São Paulo, sábado, 10 de maio de 2008

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Patrício usa matemática e acaso na Pinacoteca

Artista que participou de mostra na Espanha cria instalação para o museu em SP

Pernambucano utiliza 84 mil peças de dominó para formar trabalho com formas geométricas no Octógono, que fica no centro do prédio


MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Oitenta e quatro mil peças de dominó compõem um jogo plástico que é a base de "Expansão Múltipla", instalação especialmente realizada pelo artista pernambucano José Patrício, 47, para o Octógono da Pinacoteca do Estado. A obra pode ser vista a partir de hoje no museu.
Patrício, artista com prestígio no exterior -um de seus trabalhos com dominó fez parte da exposição "O(s) Cinético(s)", exposta no museu Reina Sofía, em Madri, e que esteve até janeiro passado no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo-, utiliza as peças do jogo desde 1998.
"Para a Pinacoteca, há um diálogo com todo o entorno. Pesquisei a simbologia do octógono e soube que a forma é vista muitas vezes como intermediária entre céu e terra, entre o quadrado e o círculo, o que ainda tornou mais interessante a obra", conta o artista. "Também há um forte dado conceitual no trabalho, já que o vejo como uma ocupação efêmera, cujas peças podem ser reutilizadas outras vezes."
A dualidade entre a elaboração racional da obra e sua efetiva realização, que incorpora o acaso, é um dos fortes elementos do estilo de Patrício. "Uso muito a matemática na criação das formas. Começo do centro e vou em espiral, com cada peça sendo colocada em simetria. O padrão vai surgindo, mas às vezes é uma coisa não-esperada."
Para a instalação na Pinacoteca, a circulação do Octógono será interrompida. O público só poderá ver a instalação pelas entradas ao lado e pelo andar de cima. "A obra é muito frágil, os dominós foram colocados diretamente no chão. Mas, de cima, pode se ver o trabalho por completo", diz Patrício.
Ivo Mesquita, curador de "Expansão...", observa na obra do artista uma influência da arte construtiva, mas que incorpora uma "geometria precária e acidental". "Existe todo esse dado racional no trabalho do Patrício, mas ao mesmo tempo ele tem um caráter eminentemente lúdico", avalia ele.
Mesquita -também responsável pela curadoria da 28ª Bienal de São Paulo, conhecida como "Bienal do vazio"- também acha interessante a mobilidade pela qual o trabalho de Patrício pode ser definido. "Não se sabe bem o que é. É uma instalação feita especificamente para o espaço, mas também é uma pintura, pois tem cor e movimento, e é um desenho, com suas linhas e grafismos. E mexe com a arquitetura da Pinacoteca, já que o Octógono, central na reforma do Paulo [Mendes da Rocha, arquiteto] como elemento de circulação, será bloqueado."
Patrício também ganha mostra na galeria Nara Roesler, em São Paulo, na próxima quinta, onde exibirá "pinturas". "Pego o verso dos dominós e pinto-os com esmalte, colando-os em um suporte. Uso o mesmo procedimento dessa instalação, apesar de duas das telas terem uma combinação aleatória."


EXPANSÃO MÚLTIPLA
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h; até 13/7
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, 0/xx/11/3324-1007)
Quanto: entrada franca (hoje); R$ 4



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