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WAGNER MOURA
Camila Pitanga e eu forçamos a paixão
Após entrevistar globais no início da carreira, ator revela como transformou Olavo Novaes no irresistível vilão que rouba a cena em "Paraíso Tropical"
LAURA MATTOS
SILVANA ARANTES
ENVIADAS ESPECIAIS AO RIO
Ele era "só um cara da Bahia", repórter do programa de
televisão "Michelle Marie", que
entrevistava globais de qualquer escalão no Carnaval de
Salvador. Hoje ele é Olavo Novaes, vilão mais irresistível do
currículo de Gilberto Braga, o
criador de Odete Roitman.
Já faz três meses que Wagner
Moura rouba a cena em "Paraíso Tropical". Só que nos últimos capítulos, o cara da Bahia
está abusado: aproveitou o romance com Bebel (Camila Pitanga) e tomou o posto de galã.
A novela das oito, que teve a
pior audiência de estréia desta
década, finalmente decolou. À
Folha, Moura (30 anos, 1,80 m,
78 kg, casado, um filho) falou
sobre o romance com a "piranha", a amizade com Lázaro
Ramos e muito mais. A seguir:
FOLHA - Por que Olavo Novaes se
apaixonou por Bebel?
WAGNER MOURA - Acho que a
gente deu uma forçada de barra
na paixão. Não era para ser isso,
e o [autor da novela] Gilberto
[Braga] comprou. Eu dizia para
a Camila: "A gente faz o que ele
quer, mas vamos fazer esse negócio render [risos]." Aí, pronto, ele ficou apaixonado. É um
contraste espetacular esse cara
apaixonado pela piranha.
FOLHA - Nada disso estava antes
previsto na sinopse da novela?
MOURA - Estava previsto os
personagens se encontrarem e
terem uma relação. Existia
uma relação sexual forte, de tesão. Acho que era mais por aí.
FOLHA - A paixão do casal Olavo e
Bebel ajudou a levantar o ibope?
MOURA - Não. Isso é mérito do
Gilberto, que movimentou
mais a trama. Achei sensacional ele ter dado mais força ao
personagem do Fabio [Assunção], o Daniel. Achava que o
Olavo estava um pouco brigando sozinho.
Agora que o Daniel descobriu
tudo, ficou muito mais legal.
Adoro fazer as cenas com Fabinho. Outro dia saímos na porrada. Eu adorei. Vocês viram
essa cena? Que cena boa!
FOLHA - Apesar do papel de mocinho em "A Lua Me Disse", é agora,
como o vilão Olavo, que você foi percebido pelo público como galã.
MOURA - Será?
FOLHA - Você não percebe isso?
MOURA - Não percebo, inclusive acho o Olavo feio, triste.
FOLHA - Perto da Camila Pitanga
ele não fica mais interessante?
MOURA - Perto da Camila Pitanga tudo fica mais interessante [risos]. A história com o
personagem dela está sendo
muito boa, é uma válvula de escape do Olavo, que é duro, introspectivo, ardiloso, invejoso.
Com a Bebel, posso mostrar um
outro lado dele, até de humor.
FOLHA - Se você fosse o autor, escreveria que final para os dois?
MOURA - Eles se gostam, têm
que ficar juntos. Ou se fodem
juntos ou se dão bem juntos.
FOLHA - Qual dos dois prefere?
MOURA - Depende. Pode ser
um "se fodem" interessante.
FOLHA - Você não tem contrato fixo com a Globo. Nem pretende?
MOURA - Tenho conversado
sobre isso. Temo parecer picareta, fazer um contrato e ficar
recusando papéis. Não vou me
sentir bem de ser pago sem trabalhar. Mas estou revendo isso.
FOLHA - O que fará após a novela?
MOURA - Quero muito voltar ao
teatro. Sempre quis fazer Shakespeare, mas sempre o achei
muito grande. Estou perdendo
um pouco esse medinho.
FOLHA - Dirigir cinema está nos
seus planos?
MOURA - Tenho planos de dirigir, mas naturalmente o meu
caminho como diretor tem que
começar pelo teatro, que é o
que sei fazer melhor.
FOLHA - É por isso que você se diz
um ator mais inteligente no teatro?
MOURA - Quando comecei, em
Salvador, a gente aprendia que
teatro é uma coisa de grupo,
que você tem que fazer tudo,
varrer o palco, cuidar do seu figurino, que o teatro é um templo, o palco é sagrado. Tenho
uma relação com esse lugar que
não tenho em lugar nenhum.
Por isso, quando faço teatro, eu
me sinto pleno e fico melhor
para fazer cinema e televisão.
FOLHA - Na preparação da peça "A
Máquina" [2000], você se mudou
para o Recife para ensaiar e morou
com o elenco e o diretor. Era uma
disponibilidade total ao trabalho?
MOURA - Total. Que época boa!
Outro dia estava me lembrando
que, em 1996, eu e Vladimir
[Brichta] fizemos uma peça
com José Possi Neto, em Salvador. Eu estava quase desistindo
de fazer teatro. Achava que ia
ser jornalista mesmo, que o
teatro não ia dar certo.
Possi fez um teste para a peça, e eu não quis fazer. Aí ele me
chamou para ser testado. Ele
disse: "Quero que você faça a
minha peça". Saí correndo da
escola de teatro até minha casa,
na chuva. Outro dia fiquei com
saudade dessa sensação, que
acho que perdi um pouco.
FOLHA - O jornalismo frustrou sua
expectativa de mudar o mundo?
MOURA - Hoje em dia estou
tentando me mudar [risos]. É
mais fácil começar por mim e
ver se depois, quando amadurecer, vou pensar no mundo.
FOLHA - Quando pensou em largar
o teatro "porque não ia dar certo", o
que exatamente imaginava? Que
nunca chegaria à novela das oito?
MOURA - Juro que a novela das
oito nunca foi meu foco. Não
estava com tesão de fazer o que
estava rolando. Gostava de jornalismo, estava dividido à beça.
FOLHA - E a carreira jornalística?
MOURA - Foi um lampejo. Trabalhei no [diário] "Correio da
Bahia", fazendo o roteiro de TV
e cinema, depois na coluna social televisiva "Michelle Marie", que existe até hoje. Depois,
montei uma assessoria de imprensa, com uns colegas de faculdade, para trabalhar com
projetos culturais. Só que os
clientes geralmente eram meus
amigos e não me pagavam.
FOLHA- Quem entrevistou no programa "Michelle Marie"?
MOURA - Entrevistava todos os
artistas da Globo que iam passar o Carnaval em Salvador.
FOLHA - Dá um exemplo.
MOURA - Todos. Eram sempre
as mesmas perguntas: "O que
você está achando da Bahia?"
"Qual é a sua relação com o
Carnaval?" As pessoas diziam:
"Tô amando. Essa Bahia é linda, um axé maravilhoso!"
FOLHA - Agora, quando está em
festas e os jornalistas chegam com
essas perguntas, o que responde?
MOURA - "Esse axé, essa luz, essa energia, essa cidade!" [risos]
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