São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

"Borat" inverte a ordem das coisas

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Será que "Borat" (TC Pipoca, 20h) poderia existir num mundo sem "cultural studies"? Porque nesta comédia dirigida por Larry Charles tudo parece inverter a idéia de uma cultura européia (ainda que localizada na América) que procura compreender outras culturas.
Aqui é o homem de um lugar perdido na Ásia que tenta compreender os EUA, conviver com esse mundo fabuloso. É o falso repórter da TV do Cazaquistão, visto como um fim de mundo, que procura compreender esse outro mundo.
"Borat" de certa forma configura uma caricatura desse mundo onde as especificidades se tornaram quase infinitas (mulheres, negros, gordos, velhos, gays, árabes) e substituíram as antiquadas visões universalistas do mundo. Não existe mais o homem diante de suas dificuldades (como Buster Keaton, ou Chaplin). O tipo criado por Sacha Baron Cohen é decorrência de um mundo que se constrói por cisões.
São estranhos esses estudos culturais, porque deixam a impressão de que, mais do que estudarem o outro, eles o recalcam. Eles lhe atribuem um lugar, mas esse lugar é de certa forma um gueto. Talvez venha daí o encanto de Borat: na qualidade de matuto (ou quase isso) que vem estudar os costumes da metrópole, ele inverte a ordem das coisas. O objeto torna-se sujeito. Sujeito caótico, mas talvez, também, um espelho dos produtores de tantos "papers" mais oportunistas do que oportunos.


Texto Anterior: Bia Abramo: Como fazer alquimia às avessas
Próximo Texto: Grammy destaca West e Winehouse
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.