São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

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Comentário/ "Prelúdio"

Programa é rara oportunidade de ouvir jovens da música erudita

Só apresentadores se orgulham de "Prelúdio" ser único concurso do gênero na TV

MATHEUS BITONDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Olhares apreensivos cintilavam de cada poltrona da Sala São Paulo. No palco, quatro jovens instrumentistas se sucediam à frente da orquestra. A cada nota a plateia reagia em silêncio, dividindo-se em olhares críticos, ouvidos analíticos e figas esperançosas. Após cada apresentação, porém, ela se fundia em torcida organizada.
A ocasião era a etapa final do programa "Prelúdio", da TV Cultura, transmitido ao vivo no último domingo. Comandado pelo maestro Júlio Medaglia, "Prelúdio" é um concurso para jovens músicos eruditos, em formato de programa de calouros. A ideia parece óbvia, até populista, mas é brilhante: o clima de competição traz para a sala de concertos uma plateia crítica, e a torcida expurga a frieza habitual dos concertos.
Nesta edição, restaram na final os saxofonistas Maikel Morelli e Jonathan Garcia, o violinista Mizael Junior e o oboísta Ricardo Barbosa. Ao final, o júri fez justiça ao oboísta, que se destacou tanto pela mecânica de seus dedos quanto pela condução do discurso musical.
Vencendo ou não, cada participante deu um passo em direção ao sonho de ser músico. Foram ouvidos e avaliados pelo júri, composto de nomes relevantes. Oriundos dos poucos conservatórios e escolas do país, eles quase sempre têm origem humilde e formação irregular, pela escassez do ensino fora de grandes centros.
No meio do caminho, muitos talentos se perdem por sequer terem acesso a um instrumento. Os que obtêm sucesso no estudo passam por novo problema: fazer-se ouvir pelo público. E é aí que o concurso surge como rara oportunidade, nutrindo esperanças e incitando a concorrência. Estranhamente, os apresentadores tomaram como slogan o fato de "Prelúdio" ser o único programa do gênero na TV brasileira... Só eles se orgulham disso.


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