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BATUQUE NO PODER
Músico é secretário da Cultura do Rio
Noca da Portela elege Casa do Samba como a prioridade de sua gestão
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O samba chegou ao poder no
Rio -ao menos por nove meses.
A governadora Rosinha Matheus
empossou na semana passada como secretário estadual da Cultura, até o fim de seu mandato, em
dezembro, Osvaldo Alves Pereira,
o Noca da Portela, 73.
Ex-comunista de carteirinha
-foi militante do PCB por quatro
décadas-, ex-seguidor de Leonel
Brizola, ex-filiado ao PSB (Partido
Socialista Brasileiro), Noca se torna secretário em um governo do
PMDB, partido ao qual cedeu a
música "Virada" ("Vamos lá, rapaziada/ Está na hora da virada/
Vamos lá, meu povo") na campanha de 1982 -quando apoiou
Brizola para governador.
"Não ganhei um tostão e tive
poucos agradecimentos do partido. Demorou 24 anos para eu ter
uma resposta satisfatória", diz
Noca, que também cedeu "Não
me Venha com Indireta" para
Ulysses Guimarães usar na campanha das Diretas-Já, em 1984.
Ele frisa que sua gestão não será
voltada apenas para o gênero do
qual é mestre -53 anos de carreira, 350 músicas gravadas (incluindo sucessos como "A Alegria
Continua" e "Caciqueando"), seis
sambas-enredos vitoriosos na
Portela. Mas, em uma hora de entrevista à Folha, o que ele mais falou foi de sua condição de sambista e de seu desejo de melhorar a situação do samba no Estado.
"[O cargo] significa muita coisa
para mim e muito mais para o
samba" foi a primeira frase. "Existem poucos sambistas politizados. E poucos são socialistas também. Sinto que os sambistas estão
depositando muita esperança em
mim", disse ainda.
Dados o pouco tempo e a pouca
verba que tem para realizar algo,
Noca quer deixar sua marca, pelo
menos, no terreno que conhece
bem. Sua prioridade maior é concluir a Casa do Samba, projeto
que apresentou a Rosinha Matheus na campanha de 2002.
É um casarão tombado de quatro andares, na praça Tiradentes
(centro), que está em obras e poderá ser aberto em agosto ao público como um centro cultural dedicado ao samba. "É um projeto
para todos, do Paulinho da Viola
ao Zé do Treco-Treco", afirmou
ele, criando um personagem.
Corajoso à beira da subversão
nesse quesito, Noca é conciliador
à beira da ingenuidade em outro:
quer pedir às grandes emissoras
de rádio que toquem samba. "Como estamos dentro do poder, vamos conversar com os diretores
de emissoras. Não vamos obrigá-los, é claro, mas fazer um apelo.
Meia hora por dia já ajudava."
Mais viáveis são os projetos de
dar algum tipo de apoio às velhas-guardas de escolas de samba e
promover shows de samba em cidades do interior. "Se eu der trabalho para um monte de sambistas, todo mundo vai ficar feliz."
Outras prioridades listadas por
Noca ainda dependem de recursos e esforços políticos. Uma delas
é a criação do Museu do Futebol,
no Maracanã. Outra é a transformação da antiga casa de shows
Imperator, no Méier (zona norte),
em um centro cultural.
Na última sexta, ele pôs terno e
gravata para conversar com o ministro da Cultura, Gilberto Gil.
"Seria importante ter apoio financeiro do governo federal. Aqui
[no Estado], as coisas estão no
guéri-guéri", disse, ironizando a
escassez de verbas.
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