São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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Crítica/Valerio Zurlini

Mestre do cinema italiano, Zurlini aproxima o improvável

Saem em DVD três longas de um dos mais importantes diretores dos anos 60

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Verão Violento", a viúva de um oficial da Marinha encontra um adolescente. Em "A Moça com a Valise", a moça pobre abandonada à própria sorte por um canalha encontra um rapaz rico e solitário (e irmão do canalha). Em "A Primeira Noite de Tranqüillidade", um professor encontra e se deixa seduzir por uma trânsfuga da escola.
Nos três filmes de Valerio Zurlini (1926-1982) que a Versátil está lançando em DVD, o que vemos é isso: aproximações entre seres que dificilmente se acreditará que possam se aproximar, tais as diferenças de classe social, idade ou educação entre eles. No entanto, o diretor italiano é um mestre nisso: em aproximar o improvável, em descobrir identidades secretas ali elas nunca parecem poder existir.
Talvez o que una todos esses personagens seja a tristeza. Pois é triste a viúva que faz Eleonora Rossi Drago em "Verão Violento" (1959), menos por ser viúva, mas por intuir que seu casamento com esse herói nacional não foi a coisa mais feliz do mundo.
E triste é Jean-Louis Trintignant, o jovem que se aproxima dela, que já nas primeiras cenas pode-se ver o quanto é deslocado do grupo de jovens ricos de sua idade.
O mais espantoso em "Verão Violento" é que, sendo um filme de estréia no longa-metragem -é verdade que o cineasta bolonhês realizara anteriormente alguns curtas soberbos-, Zurlini demonstre um domínio de sua técnica e um conhecimento tão maduro de seus personagens, de maneira a flutuar com absoluta desenvoltura entre o grupo e a intimidade dos protagonistas.
E a cena em que Rossi Drago (que está notável) participa da festinha dos adolescentes poderia com facilidade se transformar em algo ridículo, não fosse o filme magistral.

Cardinale e Perrin
Desses três filmes espetaculares, aquele em que Zurlini talvez menos consiga transitar entre o físico e o espírito de seus personagens é "A Moça com a Valise" (1961), que está longe de ser um mau filme, mas onde a beleza de Claudia Cardinale e Jacques Perrin parece se impor a seus personagens, diminuí-los ou, pelo menos, não permitir que evoluam plenamente. Mesmo assim, "A Moça..." é ótimo.
O Zurlini mais maduro de "A Primeira Noite de Tranqüilidade" (1972), seu penúltimo filme, domina esse problema e tira pleno proveito da beleza física de Alain Delon e Sonia Petrovna. Ele, um professor jogador. Ela, o centro de um grupo de playboys de Rimini liderado por Giancarlo Giannini.
A história se passa em Rimini, como "Verão Violento", só que dessa vez não durante a Segunda Guerra Mundial. Os papéis são até certo ponto invertidos. Delon é o homem maduro prestes a se separar da mulher (Lea Massari). Ele está perdido na vida, assim como Vanina. Ele se dispõe a se apaixonar por essa garota que sai com qualquer um.
"A Primeira Noite..." é o penúltimo filme e a obra-prima final da filmografia curta e fulgurante de Zurlini. Os lançamentos são uma excelente maneira de aproximação com aquele que talvez seja o melhor cineasta italiano da geração que, na Itália, sucede o neo-realismo.
A se destacar a excepcional restauração orquestrada pelo veterano Giuseppe Rotunno. A Versátil promete, para o semestre que vem, outros cinco títulos do diretor italiano.


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