São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

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DVD/LANÇAMENTO

Filmes ajudam a compreender modernização de SP

Caixa traz as origens do mito de Mazzaropi

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Em meados dos anos 60, no auge de seu sucesso, Amácio Mazzaropi (1912-81) concedeu a si próprio o título de "rei do cinema brasileiro".
Não estava exagerando. Àquela altura, Mazzaropi, identificado no imaginário popular com seu personagem mais célebre e duradouro -o Jeca Tatu criado por Monteiro Lobato- era sinônimo de grandes bilheterias. Além de estrelar, ele também dirigia e produzia seus filmes.
Os quatro DVDs lançados agora pela Cinemagia permitem conhecer o início dessa trajetória única. O pacote inclui os três primeiros longas-metragens protagonizados pelo astro, realizados na Vera Cruz no início dos anos 50, e o quinto, "O Gato de Madame", da Brasil Filmes.
Em todos eles Mazzaropi -já famoso no teatro popular, no rádio e na TV- foi apenas ator.
São filmes de uma importância histórica inestimável para o estudo do cinema brasileiro e também para a compreensão do desajeitado processo de modernização vivido na época pela cidade de São Paulo.
Mas o humor ingênuo e moralista dessas comédias envelheceu um bocado, ainda que o talento cômico de Mazzaropi permaneça intacto.
Embora, nessas obras pré-Jeca Tatu, o personagem vivido pelo ator varie de um filme para outro, trata-se sempre do mesmo caipira, que vê o mundo urbano com olhos ao mesmo tempo inocentes e críticos. Esse olhar era algo que calava fundo nas platéias formadas em grande parte por migrantes recém-chegados às grandes cidades (sem falar nos próprios cinemas de cidades do interior, hoje extintos).
Em "Sai da Frente" (1951) e "Nadando em Dinheiro" (1952), ambos dirigidos por Abílio Pereira de Almeida, o personagem de Mazzaropi é o motorista Izidoro Colepicula, que conduz o semi-humanizado caminhãozinho Anastácio com a ajuda do cachorro Coroné.
No primeiro, Izidoro deixa o caminhão desbrecado e tem de procurá-lo pelas ruas pouco movimentadas de uma irreconhecível São Paulo, ainda com relativamente poucos arranha-céus e casas com galinhas no quintal.
Depois de recuperar o precioso calhambeque, Izidoro leva uma mudança até Santos, descendo aos solavancos a Via Anchieta.
"Nadando em Dinheiro", talvez o melhor filme do pacote, começa com uma inverossímil trombada em frente ao estádio do Pacaembu, por obra da qual nosso personagem fica sabendo que um avô moribundo está para lhe deixar uma herança fabulosa.
Milionário da noite para o dia, Izidoro confronta-se com o mundo falso e cheio de fricotes da grã-finagem -situação cômica explorada à exaustão já naqueles tempos por filmes, novelas e humorísticos de TV.
Em "Candinho" (1953), também de Pereira de Almeida, o personagem-título, inspirado no protagonista do romance "Cândido", de Voltaire, é um caipira ingênuo que foge de uma fazenda para São Paulo. Na metrópole, vivendo de bicos, reencontra a irmã de criação tornada prostituta e o "filósofo" Pancrácio (Adoniran Barbosa) tornado mendigo. Outra herança milagrosa providenciará o final feliz.
Em "O Gato da Madame" (1956), filme dirigido por Agostinho Martins Pereira, Mazzaropi faz o papel do engraxate Arlindo, que encontra o gato de estimação de uma dama da alta sociedade (Odete Lara, em sua estréia no cinema). As melhores cenas se passam no Museu do Ipiranga, onde Arlindo conversa com os imperadores e dança com a Marquesa de Santos.
O som dos dois primeiros títulos deixa a desejar, mas a imagem está bastante boa. Os extras mais curiosos são os trailers originais.


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