São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2005

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MÚSICA

Especial toca o Raul que virou história

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Diferentemente do que cantava em "Anárkilópolis", Raul Seixas (1945-1989) entrou para a história. No rock brasileiro, representou a contracultura, o alternativo, antes que isso virasse nome de gênero musical. A zona, enfim.
O documentário "Raul Seixas -°O Maluco Beleza", no entanto, é caretinha: oficial, laudatório e simples. Tudo fica muito claro quando Marcelo Nova -o melhor discípulo do cantor baiano- dá seu depoimento, afirmando que Raul não era um anjo, e sim um brigão, um batalhador.
Esse Raulzito feroz pouco aparece em "O Maluco Beleza". Pelos depoimentos, como o da viúva, Kika Seixas, vemos mais seu lado idealista, de alguém que acreditava em uma sociedade alternativa. Se não para todos, ao menos para ele mesmo.
O que salva o documentário, no entanto, é a incrível trajetória do personagem. Um garoto baiano que, aos 11 anos, chocou um padre ao dizer que queria casar com Elvis Presley sem dúvida é um rebelde interessantíssimo.
Sem acrescentar muita profundidade, até pela sua curta duração, o programa aborda a ida de Seixas ao Rio, sua ligação com Paulo Coelho, a decadência e o fim solitário, em São Paulo. Há depoimentos geniais do próprio Raul, como aquele em que se declara parte não-integrante da linha evolutiva da MPB.
Exagero. É certo que detestava bossa nova, é verdade que não se alinhou com o tropicalismo e é inegável que, com a ascensão do rock dos anos 80, seu trabalho começou a ser olhado como ultrapassado. Se gostava de dizer que preferia ter nascido nos EUA, nunca deixou de fazer um rock contaminado de brasilidade.
Mesmo que hoje o folclórico pedido de "toca Raul" já tenha se tornado uma chatice, o músico é uma referência monumental do que o rock já foi no Brasil. Entrou para história sem querer. Ainda bem que não quis.


Raul Seixas - O Maluco Beleza
Quando:
sexta, às 21h30, na Rede SescSenac


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