São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Peça recria clima sufocante de texto de Tennessee Williams


COMO DIRETOR, RUY CORTEZ É FIRME E COERENTE COM A PROPOSTA DE RETRATAR O CLIMA DOMÉSTICO SUFOCANTE


CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

Baseada em "À Margem da Vida", peça do dramaturgo americano Tennessee Williams (1911-1983), a montagem de "Rosa de Vidro" já passou por diversos teatros, firmando-se como um espetáculo sólido e contundente.
Originalmente, o texto é narrado por Tom, um escritor com ambição sufocada pela rotina no trabalho em um depósito de calçados e, em casa, pelo convívio com Amanda, sua mãe superprotetora, e Laura, sua manca e frágil irmã com quem tem forte ligação afetiva.
O dramaturgo João Fábio Cabral incorporou fragmentos da biografia de Williams ao original, transformando Laura em Rose, nome real de sua irmã, declaradamente "o maior amor de sua vida", que foi internada e lobotomizada em um sanatório em Missouri (EUA).
Como diretor, Ruy Cortez é firme e coerente com a proposta de retratar o clima doméstico sufocante. Na inventiva direção de arte de André Cortez, as cores e os desenhos sóbrios do cenário são reproduzidos no figurino de mãe e filha.
É visualmente impactante a sensação de que ambas estão predestinadas a permanecer naquele espaço. Julia Bobrow é impecável ao transmitir as oscilações entre doçura e loucura de Rose.
Com olhos vidrados dentro de uma caixa de vidro, salta dali com destreza para encher de vida a "arena sombria" que é seu quarto. Como seu irmão, Tales Penteado tem seriedade comovente, com uma tristeza que parece tomar seu corpo.
Gilda Nomacce, atriz de porte elegante, consegue fixar e quebrar os encantos da mãe opressora, enquanto Ricardo Gelli traduz a dubiedade de seu personagem no papel de "cobaia" que vem visitar a família. Com momentos isolados fortes, a dramaturgia passa por solavancos.
O foco inicial em Rose é radicalmente desviado para Tom no meio da peça. Apesar de original, a intenção de erotizar suas trocas com Jim nos faz perder nossa protagonista Rose por um bom tempo.
Além disso, o drama sutil de Williams é ora ou outra escancarado por afirmações explícitas e frases didáticas. São essas as breves ameaças de rachar esta bonita casa de vidro.

ROSA DE VIDRO

QUANDO qui. e sex., às 21h; até 25/2
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245; tel.0/xx/11/3234-3000)
QUANTO de R$ 2,50 a R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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