São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

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CONEXÃO POP

Cultura e violência

Pça. Roosevelt e "baixo Augusta" ganharam vida devido à sociedade, e não a ações do governo

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

SERIA IRRESPONSÁVEL colocar a culpa no poder público pelo ocorrido com Mário Bortolotto no sábado passado. Mas o episódio joga luz sobre uma questão que está na pauta há décadas, mas que não recebe tratamento adequado: a revitalização urbanística e cultural da região central de São Paulo.
Na capa da Ilustrada de hoje, o secretário da Cultura Carlos Augusto Calil fala sobre o assunto.
Bortolotto levou três tiros durante tentativa de assalto ao Espaço Parlapatões, na pça. Roosevelt. Assim como a "baixa Augusta", de uns três, quatro anos para cá, a pça. Roosevelt tornou-se um reduto cultural do centro de São Paulo.
Enquanto na região da Augusta o povoamento foi motivado por clubes e casas de shows (Vegas, Studio SP, Inferno, Outs etc.), que trouxeram na esteira restaurantes, cabeleireiros, lan houses, na Roosevelt a ocupação deu-se com o teatro.
Em dezembro de 2000, o grupo Os Satyros instalou-se na praça. Hoje, são seis teatros, muitos deles com bares anexos. O público foi à praça, que se tornou um local de convivência em vez de ponto de venda e de consumo de drogas, como era conhecido anos atrás.
O que é comum à Augusta e à Roosevelt? Ambas ganharam nova vida devido exclusivamente à iniciativa da sociedade. Não houve qualquer apoio ou política do governo para a ocupação das regiões.
Um projeto orçado em R$ 40 milhões destinado à reurbanização da praça Roosevelt está parado na Prefeitura. Não há verba para a realização das obras. Enquanto isso, com a proibição de funcionamento dos bares durante a madrugada, a praça e sua horrenda estrutura em concreto ficam abandonadas à noite, com iluminação insuficiente e segurança inexistente.
O governo de SP prevê gastar R$ 311,8 milhões com o Teatro de Ópera e Dança, que será montado na área batizada de Nova Luz. Não adianta brincar com semântica; Nova Luz ainda é Cracolândia. Será que alguém do governo tem coragem de passear pelas ruas da região durante a noite? Não vale levar escolta policial ou seguranças.

 


A vida noturna de São Paulo tornou-se uma das mais movimentadas do mundo. Todo final de semana, os clubes recebem DJs expressivos; há incontáveis opções de shows; os bares multiplicam-se e multiplicam ofertas de empregos; há excursões vindas do interior para assistir a peças de teatro.
O que o governo faz? Incentiva esse tipo de manifestação? Empresários e produtores culturais ouvidos por esta coluna, que preferem o anonimato, afirmam que a burocracia da prefeitura, por exemplo, dificulta como pode a obtenção de alvarás. Assim, fica mais fácil para fiscais corruptos extorquirem dinheiro dos estabelecimentos por motivos os mais variados. Interditam-se casas noturnas. Obrigam-se os bares a fechar as portas. Todos sabem o que ocorre. O governo sabe. Mas não toma atitude.

thiago.ney@uol.com.br


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