São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

WAGNER MOURA

Camila Pitanga e eu forçamos a paixão

Após entrevistar globais no início da carreira, ator revela como transformou Olavo Novaes no irresistível vilão que rouba a cena em "Paraíso Tropical"

LAURA MATTOS
SILVANA ARANTES

ENVIADAS ESPECIAIS AO RIO

Ele era "só um cara da Bahia", repórter do programa de televisão "Michelle Marie", que entrevistava globais de qualquer escalão no Carnaval de Salvador. Hoje ele é Olavo Novaes, vilão mais irresistível do currículo de Gilberto Braga, o criador de Odete Roitman.
Já faz três meses que Wagner Moura rouba a cena em "Paraíso Tropical". Só que nos últimos capítulos, o cara da Bahia está abusado: aproveitou o romance com Bebel (Camila Pitanga) e tomou o posto de galã.
A novela das oito, que teve a pior audiência de estréia desta década, finalmente decolou. À Folha, Moura (30 anos, 1,80 m, 78 kg, casado, um filho) falou sobre o romance com a "piranha", a amizade com Lázaro Ramos e muito mais. A seguir:  

FOLHA - Por que Olavo Novaes se apaixonou por Bebel?
WAGNER MOURA
- Acho que a gente deu uma forçada de barra na paixão. Não era para ser isso, e o [autor da novela] Gilberto [Braga] comprou. Eu dizia para a Camila: "A gente faz o que ele quer, mas vamos fazer esse negócio render [risos]." Aí, pronto, ele ficou apaixonado. É um contraste espetacular esse cara apaixonado pela piranha.

FOLHA - Nada disso estava antes previsto na sinopse da novela?
MOURA
- Estava previsto os personagens se encontrarem e terem uma relação. Existia uma relação sexual forte, de tesão. Acho que era mais por aí.

FOLHA - A paixão do casal Olavo e Bebel ajudou a levantar o ibope?
MOURA
- Não. Isso é mérito do Gilberto, que movimentou mais a trama. Achei sensacional ele ter dado mais força ao personagem do Fabio [Assunção], o Daniel. Achava que o Olavo estava um pouco brigando sozinho. Agora que o Daniel descobriu tudo, ficou muito mais legal. Adoro fazer as cenas com Fabinho. Outro dia saímos na porrada. Eu adorei. Vocês viram essa cena? Que cena boa!

FOLHA - Apesar do papel de mocinho em "A Lua Me Disse", é agora, como o vilão Olavo, que você foi percebido pelo público como galã.
MOURA
- Será?

FOLHA - Você não percebe isso?
MOURA
- Não percebo, inclusive acho o Olavo feio, triste.

FOLHA - Perto da Camila Pitanga ele não fica mais interessante?
MOURA
- Perto da Camila Pitanga tudo fica mais interessante [risos]. A história com o personagem dela está sendo muito boa, é uma válvula de escape do Olavo, que é duro, introspectivo, ardiloso, invejoso. Com a Bebel, posso mostrar um outro lado dele, até de humor.

FOLHA - Se você fosse o autor, escreveria que final para os dois?
MOURA
- Eles se gostam, têm que ficar juntos. Ou se fodem juntos ou se dão bem juntos.

FOLHA - Qual dos dois prefere?
MOURA
- Depende. Pode ser um "se fodem" interessante.

FOLHA - Você não tem contrato fixo com a Globo. Nem pretende?
MOURA
- Tenho conversado sobre isso. Temo parecer picareta, fazer um contrato e ficar recusando papéis. Não vou me sentir bem de ser pago sem trabalhar. Mas estou revendo isso.

FOLHA - O que fará após a novela?
MOURA
- Quero muito voltar ao teatro. Sempre quis fazer Shakespeare, mas sempre o achei muito grande. Estou perdendo um pouco esse medinho.

FOLHA - Dirigir cinema está nos seus planos?
MOURA
- Tenho planos de dirigir, mas naturalmente o meu caminho como diretor tem que começar pelo teatro, que é o que sei fazer melhor.

FOLHA - É por isso que você se diz um ator mais inteligente no teatro?
MOURA
- Quando comecei, em Salvador, a gente aprendia que teatro é uma coisa de grupo, que você tem que fazer tudo, varrer o palco, cuidar do seu figurino, que o teatro é um templo, o palco é sagrado. Tenho uma relação com esse lugar que não tenho em lugar nenhum. Por isso, quando faço teatro, eu me sinto pleno e fico melhor para fazer cinema e televisão.

FOLHA - Na preparação da peça "A Máquina" [2000], você se mudou para o Recife para ensaiar e morou com o elenco e o diretor. Era uma disponibilidade total ao trabalho?
MOURA
- Total. Que época boa! Outro dia estava me lembrando que, em 1996, eu e Vladimir [Brichta] fizemos uma peça com José Possi Neto, em Salvador. Eu estava quase desistindo de fazer teatro. Achava que ia ser jornalista mesmo, que o teatro não ia dar certo. Possi fez um teste para a peça, e eu não quis fazer. Aí ele me chamou para ser testado. Ele disse: "Quero que você faça a minha peça". Saí correndo da escola de teatro até minha casa, na chuva. Outro dia fiquei com saudade dessa sensação, que acho que perdi um pouco.

FOLHA - O jornalismo frustrou sua expectativa de mudar o mundo?
MOURA
- Hoje em dia estou tentando me mudar [risos]. É mais fácil começar por mim e ver se depois, quando amadurecer, vou pensar no mundo.

FOLHA - Quando pensou em largar o teatro "porque não ia dar certo", o que exatamente imaginava? Que nunca chegaria à novela das oito?
MOURA
- Juro que a novela das oito nunca foi meu foco. Não estava com tesão de fazer o que estava rolando. Gostava de jornalismo, estava dividido à beça.

FOLHA - E a carreira jornalística?
MOURA
- Foi um lampejo. Trabalhei no [diário] "Correio da Bahia", fazendo o roteiro de TV e cinema, depois na coluna social televisiva "Michelle Marie", que existe até hoje. Depois, montei uma assessoria de imprensa, com uns colegas de faculdade, para trabalhar com projetos culturais. Só que os clientes geralmente eram meus amigos e não me pagavam.

FOLHA- Quem entrevistou no programa "Michelle Marie"?
MOURA
- Entrevistava todos os artistas da Globo que iam passar o Carnaval em Salvador.

FOLHA - Dá um exemplo.
MOURA
- Todos. Eram sempre as mesmas perguntas: "O que você está achando da Bahia?" "Qual é a sua relação com o Carnaval?" As pessoas diziam: "Tô amando. Essa Bahia é linda, um axé maravilhoso!"

FOLHA - Agora, quando está em festas e os jornalistas chegam com essas perguntas, o que responde?
MOURA
- "Esse axé, essa luz, essa energia, essa cidade!" [risos]


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.