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Brasileiros modificam a fachada da Tate Modern
Nunca e osgemeos estão na exposição "Street Art", que faz panorama da vertente
Mostra no museu londrino, que segue até 25 de agosto, apresenta trabalhos de até 20 metros de altura feitos por artistas de cinco países
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um canibal de 15 metros de
altura pisa em um braço arrancado enquanto, com o dedo
mindinho levantado, toma uma
xícara de chá. Foi assim que o
brasileiro Francisco Rodrigues,
o Nunca, traduziu o convite para alterar a fachada da Tate Modern, na exposição a céu aberto
"Street Art", a primeira sobre a
vertente promovida por um
grande museu de Londres.
"Normalmente a gente usa a
rua, um ambiente selvagem, como local de trabalho. O convite
da Tate foi, para mim, como
chamar um canibal para tomar
chá", compara Nunca.
Ao lado do seu grafite, está o
gigante feito pelos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, osgemeos. Amarelo e nu, com a cabeça coberta por um pano laranja, ele segura em uma das
mãos câmeras de circuito fechado, que fazem parte da paisagem londrina. "É um gigante
que sai pela cidade colecionando câmeras, para brincar com
essa coisa de ser vigiado o tempo todo", diz Otávio.
Até 25 de agosto, os trabalhos
dos brasileiros dividem a fachada da Tate Modern -pela primeira vez alterada- com os de
outros quatro nomes da "street
art": o italiano Blu, o coletivo
americano Faile, o francês JR e
o espanhol Sixeart.
Diversidade
O curador Cedar Lewisohn
diz que selecionou esses artistas com o intuito de mostrar a
diversidade da "street art".
A cidade como suporte para
seus trabalhos é o denominador comum desses artistas, mas
os trabalhos apresentados trazem claras diferenças. "Enquanto Sixeart se inspira numa
mistura psicodélica de quadrinhos com Miró, algo interno,
pessoal, JR utiliza o que acontece no mundo lá fora. Acho esse contraste muito interessante", diz Lewisohn, que esteve
em São Paulo no ano passado
pesquisando sobre o grafite.
"O que impressiona no trabalho d'osgemeos e do Nunca é
que eles fazem do grafite, que
nasceu nos EUA, algo que fala
com sua própria voz e cultura, e
não um eco de Nova York", diz
Caleb Neelon, autor de "Graffiti Brasil" (Thames & Hudson).
Para Lewisohn, os brasileiros
cativam pela técnica.
Nem tão conhecido quanto
os irmãos Pandolfo, Nunca se
notabilizou por grafites influenciados pela cultura indígena, pontuado por traços geométricos.
Trabalhos de grande proporção não são novidade para os
brasileiros. No ano passado,
Nunca e osgemeos grafitaram
um castelo na Escócia. Para fazer as obras de quase 20 metros
de altura de "Street Art", foram
erguidos em cestos levantados
por caminhões, criando aos
olhos do público.
Um dos visitantes, o estudante mexicano Jose Gonzáles,
achou a exposição "interessantíssima esteticamente", mas
diz ter dúvidas sobre a propriedade de colocar arte de rua no
contexto de um museu.
Diferentemente de outras
mostras com nomes da "street
art", a Tate preferiu não transpor a produção desses artistas
para o seu interior -na fachada, é vista por um número
maior de pessoas. Criou ainda
um tour para mostrar grafites
nas redondezas do museu, em
um esforço para manter a vertente em seu cenário original.
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