinando quando vê um espetáculo como o Holiday on Ice?
Pois o paulistano Eduardo Marques, 58, levou isso a sério. Na década de 60, ele trabalhava em uma farmácia para ajudar no sustento de sua família quando foi assistir ao Holiday no Ibirapuera. Pensou: "Eu quero ser isso, esse patinador que faz dupla com mulheres".
Todos os dias, saía da farmácia e ia treinar em uma pista de patinação na esquina da Paulista com a Brigadeiro Luís Antônio. Orgulha-se de dizer que nunca teve um professor.
Precisou servir o Exército no Estado do Rio e logo correu atrás de uma pista de gelo por lá. Descobriu uma no hotel Quitandinha, em Petrópolis. "Só para poder patinar, virei pára-quedista do Exército, porque era isso o que tinha para fazer em Petrópolis", lembra.
Quando já estava com alguma noção, chamou um fotógrafo para registrar sua performance no Quitandinha e enviar ao Holiday. Para as posições mais complicadas, usou um truque. Em vez de realmente saltar, armou uns ganchos para ficar pendurado e fazer a foto. O pessoal do Holiday caiu e o chamou para um teste. Não deu na primeira, mas na segunda. "Eu passei sem nem saber patinar direito. Aprendi tudo quando já estava lá", confessa.
Em 1972, contratado pelo Holiday, enfiou US$ 50 no bolso e viajou para a França, onde fez sua primeira apresentação. Era ainda coadjuvante, daqueles patinadores que entram em grandes grupos. Mas, em vez de descansar nas folgas, usava a pista vazia para treinar com uma amiga. Até que, anos depois, conseguiu se apresentar pela primeira vez como uma dupla, em Buenos Aires, e realizar o sonho que começara no ginásio do Ibirapuera.
Foi funcionário do Holiday por 28 anos e não consegue contar quantos países visitou. "No começo, morava em hotéis nas cidades onde o Holiday se apresentava. Depois, comprei um trailer e ficou mais confortável, tinha até ar-condicionado", conta o patinador.
Nos anos 90, voltou ao Brasil e montou um grupo de patinadores, o Ice Rollers Stars, que faz apresentação em circos, eventos empresariais e de prefeituras. Eventualmente, ainda participa de shows do Holiday em países próximos. Com o primeiro grau completo, hoje vive bem e, perto dos 60, não pára de dar piruetas por aí. (LM)


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