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GASTRONOMIA
Enólogo francês ajuda a melhorar vinhos do Brasil
JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil continua ampliando seu horizonte vitivinícola. Por um lado, a indústria está
investindo em novas áreas para a
implantação de vinhedos, regiões
com condições de clima (e custo)
mais favoráveis do que as da Serra
Gaúcha, no Rio Grande do Sul, e
plantando mudas de castas nobres, com métodos de condução
modernos, visando aumentar a
qualidade da fruta e, por conseqüência, a do vinho.
Por outro, os produtores começam a procurar o suporte de experientes enólogos estrangeiros (como a Salton, que trouxe da Argentina Angel Mendoza, responsável
durante décadas pelos vinhos da
Trapiche), buscando aprimorar
os seus goles e ganhar espaço não
apenas no mercado interno, mas
também no internacional.
Outro indício dessa mudança
de rumos foi o lançamento dos
novos vinhos da Vinícola Miolo,
realizado dia 31 de maio passado,
no hotel Hyatt, em São Paulo. Durante o evento, a casa gaúcha
apresentou três tintos, todos da
safra 2003: o Cuvée Giuseppe, o
Quinta do Seival e o Terranova.
O Cuvée Giuseppe (um vinho
com boa concentração, elaborado
com cabernet sauvignon e merlot,
envelhecido em barricas de carvalho francês) é o único oriundo do
Vale dos Vinhedos, ao lado da cidade de Bento Gonçalves, tradicional reduto da Miolo, onde o
patriarca da família, Giuseppe, se
estabeleceu em 1897.
Os outros dois, e é bom se acostumar com isso, nasceram em novas fronteiras. O Terranova, corte
de uvas shiraz e cabernet, com
boa fruta, veio da fazenda Ouro
Verde, localizada no Nordeste, no
Vale do São Francisco, na Bahia,
outro Estado que (tal como Pernambuco, do outro lado do "Velho Chico") deve entrar firme na
corrida vitivinícola tupiniquim.
O último, o Quinta do Seival, teve como berço a estância Fortaleza de Seival, um empreendimento
da Miolo na região da Campanha,
outra área vitivinícola em pleno
desenvolvimento no Brasil, localizada no extremo meridional do
Rio Grande do Sul.
A propriedade tem cerca de
1.800 hectares, parte dos quais
plantados com videiras de variedades portuguesas, como Touriga
Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro. São essas três cepas que entram no corte do Quinta do Seival,
um bom vinho, com bom corpo e
conteúdo de fruta.
O trio estreante é o primeiro
conjunto de vinhos da Miolo que
contou com o suporte do renomado enólogo francês Michel Rolland. Nascido na cidade de Pommerol, na região de Bordeaux,
Rolland é descendente de uma família de gerações de vitivinicultores, dona de propriedades na região, entre as quais talvez o Château Lê Bom Pasteur seja a mais
conhecida (e a que deu fama).
Hoje ele assessora várias dezenas de vinícolas de renome ao redor do mundo, como Harlan e
Bryant, na Califórnia, Casa Lapostolle, no Chile, Salentein, na Argentina, Marques de Cáceres, na
Espanha, ou Ornellaia, na Itália.
"É possível fazer um bom vinho
em quase qualquer parte do mundo. No Brasil, precisaremos de
três ou quatro anos para ver a que
nível de qualidade realmente podemos chegar", explicou Rolland
durante o evento.
Por aqui (onde enólogos competentes não faltam), Rolland ajudará o responsável pelos vinhos
da casa, Adriano Miolo, no vinhedo e na cantina, é claro, mas penso que também -e não menos
importante- é preciso realizar
todas as mudanças culturais que
uma empresa familiar talvez precise para se entregar finalmente
nos braços da evolução.
VINHOS MIOLO. Onde encontrar: Miolo
(tel. 0/xx/11/5561-1320). Quanto:
Terranova (500 ml), R$ 14,20. A partir de
julho: Cuvée Giuseppe (R$ 47,50) e
Quinta do Seival (R$ 43).
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