São Paulo, terça-feira, 10 de abril de 2007

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Selo independente Putumayo vai ampliar ação na América Latina

Com visual "naïf", gravadora faz nova leitura do conceito de world music

CARLOS CALADO
Colaboração para a Folha

Referência no segmento da world music, com CDs distribuídos em mais de 100 países, o selo independente Putumayo vai ampliar a atuação na América Latina. Depois de abrir um escritório no Rio, no final de 2006, anuncia para maio o início da fabricação de seus títulos no Brasil, em parceria com a Sonopress.
O primeiro lançamento, também com distribuição mundial, será a compilação "Brazilian Lounge", que reúne gravações de Paula Morelenbaum, Bebel Gilberto, Seu Jorge e Kátia B, além das bandas Mundo Livre S/A e Bossa Cuca Nova, entre outras. O selo, que costuma licenciar gravações já existentes, também prepara uma compilação de canções para crianças - o sexto título de música brasileira de seu catálogo.
Com sede em Nova York, a Putumayo (nome de uma região da Colômbia) nasceu de modo inusitado. Dan Storper, seu fundador e presidente, tinha uma rede de lojas de roupas exóticas de países do Terceiro Mundo. Criou o selo em 1993, ao perceber o interesse dos clientes pelas músicas que trazia das viagens para tocar nas lojas. Quatro anos depois, decidiu se dedicar apenas à gravadora, hoje com mais cem títulos em seu catálogo.
Grande parte dos produtos da Putumayo é vendida em butiques, cafés, casas noturnas e livrarias, não só em lojas tradicionais de discos. O foco em um segmento de público conhecido como "criativos culturais", que se interessa pela cultura de outros países e se preocupa com a sustentabilidade do planeta, rendeu ao selo norte-americano 24 milhões de dólares, em vendas, no ano passado.
Uma marca do selo é o trabalho gráfico do inglês Nicola Heindl, que ilustra todos os produtos da Putumayo. Em estilo "naïf", com cores fortes e traços simples, essas ilustrações veiculam um conceito de world music diferente do rótulo criado pelas distribuidoras internacionais de discos, no final dos anos 80, para classificar músicas de países periféricos.
Um exemplo é a recém-lançada compilação "Blues Around the World", que mescla gravações de músicos de blues de vários países, como a banda brasileira Blues Etílicos, o guitarrista africano Amar Sundy e a banda espanhola Jarabe de Palo, além dos norte-americanos Taj Mahal e Otis Spann.
Se antes o rótulo de world music abrangia qualquer manifestação não-originária dos EUA ou da Inglaterra, a Putumayo encara esse conceito de maneira mais antropológica: ele inclui qualquer música de raízes folclóricas, não importa de qual país ou continente. Até manifestações norte-americanas, como o blues, o zydeco ou o jazz tradicional de Nova Orleans, podem entrar em suas compilações.
Pode-se criticar o fato de o selo restringir suas seleções a músicas dançantes, para que o ouvinte possa se "sentir bem".
Mas qualquer um que ouça, por exemplo, a compilação "New Orleans Christmas", tem que admitir que ela foi feita com sensibilidade musical, algo raro no mercado de hoje.


SELO PUTUMAYO
Títulos:
"Blues Around the World", "New Orleans Christmas" e "Mississippi Blues"
Quanto: R$ 36 por cada CD, em média


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