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Crítica/Valerio Zurlini
Mestre do cinema italiano, Zurlini aproxima o improvável
Saem em DVD três longas de um dos mais importantes diretores dos anos 60
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Em "Verão Violento", a
viúva de um oficial da
Marinha encontra um
adolescente. Em "A Moça com
a Valise", a moça pobre abandonada à própria sorte por um canalha encontra um rapaz rico e
solitário (e irmão do canalha).
Em "A Primeira Noite de Tranqüillidade", um professor encontra e se deixa seduzir por
uma trânsfuga da escola.
Nos três filmes de Valerio
Zurlini (1926-1982) que a Versátil está lançando em DVD, o
que vemos é isso: aproximações
entre seres que dificilmente se
acreditará que possam se aproximar, tais as diferenças de
classe social, idade ou educação
entre eles. No entanto, o diretor italiano é um mestre nisso:
em aproximar o improvável,
em descobrir identidades secretas ali elas nunca parecem
poder existir.
Talvez o que una todos esses
personagens seja a tristeza.
Pois é triste a viúva que faz
Eleonora Rossi Drago em "Verão Violento" (1959), menos
por ser viúva, mas por intuir
que seu casamento com esse
herói nacional não foi a coisa
mais feliz do mundo.
E triste é Jean-Louis Trintignant, o jovem que se aproxima
dela, que já nas primeiras cenas
pode-se ver o quanto é deslocado do grupo de jovens ricos de
sua idade.
O mais espantoso em "Verão
Violento" é que, sendo um filme de estréia no longa-metragem -é verdade que o cineasta
bolonhês realizara anteriormente alguns curtas soberbos-, Zurlini demonstre um
domínio de sua técnica e um
conhecimento tão maduro de
seus personagens, de maneira a
flutuar com absoluta desenvoltura entre o grupo e a intimidade dos protagonistas.
E a cena em que Rossi Drago
(que está notável) participa da
festinha dos adolescentes poderia com facilidade se transformar em algo ridículo, não
fosse o filme magistral.
Cardinale e Perrin
Desses três filmes espetaculares, aquele em que Zurlini talvez menos consiga transitar
entre o físico e o espírito de
seus personagens é "A Moça
com a Valise" (1961), que está
longe de ser um mau filme, mas
onde a beleza de Claudia Cardinale e Jacques Perrin parece se
impor a seus personagens, diminuí-los ou, pelo menos, não
permitir que evoluam plenamente. Mesmo assim, "A Moça..." é ótimo.
O Zurlini mais maduro de "A
Primeira Noite de Tranqüilidade" (1972), seu penúltimo filme, domina esse problema e tira pleno proveito da beleza física de Alain Delon e Sonia Petrovna. Ele, um professor jogador. Ela, o centro de um grupo
de playboys de Rimini liderado
por Giancarlo Giannini.
A história se passa em Rimini, como "Verão Violento", só
que dessa vez não durante a Segunda Guerra Mundial. Os papéis são até certo ponto invertidos. Delon é o homem maduro
prestes a se separar da mulher
(Lea Massari). Ele está perdido
na vida, assim como Vanina.
Ele se dispõe a se apaixonar por
essa garota que sai com qualquer um.
"A Primeira Noite..." é o penúltimo filme e a obra-prima final da filmografia curta e fulgurante de Zurlini. Os lançamentos são uma excelente maneira
de aproximação com aquele
que talvez seja o melhor cineasta italiano da geração que, na
Itália, sucede o neo-realismo.
A se destacar a excepcional
restauração orquestrada pelo
veterano Giuseppe Rotunno. A
Versátil promete, para o semestre que vem, outros cinco
títulos do diretor italiano.
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