São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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GASTRONOMIA

Enólogo francês ajuda a melhorar vinhos do Brasil

JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil continua ampliando seu horizonte vitivinícola. Por um lado, a indústria está investindo em novas áreas para a implantação de vinhedos, regiões com condições de clima (e custo) mais favoráveis do que as da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, e plantando mudas de castas nobres, com métodos de condução modernos, visando aumentar a qualidade da fruta e, por conseqüência, a do vinho.
Por outro, os produtores começam a procurar o suporte de experientes enólogos estrangeiros (como a Salton, que trouxe da Argentina Angel Mendoza, responsável durante décadas pelos vinhos da Trapiche), buscando aprimorar os seus goles e ganhar espaço não apenas no mercado interno, mas também no internacional.
Outro indício dessa mudança de rumos foi o lançamento dos novos vinhos da Vinícola Miolo, realizado dia 31 de maio passado, no hotel Hyatt, em São Paulo. Durante o evento, a casa gaúcha apresentou três tintos, todos da safra 2003: o Cuvée Giuseppe, o Quinta do Seival e o Terranova.
O Cuvée Giuseppe (um vinho com boa concentração, elaborado com cabernet sauvignon e merlot, envelhecido em barricas de carvalho francês) é o único oriundo do Vale dos Vinhedos, ao lado da cidade de Bento Gonçalves, tradicional reduto da Miolo, onde o patriarca da família, Giuseppe, se estabeleceu em 1897.
Os outros dois, e é bom se acostumar com isso, nasceram em novas fronteiras. O Terranova, corte de uvas shiraz e cabernet, com boa fruta, veio da fazenda Ouro Verde, localizada no Nordeste, no Vale do São Francisco, na Bahia, outro Estado que (tal como Pernambuco, do outro lado do "Velho Chico") deve entrar firme na corrida vitivinícola tupiniquim.
O último, o Quinta do Seival, teve como berço a estância Fortaleza de Seival, um empreendimento da Miolo na região da Campanha, outra área vitivinícola em pleno desenvolvimento no Brasil, localizada no extremo meridional do Rio Grande do Sul.
A propriedade tem cerca de 1.800 hectares, parte dos quais plantados com videiras de variedades portuguesas, como Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro. São essas três cepas que entram no corte do Quinta do Seival, um bom vinho, com bom corpo e conteúdo de fruta.
O trio estreante é o primeiro conjunto de vinhos da Miolo que contou com o suporte do renomado enólogo francês Michel Rolland. Nascido na cidade de Pommerol, na região de Bordeaux, Rolland é descendente de uma família de gerações de vitivinicultores, dona de propriedades na região, entre as quais talvez o Château Lê Bom Pasteur seja a mais conhecida (e a que deu fama).
Hoje ele assessora várias dezenas de vinícolas de renome ao redor do mundo, como Harlan e Bryant, na Califórnia, Casa Lapostolle, no Chile, Salentein, na Argentina, Marques de Cáceres, na Espanha, ou Ornellaia, na Itália.
"É possível fazer um bom vinho em quase qualquer parte do mundo. No Brasil, precisaremos de três ou quatro anos para ver a que nível de qualidade realmente podemos chegar", explicou Rolland durante o evento.
Por aqui (onde enólogos competentes não faltam), Rolland ajudará o responsável pelos vinhos da casa, Adriano Miolo, no vinhedo e na cantina, é claro, mas penso que também -e não menos importante- é preciso realizar todas as mudanças culturais que uma empresa familiar talvez precise para se entregar finalmente nos braços da evolução.


VINHOS MIOLO. Onde encontrar: Miolo (tel. 0/xx/11/5561-1320). Quanto: Terranova (500 ml), R$ 14,20. A partir de julho: Cuvée Giuseppe (R$ 47,50) e Quinta do Seival (R$ 43).


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