São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Gilvan Barreto/Folha Imagem
REPROVADA A carioca Marina Rigueira diz que "desfilar em passarela é o auge para uma modelo", mas sabe que os stylists preferem "as branquinhas"; "Vou fazer publicidade e televisão"

"é das paulistas que o Rio gosta mais"

As curvas da mulher carioca desapareceram das passarelas do Fashion Rio, que consagrou o padrão magricela e branquela ditado por SP -e pela moda mundial

O Rio de Janeiro já foi a passarela natural das grandes modelos brasileiras: mulheres exuberantes como as cariocas Monique Evans, Luma de Oliveira e a gaúcha Xuxa fizeram da cidade sua plataforma nos tempos das "manequins".

 

Duas décadas depois, as garotas de Ipanema se dizem discriminadas por uma espécie de "complô paulista", que só dá bola para branquelas e magricelas. Para subir à passarela do Fashion Rio, a semana de moda da cidade, afirmam, é preciso ser paulista. Ou morar e trabalhar em São Paulo. Ou ainda viajar a São Paulo para participar de uma seleção em que boa parte dos stylists (que escolhem as modelos) são paulistas. Quem tem corpo, jeitão e bronzeado de carioca não tem vez. Ainda que não seja carioca. É o que dizem as sem-passarela.
 

"É preconceito mesmo: se você não mora em São Paulo, não entra no Fashion Rio", diz Tainá Xavier, 17. Nascida em Bangu, ela já foi fotografada por Mario Testino para a "Vogue" francesa. No mês passado, passou um dia em SP fazendo casting para disputar uma vaga na semana de moda carioca. Em vão. "Há três anos, o Fashion Rio me deu a maior força quando eu estava começando a carreira. Depois mudou e está ficando cada vez pior. Essa é a edição com menos cariocas", diz Tainá. "Sou morena. Para passarela, só querem as branquinhas", diz a modelo Marina Rigueira, de Niterói.
 

"O próprio nome já diz: é Fashion Rio. Deveriam escolher as meninas que moram na cidade, dar preferência para quem está aqui", diz a gaúcha Camila Fruet, 17, que vive e trabalha no Rio. Camila também viajou, de ônibus, para participar do casting em SP. "Mesmo que a grife seja carioca, tudo é feito em SP. Até na fila do teste ficamos para o final porque moramos no Rio", diz Camila De Bem, 16, que nasceu em Jaú, mas fez carreira no Rio.
 

"Parece que os estilistas brincam de boneca, só querem Barbie na passarela. Todas branquinhas, loirinhas, de olhos claros, magras e de pernas longas. Isso aqui é Rio de Janeiro. Sol, praia, homens e mulheres deslumbrantes. Você leva modelos aqui do Rio e o stylist faz cara feia, diz que a menina tem cara de praia. Isso é um preconceito doido. Deviam logo trocar o nome para Fashion São Paulo", diz Sergio Mattos, da agência carioca Rio 40 Graus. Outro agente carioca, Hélio Passos, da L'Agence, acha que "é preciso fazer um trabalho de preparação, tirar essa imagem de menina do Rio, garota de praia. Existe um preconceito contra esse padrão. Sou prestador de serviços. Não digo se está certo ou errado. Entrego o que o cliente busca".
 

A coluna conversou, individualmente ou em grupos, com mais de metade das 70 modelos que participaram do evento. Conseguiu localizar cinco que nasceram ou vivem no Rio. Uma delas é Valentina Bianchi, 17, que aderiu à deselegância discreta, branquela e magricela das modelos de outros cantos do país. "Adoro praia. Mas não pego sol. Marca de biquíni, nem pensar. Uso bloqueador solar 30 no corpo, 60 no rosto e 90 na cicatriz do queixo (resultado de um tombo na infância)."
 

O inglês Michael Roberts, que está no Rio fazendo um ensaio para a "Vanity Fair", diz que "o Brasil tem a sensualidade como uma de suas características. Deveria mostrar o que tem. Não seria um problema ter mulheres com mais curvas na passarela".
 

Ainda não foi dessa vez: no Fashion Rio, só mesmo sendo Gisele Bündchen para subir à passarela com 7 kg acima do peso e pele queimada de sol. "A Gisele engordou, mas é uma celebridade, não é uma modelo", diz Eloysa Simão, diretora do Fashion Rio. "O que chamam de modelo carioca? Esse bairrismo tem que acabar. O que importa é o profissionalismo e não o local de origem. A menina curvilínea nunca foi padrão na passarela." Além disso, diz Eloysa, "estamos em um momento de moda praia mais comportada. O concurso de Miss Universo é prova: a miss Brasil talvez fosse até mais bonita. Mas a japonesa ganhou pela postura. Estava mais elegante". O stylist Giovanni Frasson concorda. "Você paga por beleza, corpo, mas, acima de tudo, atitude", diz ele. "As pessoas não gostam de pobreza. Elas buscam o sonho da elegância. Até atrizes de Hollywood como Jennifer Lopez buscam stylists para torná-las mais elegantes -e não mais gostosas."
 

Natália Guimarães, a miss Brasil, por sinal, desfilou no Rio -na condição de celebridade. "A onda de mulheres anoréxicas tem de acabar", diz a miss, 58 kg, 1,75 m, 90 de busto, 60 de cintura e 93 de quadril.
 

Mônica Monteiro, ex-empresária de Gisele Bündchen e dona da agência de modelos Blue acredita que "mulheres exuberantes como Monique Evans e Luma de Oliveira dominavam quando o Brasil ainda não seguia um padrão mundial, de meninas clarinhas e de quadril estreito. As cariocas, como têm corpão e são saradas, não se encaixam. Não dá para colocar uma mulher com as coxas do Roberto Carlos na passarela".
 

"Modelo é em SP. Atriz é no Rio. Todo mercado tem sua especialidade", diz Eli Hadid, da agência Mega, que abre uma possibilidade para as cariocas: "A fase de mulheres naturais, como Cindy Crawford e Claudia Schiffer, pode voltar. Todos gostam de mulheres bonitas".


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