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Crítica
"Borat" inverte a ordem das coisas
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Será que "Borat" (TC Pipoca, 20h) poderia existir num
mundo sem "cultural studies"?
Porque nesta comédia dirigida
por Larry Charles tudo parece
inverter a idéia de uma cultura
européia (ainda que localizada
na América) que procura compreender outras culturas.
Aqui é o homem de um lugar
perdido na Ásia que tenta compreender os EUA, conviver
com esse mundo fabuloso. É o
falso repórter da TV do Cazaquistão, visto como um fim de
mundo, que procura compreender esse outro mundo.
"Borat" de certa forma configura uma caricatura desse
mundo onde as especificidades
se tornaram quase infinitas
(mulheres, negros, gordos, velhos, gays, árabes) e substituíram as antiquadas visões universalistas do mundo. Não
existe mais o homem diante de
suas dificuldades (como Buster
Keaton, ou Chaplin). O tipo
criado por Sacha Baron Cohen
é decorrência de um mundo
que se constrói por cisões.
São estranhos esses estudos
culturais, porque deixam a impressão de que, mais do que estudarem o outro, eles o recalcam. Eles lhe atribuem um lugar, mas esse lugar é de certa
forma um gueto. Talvez venha
daí o encanto de Borat: na qualidade de matuto (ou quase isso) que vem estudar os costumes da metrópole, ele inverte a
ordem das coisas. O objeto torna-se sujeito. Sujeito caótico,
mas talvez, também, um espelho dos produtores de tantos
"papers" mais oportunistas do
que oportunos.
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