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BIENAL DO LIVRO
Adam Thirlwell conta que leitura "política" de seu livro o surpreendeu e comenta de Aids a Machado de Assis
"Romance é recheado de sexo", afirma autor
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a seguir mais trechos da
entrevista com o escritor inglês
Adam Thirlwell, autor de "Política", nos quais ele fala sobre política, sexo e... Machado de Assis.
(CASSIANO ELEK MACHADO)
Folha - O livro se chama "Política", mas trata de amor e sexo. Você
usa o termo "política" no sentido
do "teatro do poder", assim como
se pode falar em amor ou sexo como um teatro?
Adam Thirlwell - Acho que o título pode ser visto de duas maneiras. O primeiro brinca com a idéia
de que, apesar de não parecer inicialmente ser um livro sobre política, o livro tem também um bocado de política dentro dele. E a
forma do romance, o comportamento dos personagens, é espelhada em aspectos políticos. Por
outro lado, é uma brincadeira.
Não há no livro muito do que as
pessoas imaginam como política.
Folha - Você menciona o Marquês
de Sade como alguém que fazia excentricidades políticas. Você também busca essa excentricidade?
Thirlwell - Não. Acho que os romances de Sade são prejudicados
pelo excesso de teorias de seu autor, pelo fato de que nada que
acontece neles é fruto do desejo
dos personagens, mas sim do desejo de Sade de provar, com cada
ação, algum de seus pontos políticos. Não queria que meu livro fosse guiado por digressões políticas.
Para mim a parte mais importante é o enredo geral, o lado mais comum do romance. As digressões
uso só para mostrar como é problemático tentar fazer digressões.
Folha - Mas como você lida com
essa leitura política de seu livro?
Thirlwell - Ela é mais freqüente
do que eu imaginaria. Os críticos
em geral querem ver no livro uma
obra totalmente política, uma alegoria de teorias ou da situação política. Eu buscava algo mais descompromissado, ainda que às vezes as analogias funcionem.
Folha - O narrador afirma ao longo do livro que o romance não é sobre sexo, que é sobre generosidade
e afins. Aqui no Brasil "Política" está saindo em uma coleção de livros
"safados", que terá Henry Miller,
Philip Roth, entre outros. O que você acha dessa companhia?
Adam Thirlwell - Existem diferenças de como eu penso no meu
livro e como as editoras querem
vendê-lo (risos). Bem, é verdade
que ao negar o tempo todo que o
livro é sobre sexo estou brincando
também. O romance é, obviamente, recheado de sexo. São comentários meio ingênuos, esses
do narrador. É claro que o livro é
sobre sexo. Mas é também sobre
bondade, sobre se cada um deve
ser altruísta ou pensar só em si.
Folha - Você descreve inúmeras
cenas de sexo, de personagens com
diferentes parceiros, e não menciona nunca camisinhas e Aids. Você
não o fez intencionalmente?
Thirlwell - Bem, eu cito as pílulas
anticoncepcionais. É a única proteção dos personagens. Acho que
isso é muito realista para relacionamentos. Talvez nas primeiras
relações deles seria mais normal
que usassem camisinha. Mas é
um ponto interessante. Ninguém
havia me perguntado sobre isso.
É, talvez eu devesse...
Folha - Qual sua opinião sobre o
grupo de autores que o acompanha
na lista da "Granta"?
Thirlwell - Não sei, muitos dos
escritores ali só publicaram um
ou dois livros. É difícil saber como
é um escritor com tão pouco.
Além disso, tento não ler autores
jovens. Prefiro os mortos, com os
quais não estou competindo.
Folha - Que mortos?
Thirlwell - Flaubert, Stendhal,
Machado de Assis.
Folha - Machado?
Thirlwell - É, adoro "Dom Casmurro", um dos melhores livros
que li. Tento fazer algo semelhante a isso. Ele é muito elegante.
POLÍTICA. Autor: Adam Thirlwell.
Tradução: José Antonio Arantes. Editora:
Companhia das Letras. Quanto: R$ 39,50.
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