São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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O pastor

Bruce Springsteen, 59, volta à forma com tema de "O Lutador", vence o Globo de Ouro e mostra que carreira tida como "perdida" continua relevante após 36 anos

Brian Snyder/Reuters
O cantor Bruce Springsteen canta no Super Bowl, nos EUA

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Bruce Springsteen sempre foi aquele cara simpático que fica do lado dos mais fracos. Desde sua estreia com "Greetings from Asbury Park, N.J.", em janeiro de 1973, ele está sempre contando histórias dos deserdados, dos infelizes, dos feios, dos que se deram mal, dos que buscam o sonho americano, mas ficam só comendo poeira.
Um pastor em defesa das ovelhas a serem tosquiadas. É natural que numa carreira de 36 anos, discos bons e maus se alternem, mas "Working on a Dream", seu 16º álbum de estúdio, prova que Bruce Springsteen faz parte de uma estirpe muito nobre do rock americano: aquela que reúne Bob Dylan e o canadense Neil Young, a turma dos que já deram o sangue, mas que também envelhecem bem, dos que ainda são relevantes aos 60 anos.
Springsteen tem 59, e "Working on a Dream" é espantoso em vários aspectos. Em primeiro lugar pelos diversos tipos de canções. O álbum começa com "Outlaw Pete", um épico dylanesco de oito minutos que conta a história de um fora-da-lei que começa a assaltar bancos ainda de fraldas.
A segunda faixa, "My Lucky Day", traz o que Springsteen tem de pior: otimismo. Canções de amor nunca foram seu forte, a menos que sejam amores de sarjeta, como na clássica "Thunder Road" (1975): "You ain't a beauty, but hey you're alright" (você não é linda, mas, hey, você é ok).
As canções três e quatro, a bem da verdade, parecem prestes a colocar o disco no esgoto. A terceira, "Working on a Dream", que dá nome ao disco, foi a única das novas tocada por Springsteen no domingo retrasado no intervalo do Super Bowl, final do campeonato de futebol americano, assistida por 100 milhões de telespectadores. Mas ambas são piegas, sem a pegada necessária. E então o disco engrena.
Springsteen alinha uma série de canções melódicas e belas que explicam por que "Working on a Dream", o álbum, está em primeiro lugar em execução e vendagem nos Estados Unidos e na Inglaterra.
"What Love Can Do", "This Life", "Good Eye" e "Tomorrow Never Knows", nome de uma canção dos Beatles com, não por coincidência, uma pegada da banda de Liverpool. Seguem "Life Itself", "Kingdom of Days", "Surprise, Surprise", uma faixa mais empolgante que a outra. É Springsteen em seu melhor estilo.

Carreira perdida?
A surpresa é ainda maior quando se pensa que, em 2006, sua carreira parecia perdida. O compositor, afinal, havia desistido de compor e lançou um álbum só de canções de Pete Seeger, famoso por ter sido o homem que pediu um machado para cortar o cabo da guitarra elétrica de Dylan em um festival de folk.
E o novo disco traz ainda como faixa bônus a ótima "The Wrestler", com versos tão tristes como "If you've ever seen a one legged dog then you've seen me" (se você já viu um cachorro de uma perna só, você já me viu). A canção, feita especialmente para o filme "O Lutador", de Darren Aronofsky, foi encomendada pelo amigo Mickey Rourke, que faz o papel principal. E ganhou o Globo de Ouro há um mês.


WORKING ON A DREAM
Artista:
Bruce Springsteen
Gravadora: Sony-BMG
Quanto: R$ 29, em média
Avaliação: ótimo



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