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"Caçula" da "Granta" é "espertinho", diz editor da revista
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1983 a revista britânica
"Granta" começou uma trajetória que lhe valeu o título de o
melhor "nariz" da literatura
mundial. De uma tacada só, a
publicação revelou, com uma
edição batizada de "O Melhor
dos Jovens Romancistas Britânicos", alguns dos melhores escritores do momento: os totalmente desconhecidos em 1983
Salman Rushdie, Ian McEwan,
Martins Amis, Julian Barnes.
Dez anos depois, a "Granta"
voltou à carga. Com outra edição sobre escritores do Reino
Unido abaixo de 40 anos, colocou holofotes em Hanif Kureishi, Will Self e Tibor Fischer.
A terceira colheita veio no
ano passado. Coordenados pelo editor Ian Jack, um júri de
jornalistas e escritores selecionou mais 20 novas promessas.
Adam Thirlwell, autor de "Política", é o caçula da turma.
Em entrevista à Folha, Ian
Jack falou sobre as listas de melhores jovens autores da revista
e comentou a escolha de Thirlwell, que não havia publicado
nenhum livro quando entrou
para a seleção da "Granta".
Leia trechos a seguir.
(CEM)
Folha - Muitos dos escritores
selecionados em 1983 e em 1993
viraram grandes sucessos.
Quem o sr. imagina que serão os
novos Martin Amis, Salman
Rushdie e Ian McEwan?
Ian Jack - Provavelmente nenhum deles vai chegar a esse
ponto. Mas existe sempre alguma possibilidade. Minhas
apostas mais fortes são Zadie
Smith, David Mitchell, Alan
Warner, Peter Ho Davies, A.L.
Kennedy e Sarah Waters. Mas é
só palpite. Longevidade literária é algo difícil de antever.
Folha - A safra 03 pode ser melhor do que as anteriores?
Jack - Não, eu não acho, ainda
que tenha promessas do mesmo porte da colheita de 1993. O
grupo selecionado em 1983
acho que ficará como uma das
mais importantes gerações de
autores britânicos da história.
Folha - Quais foram as principais qualidades de Adam Thirlwell, que tem seu "Política" lançado aqui no Brasil agora? Como
ele foi selecionado, se não tinha
nenhum livro publicado quando
a "Granta" o escolheu?
Jack - Monica Ali também
não havia publicado nenhum
livro quando foi escolhida, e
seu romance "Brick Lane" provou ser um imenso sucesso, para o público e os críticos. Alguns dos jurados, devo dizer,
não ligaram tanto para Thirlwell, mas três de nós cinco enxergamos muito potencial nele.
É verdade que o livro é um
pouco espertinho demais, o
que incomodou vários críticos.
Folha - A ficção contemporânea brasileira hoje é muito marcada por elementos que podem
ser vistos em "Cidade de Deus".
A pobreza, a violência, a rapidez
e a fragmentação dos videoclipes. Existem algumas características mais freqüentes na literatura de hoje no Reino Unido?
Jack - É difícil dizer. A força da
literatura britânica do momento é a sua variedade de estilos e
sujeitos. Eu penso que seja possível dizer que existe um certo
pós-imperialismo britânico,
com todos os efeitos do Império, como um tema freqüente.
Folha - Por que vocês repetiram autores já incluídos em listas anteriores, como A.L. Kennedy, que já estava no levantamento de 1993?
Jack - Porque A.L. Kennedy
era ainda jovem o bastante para se classificar e nos pareceu
injusto tirá-la da seleção.
Folha - A "Granta" tem algum
projeto de edição no estilo "O
Melhor dos Jovens Poetas Britânicos", ou dos jovens ensaístas?
Por que vocês nunca fizeram
uma segunda edição dos melhores jovens autores americanos?
Jack - A idéia de fazer uma
edição com poetas já nos foi sugerida e eu a considero interessante. Mas a "Granta" não costuma publicar poesia, então
ainda estamos em dúvida. Os
americanos vão ser tema de
uma nova edição em 2006.
O problema com listas é que
elas são 1) trabalhosas; 2) obrigatoriamente subjetivas e, dessa forma, irritantes para os escritores não incluídos; 3) incapazes de ultrapassarem o caráter de um rascunho de um guia
do que é bom.
O valor das listas é que elas
chamam atenção para a ficção
literária. Isso não é pouco neste
mundo tão cruel e comercial.
BEST OF YOUNG BRITISH
NOVELISTS 2003. Organização: Ian
Jack. Editora: Granta. Quanto: R$
79,52 (no site da livraria Cultura -
www.livcultura.com.br).
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