São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2005

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"HERÓI POR ACASO"

Burocrático, francês aborda família "alternativa" na guerra

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A exceção é "Clean". Obras com odor de formol, como "Herói por Acaso", são a regra. O fato é que o cinema francês atual que vem para povoar nosso empobrecido circuito geralmente não é o atual cinema francês, que vive modernidade autoral.
Curioso. Entramos assim no tema de "Herói por Acaso": o colapso de identidade num contexto extremo. Os franceses, na Paris de Hitler, são cada vez menos franceses. Já os judeus têm de jogar fora documentos, forjar novos e ser outras pessoas.
Mas há Batignole, o atrapalhado, expelido de seu lar colaboracionista. Sem nada, vai conduzir crianças judias à salvação, num filme que tem a família como espinha dorsal.
Sendo sua mutilação o expediente central no Holocausto, não é estranho que o cerne dos "filmes de Holocausto" seja a reconstrução alternativa do organismo familiar. Nessa jornada das identidades confusas e flexíveis, as crianças, sem pais, adotam Batignole, que vira tutor.
Mas, se o filme é burocrático em sua estética, há interesse nessa aparente adoção. O mais velho tem responsabilidade sobre as crianças, sim, mas a verdade é que eles são iguais: os párias que fogem juntos, todos meio crianças se aventurando na França rural. Eles compartilham da mesma identidade. (CLAUDIO SZYNKIER)


Herói por Acaso
Monsieur Batignole
  
Direção: Gérard Jugnot
Produção: França, 2004
Com: Gérard Jugnot, Götz Burger, Jules Sitruk
Quando: a partir de hoje no HSBC Belas Artes


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