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Crítica/"Assinaturas e Assassinatos"
Em novo policial, John Dunning cria genérico de si mesmo
Embora inferior a livros anteriores, trama recente do
autor norte-americano ainda apresenta boa intriga
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Jorge Luis Borges e Raymond Chandler, dois
mestres bem diferentes
da literatura policial, diziam
que uma das principais obrigações do gênero, talvez a mais
importante, é a de não enganar
o leitor, de jogar limpo.
Para ambos, o desfecho de
qualquer história de detetive,
sempre necessariamente surpreendente, deveria ser construído sem truques baratos
(daí nenhum dos dois gostar
muito, por exemplo, de Agatha
Christie).
Desse ponto de vista, John
Dunning, de quem acaba de ser
publicado no país mais um romance, "Assinaturas e Assassinatos", não faz feio. A nova
aventura do ex-policial Cliff Janeway, comerciante de livros
raros e detetive nas horas vagas, trata com cuidado as reviravoltas do enredo em direção a
seu inesperado final.
A trama, narrada por ele em
primeira pessoa, gira em torno
da morte de Robert Marshall
em uma pequena cidade do Colorado. Encontrada ao lado do
corpo do marido, Laura Marshall se declara culpada e pede
ajuda a sua amiga de infância, a
advogada criminalista Erin
D'Angelo, que fora apaixonada
por Robert e agora é namorada
e sócia de Janeway...
A questão que talvez incomode aos admiradores do trabalho
de Dunning -e o leitor de textos policiais é normalmente
muito apegado a repetições e
retornos- é a pouca importância que os livros raros e a literatura assumem na narrativa.
E não se pode dizer que eles
não tenham relevância aqui.
Trata-se de algo muito periférico, contudo, quando se pensa
em "Impressões e Provas",
"Edições Perigosas" e "A Promessa do Livreiro".
Nessas obras, os mistérios
estão fortemente ligados ao
mundo das publicações e das
letras; já em "Assinaturas e Assassinatos", esse mundo parece
existir apenas para que o escritor cumpra uma espécie de
obrigação temática. Ele cria, assim, um genérico dele mesmo.
Para dizer o mesmo de outro
modo, inúmeros autores policiais teriam grande dificuldade
de produzir livros similares aos
anteriores de Dunning, mas seria possível para muitos deles
escrever algo parecido a este.
Para quem quiser uma boa
intriga, vale a pena. Quem espera algo mais (ainda que seja
mais do mesmo) deve ficar um
pouco decepcionado.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura
da Escola de Artes, Ciências e Humanidades
(EACH) da USP.
ASSINATURAS E
ASSASSINATOS
Autor: John Dunning
Tradução: Alvaro Hattnher
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 44,50 (384 págs.)
Avaliação: regular
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