São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2006

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BATUQUE NO PODER

Músico é secretário da Cultura do Rio

Noca da Portela elege Casa do Samba como a prioridade de sua gestão

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O samba chegou ao poder no Rio -ao menos por nove meses. A governadora Rosinha Matheus empossou na semana passada como secretário estadual da Cultura, até o fim de seu mandato, em dezembro, Osvaldo Alves Pereira, o Noca da Portela, 73.
Ex-comunista de carteirinha -foi militante do PCB por quatro décadas-, ex-seguidor de Leonel Brizola, ex-filiado ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), Noca se torna secretário em um governo do PMDB, partido ao qual cedeu a música "Virada" ("Vamos lá, rapaziada/ Está na hora da virada/ Vamos lá, meu povo") na campanha de 1982 -quando apoiou Brizola para governador.
"Não ganhei um tostão e tive poucos agradecimentos do partido. Demorou 24 anos para eu ter uma resposta satisfatória", diz Noca, que também cedeu "Não me Venha com Indireta" para Ulysses Guimarães usar na campanha das Diretas-Já, em 1984.
Ele frisa que sua gestão não será voltada apenas para o gênero do qual é mestre -53 anos de carreira, 350 músicas gravadas (incluindo sucessos como "A Alegria Continua" e "Caciqueando"), seis sambas-enredos vitoriosos na Portela. Mas, em uma hora de entrevista à Folha, o que ele mais falou foi de sua condição de sambista e de seu desejo de melhorar a situação do samba no Estado.
"[O cargo] significa muita coisa para mim e muito mais para o samba" foi a primeira frase. "Existem poucos sambistas politizados. E poucos são socialistas também. Sinto que os sambistas estão depositando muita esperança em mim", disse ainda.
Dados o pouco tempo e a pouca verba que tem para realizar algo, Noca quer deixar sua marca, pelo menos, no terreno que conhece bem. Sua prioridade maior é concluir a Casa do Samba, projeto que apresentou a Rosinha Matheus na campanha de 2002.
É um casarão tombado de quatro andares, na praça Tiradentes (centro), que está em obras e poderá ser aberto em agosto ao público como um centro cultural dedicado ao samba. "É um projeto para todos, do Paulinho da Viola ao Zé do Treco-Treco", afirmou ele, criando um personagem.
Corajoso à beira da subversão nesse quesito, Noca é conciliador à beira da ingenuidade em outro: quer pedir às grandes emissoras de rádio que toquem samba. "Como estamos dentro do poder, vamos conversar com os diretores de emissoras. Não vamos obrigá-los, é claro, mas fazer um apelo. Meia hora por dia já ajudava."
Mais viáveis são os projetos de dar algum tipo de apoio às velhas-guardas de escolas de samba e promover shows de samba em cidades do interior. "Se eu der trabalho para um monte de sambistas, todo mundo vai ficar feliz."
Outras prioridades listadas por Noca ainda dependem de recursos e esforços políticos. Uma delas é a criação do Museu do Futebol, no Maracanã. Outra é a transformação da antiga casa de shows Imperator, no Méier (zona norte), em um centro cultural.
Na última sexta, ele pôs terno e gravata para conversar com o ministro da Cultura, Gilberto Gil. "Seria importante ter apoio financeiro do governo federal. Aqui [no Estado], as coisas estão no guéri-guéri", disse, ironizando a escassez de verbas.


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