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ANÁLISE
Alf fez cabeças para a bossa nova
ZUZA HOMEM DE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Terá sido bom para Johnny
Alf ser um ilustre precursor
da bossa nova e não um de seus
consagrados integrantes?
Na sua modéstia, eventualmente sem paralelo na música popular
do país, ele não reivindica quaisquer direitos, afirmando constantemente que talvez tenha contribuído de alguma forma para o revolucionário movimento, como
me confiou num depoimento em
novembro de 68: "Cantando, João
Gilberto já tinha uma divisão bem
afastada do habitual e eu me sentia muito bem ao acompanhá-lo,
principalmente harmonicamente. O que eu fizesse, não tinha problema. Dessa intimidade pode ter
se dado alguma idéia".
Se, por um lado, a geração pós-bossa nova de Chico, Gil, Caetano, Edu, Milton e dezenas de outros, incluindo Roberto, deve a
João Gilberto ter-lhe aberto o horizonte da música brasileira como
razão para a vida artística, o próprio João, com Carlinhos, Menescal, Ronaldo, Donato, incluindo
Tom, tiveram em Johnny Alf
quem lhes mostrou um caminho
por onde poderiam ritmar o samba com acentuações novas, aventurar por seqüências harmônicas
mais surpreendentes, desvendar
intervalos invulgares para as melodias e ainda, em menor escala,
dar um tom mais leve às letras que
em geral beiravam o desespero.
Johnny Alf foi o maior ídolo dos
citados jovens da bossa nova
quando tocava piano nos anos 54-55 no bar do Plaza no Rio de Janeiro, que eles freqüentavam como quem vai ouvir o pároco pregar. Basta comparar "Rapaz de
Bem" (êmulo harmônico de "Desafinado"), "Nós e o Mar" e "Ilusão Atôa" com hits da época como "Café Soçaite". A dose do novo nas músicas de Johnny é cavalar. Atingiu em cheio as mentes
musicais abertas à modernidade.
Em novembro de 55, Johnny Alf
veio para São Paulo inaugurar o
primeiro endereço do lendário
bar Baiúca, depois foi para o Cave
e a pregação não foi diferente.
Atuava como um preconizador
do futuro para a juventude, sedenta pela música que parecia seguir novos caminhos. Sem esforço, Johnny preparava suas cabeças para o que viria. Como veio de
fato: a bossa nova. Quem a recebeu de braços abertos tinha passado obrigatoriamente por ele.
Assim é que, independentemente de ser um compositor de
obras primas, como "Eu e a Brisa"; de ser um dos mais originais e
fiéis "saloon singers" brasileiros,
como foi Dick Farney e outros
que a noite perpetuou, Johnny Alf
estabeleceu, possivelmente sem
perceber nitidamente, a ponte
que trouxe a São Paulo a modernidade da música brasileira que
nascia no Rio.
Será então suficiente qualifica-lo como um precursor?
Zuza Homem de Mello é musicólogo
e crítico musical
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