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DVD/LANÇAMENTO
Filmes ajudam a compreender modernização de SP
Caixa traz as origens do mito de Mazzaropi
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Em meados dos anos 60, no
auge de seu sucesso, Amácio
Mazzaropi (1912-81) concedeu a
si próprio o título de "rei do cinema brasileiro".
Não estava exagerando. Àquela
altura, Mazzaropi, identificado no
imaginário popular com seu personagem mais célebre e duradouro -o Jeca Tatu criado por Monteiro Lobato- era sinônimo de
grandes bilheterias. Além de estrelar, ele também dirigia e produzia seus filmes.
Os quatro DVDs lançados agora
pela Cinemagia permitem conhecer o início dessa trajetória única.
O pacote inclui os três primeiros
longas-metragens protagonizados pelo astro, realizados na Vera
Cruz no início dos anos 50, e o
quinto, "O Gato de Madame", da
Brasil Filmes.
Em todos eles Mazzaropi -já
famoso no teatro popular, no rádio e na TV- foi apenas ator.
São filmes de uma importância
histórica inestimável para o estudo do cinema brasileiro e também
para a compreensão do desajeitado processo de modernização vivido na época pela cidade de São
Paulo.
Mas o humor ingênuo e moralista dessas comédias envelheceu
um bocado, ainda que o talento
cômico de Mazzaropi permaneça
intacto.
Embora, nessas obras pré-Jeca
Tatu, o personagem vivido pelo
ator varie de um filme para outro,
trata-se sempre do mesmo caipira, que vê o mundo urbano com
olhos ao mesmo tempo inocentes
e críticos. Esse olhar era algo que
calava fundo nas platéias formadas em grande parte por migrantes recém-chegados às grandes cidades (sem falar nos próprios cinemas de cidades do interior, hoje extintos).
Em "Sai da Frente" (1951) e
"Nadando em Dinheiro" (1952),
ambos dirigidos por Abílio Pereira de Almeida, o personagem de
Mazzaropi é o motorista Izidoro
Colepicula, que conduz o semi-humanizado caminhãozinho
Anastácio com a ajuda do cachorro Coroné.
No primeiro, Izidoro deixa o caminhão desbrecado e tem de procurá-lo pelas ruas pouco movimentadas de uma irreconhecível
São Paulo, ainda com relativamente poucos arranha-céus e casas com galinhas no quintal.
Depois de recuperar o precioso
calhambeque, Izidoro leva uma
mudança até Santos, descendo
aos solavancos a Via Anchieta.
"Nadando em Dinheiro", talvez
o melhor filme do pacote, começa
com uma inverossímil trombada
em frente ao estádio do Pacaembu, por obra da qual nosso personagem fica sabendo que um avô
moribundo está para lhe deixar
uma herança fabulosa.
Milionário da noite para o dia,
Izidoro confronta-se com o mundo falso e cheio de fricotes da grã-finagem -situação cômica explorada à exaustão já naqueles
tempos por filmes, novelas e humorísticos de TV.
Em "Candinho" (1953), também de Pereira de Almeida, o personagem-título, inspirado no
protagonista do romance "Cândido", de Voltaire, é um caipira ingênuo que foge de uma fazenda
para São Paulo. Na metrópole, vivendo de bicos, reencontra a irmã
de criação tornada prostituta e o
"filósofo" Pancrácio (Adoniran
Barbosa) tornado mendigo. Outra herança milagrosa providenciará o final feliz.
Em "O Gato da Madame"
(1956), filme dirigido por Agostinho Martins Pereira, Mazzaropi
faz o papel do engraxate Arlindo,
que encontra o gato de estimação
de uma dama da alta sociedade
(Odete Lara, em sua estréia no cinema). As melhores cenas se passam no Museu do Ipiranga, onde
Arlindo conversa com os imperadores e dança com a Marquesa de
Santos.
O som dos dois primeiros títulos deixa a desejar, mas a imagem
está bastante boa. Os extras mais
curiosos são os trailers originais.
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