São Paulo, sábado, 10 de maio de 2008

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Crítica/"Assinaturas e Assassinatos"

Em novo policial, John Dunning cria genérico de si mesmo

Embora inferior a livros anteriores, trama recente do autor norte-americano ainda apresenta boa intriga

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Jorge Luis Borges e Raymond Chandler, dois mestres bem diferentes da literatura policial, diziam que uma das principais obrigações do gênero, talvez a mais importante, é a de não enganar o leitor, de jogar limpo.
Para ambos, o desfecho de qualquer história de detetive, sempre necessariamente surpreendente, deveria ser construído sem truques baratos (daí nenhum dos dois gostar muito, por exemplo, de Agatha Christie).
Desse ponto de vista, John Dunning, de quem acaba de ser publicado no país mais um romance, "Assinaturas e Assassinatos", não faz feio. A nova aventura do ex-policial Cliff Janeway, comerciante de livros raros e detetive nas horas vagas, trata com cuidado as reviravoltas do enredo em direção a seu inesperado final.
A trama, narrada por ele em primeira pessoa, gira em torno da morte de Robert Marshall em uma pequena cidade do Colorado. Encontrada ao lado do corpo do marido, Laura Marshall se declara culpada e pede ajuda a sua amiga de infância, a advogada criminalista Erin D'Angelo, que fora apaixonada por Robert e agora é namorada e sócia de Janeway...
A questão que talvez incomode aos admiradores do trabalho de Dunning -e o leitor de textos policiais é normalmente muito apegado a repetições e retornos- é a pouca importância que os livros raros e a literatura assumem na narrativa. E não se pode dizer que eles não tenham relevância aqui.
Trata-se de algo muito periférico, contudo, quando se pensa em "Impressões e Provas", "Edições Perigosas" e "A Promessa do Livreiro". Nessas obras, os mistérios estão fortemente ligados ao mundo das publicações e das letras; já em "Assinaturas e Assassinatos", esse mundo parece existir apenas para que o escritor cumpra uma espécie de obrigação temática. Ele cria, assim, um genérico dele mesmo.
Para dizer o mesmo de outro modo, inúmeros autores policiais teriam grande dificuldade de produzir livros similares aos anteriores de Dunning, mas seria possível para muitos deles escrever algo parecido a este.
Para quem quiser uma boa intriga, vale a pena. Quem espera algo mais (ainda que seja mais do mesmo) deve ficar um pouco decepcionado.


ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.


ASSINATURAS E ASSASSINATOS
Autor: John Dunning
Tradução: Alvaro Hattnher
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 44,50 (384 págs.)
Avaliação: regular



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