JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA

A parrilla Las Guardas, inaugurada há dois meses na Mooca, é uma interessante aposta instalada em uma rua sem movimento de um bairro sem a presença de restaurantes de qualidade como outros da zona sul. Mesmo assim, a Las Guardas propõe certas regalias aos clientes, num desejo de cativar o público que normalmente rumaria para o sul em busca de locais mais sofisticados, mas que, ao menos algumas vezes, poderia ficar perto de casa. Uma aposta que ainda precisa evoluir um pouco na qualidade da comida, mas que caminha na direção certa.
A própria escolha da especialidade revela uma inserção nas tendências da cidade. Se no Jardim Paulista ou na Vila Olímpia se tropeça em duas ou três churrascarias argentinas em uma mesma rua, por que não trazer este "boom" para o bairro onde vivem seus proprietários?
Foi o que fizeram o industrial Flavio Fiuza, de 42 anos, saudoso dos churrascos preparados por uma tia argentina, e o chef Renato Manzoli, 48, também um estudioso dos vinhos.
O que chama a atenção de quem chega, além da simplicidade meio austera do entorno, é que a casa é despojada, mas bem montada, numa escala mais de bistrô que de churrascaria, com um serviço atencioso (ainda que meio automático, como que recitando lições decoradas). O estacionamento é gratuito, o vinho é servido em belas taças, de uma oferta de boas garrafas que, ainda por cima, serão objeto de degustações organizadas no local. Tudo tipo Primeiro Mundo.
Ainda falta, porém, que a carne esteja plenamente à altura. Se pedida malpassada, informa-se que "usamos o ponto da Argentina, e lá o malpassado é quase cru". O conselho da casa então é pedir ao ponto para quem quer malpassado, e bem-passado para quem quer ao ponto. Conclusão: o bife ancho, que queríamos vermelho, veio ao ponto (além do mais, foi cortado em dois filés finos). Pelo menos, para quem gosta de carne ao ponto, estava OK; pior o bife de tira pedido ao ponto e que veio superpassado, até mesmo enegrecido por fora.
Para compensar, as empanadas de carne, assadas, de massa fina, estavam corretas; a salada veio com um bom molho de vinagre balsâmico; os acompanhamentos (polenta frita, farofa) não decepcionaram (a exceção foi o purê de batatas, cheio de grumos). No cardápio há bife de chorizo, ojo de bife, carré de cordeiro, mas não desafios maiores como os miúdos de boi (intestinos, timo), típicos das parrillas: afinal, mesmo com todo o esforço, de toda forma não estamos em Buenos Aires nem no Itaim.