São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA/LANÇAMENTO

Farofa carioca

Divulgação
Músicos do Monobloco; Celso Alvim (centro, de baixo para cima) e Pedro Luís (acima, de óculos)



Monobloco, projeto de membros do Pedro Luís e a Parede, antecipa Carnaval


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A idéia, à primeira vista maluca, é a de que qualquer ritmo pode dar em samba. Nem o rap, nem o funk, nem o suingue, nem o maracatu escapam: na mão do Monobloco, bem como de sua base fundadora, o grupo Pedro Luís e a Parede, qualquer batida é não mais nem menos que batuque.
A experiência, iniciada em 2000 e já conhecida de outros carnavais pelos foliões da zona sul carioca, ganha enfim sua versão em CD, "Monobloco 2002", reproduzindo em estúdio, em versão reduzida, mas cuidadosamente produzida, a farra percussiva que deve levar 150 músicos à praia do Leblon neste ano.
"Todo mundo da banda sempre teve essa coisa de querer transformar qualquer som em percussão. E isso fluiu muito bem na hora de compor e ensaiar as músicas do bloco", afirma Celso Alvim, baterista da Parede e regente do Monobloco, que conta com seis naipes percussivos (surdos, caixas, chocalhos, tamborins, repiques e agogôs), um coro, um cavaco e três puxadores (Sérgio Loroza, Pedro Quental e Pedro Luís).
Gravando e retrabalhando faixas como "Imunização Racional", de Tim Maia, "Mosca na Sopa", de Raul Seixas, e "Alagados", dos Paralamas do Sucesso, o Monobloco é a renovação -bem-vinda- da tradição dos carnavais de rua do Rio. Alvim, na humildade, recua: "A linguagem e os arranjos do samba de raiz são também bastante sofisticados hoje". "O que acontece é que a gente não tem que ficar preso ao que é tradicional e pode brincar com novos ritmos", revela o "culpado" por fazer da marchinha "Cabeleira do Zezé" um filhote bastardo do funk à Furacão 2000.
A via, claro, é de mão dupla. Se "Madureira... É Assim que É!" devolve ao samba o balanço da música black dos anos 70, o pot-pourri "Domingo/Bom, Bonito e Barato", enredos da União da Ilha e da Portela, é a pura Sapucaí -bem como "Eu Bebo Sim/Salve a Mocidade/Oba" na voz embriagada da madrinha Elza Soares.
Com a benção de mestre Odilon Costa e o discurso emprestado de Osvaldo Nunes, canta Pedro Luís: "Bate com a mão/ que eu bato com o pé/ o samba virou candomblé" ("Na Batida do Berimbau"); num tom acima, reforça Rodrigo Maranhão, do Bangalafumenga: "Minha batucada não tem cor" ("Maracatu Embolado").
À medida que passa, tempo, bloco ou CD, o samba ganha novo oxigênio. "As baterias das escolas de samba tradicionais já foram invadidas pela classe média. É claro que precisa saber tocar, mas não tem mais tanto preconceito", destaca Alvim, que para ensaiar as batucadas "made in zona sul" que formam o Monobloco cobra "cem pratas" por cabeça em uma série de oficinas ministradas pelos músicos do Pedro Luís e a Parede. (Na verdade, o ponto de partida do Monobloco se deu com uma oficina percussiva que a Plap promoveu no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, há dois anos).
Segundo Alvim, os preparativos para o desfile deste ano, que irá do Leblon ao Jardim de Allah, já estão a toda, e os ensaios abertos, a R$ 20, acontecerão toda sexta-feira, de hoje até 28/2, no galpão da Fundição Progresso, na Lapa (informações: 0/xx/21/2220-5070). Entre os músicos convidados para participar do esquenta estão Dudu Nobre (hoje), Elza Soares e os rappers Xis e Rappin" Hood.


Texto Anterior: DVD/Lançamento: Caixa traz as origens do mito de Mazzaropi
Próximo Texto: Crítica: Bloco beija e desconstrói a tradição
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.