São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiros modificam a fachada da Tate Modern

Nunca e osgemeos estão na exposição "Street Art", que faz panorama da vertente

Mostra no museu londrino, que segue até 25 de agosto, apresenta trabalhos de até 20 metros de altura feitos por artistas de cinco países

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um canibal de 15 metros de altura pisa em um braço arrancado enquanto, com o dedo mindinho levantado, toma uma xícara de chá. Foi assim que o brasileiro Francisco Rodrigues, o Nunca, traduziu o convite para alterar a fachada da Tate Modern, na exposição a céu aberto "Street Art", a primeira sobre a vertente promovida por um grande museu de Londres.
"Normalmente a gente usa a rua, um ambiente selvagem, como local de trabalho. O convite da Tate foi, para mim, como chamar um canibal para tomar chá", compara Nunca.
Ao lado do seu grafite, está o gigante feito pelos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, osgemeos. Amarelo e nu, com a cabeça coberta por um pano laranja, ele segura em uma das mãos câmeras de circuito fechado, que fazem parte da paisagem londrina. "É um gigante que sai pela cidade colecionando câmeras, para brincar com essa coisa de ser vigiado o tempo todo", diz Otávio.
Até 25 de agosto, os trabalhos dos brasileiros dividem a fachada da Tate Modern -pela primeira vez alterada- com os de outros quatro nomes da "street art": o italiano Blu, o coletivo americano Faile, o francês JR e o espanhol Sixeart.

Diversidade
O curador Cedar Lewisohn diz que selecionou esses artistas com o intuito de mostrar a diversidade da "street art".
A cidade como suporte para seus trabalhos é o denominador comum desses artistas, mas os trabalhos apresentados trazem claras diferenças. "Enquanto Sixeart se inspira numa mistura psicodélica de quadrinhos com Miró, algo interno, pessoal, JR utiliza o que acontece no mundo lá fora. Acho esse contraste muito interessante", diz Lewisohn, que esteve em São Paulo no ano passado pesquisando sobre o grafite.
"O que impressiona no trabalho d'osgemeos e do Nunca é que eles fazem do grafite, que nasceu nos EUA, algo que fala com sua própria voz e cultura, e não um eco de Nova York", diz Caleb Neelon, autor de "Graffiti Brasil" (Thames & Hudson). Para Lewisohn, os brasileiros cativam pela técnica.
Nem tão conhecido quanto os irmãos Pandolfo, Nunca se notabilizou por grafites influenciados pela cultura indígena, pontuado por traços geométricos.
Trabalhos de grande proporção não são novidade para os brasileiros. No ano passado, Nunca e osgemeos grafitaram um castelo na Escócia. Para fazer as obras de quase 20 metros de altura de "Street Art", foram erguidos em cestos levantados por caminhões, criando aos olhos do público.
Um dos visitantes, o estudante mexicano Jose Gonzáles, achou a exposição "interessantíssima esteticamente", mas diz ter dúvidas sobre a propriedade de colocar arte de rua no contexto de um museu.
Diferentemente de outras mostras com nomes da "street art", a Tate preferiu não transpor a produção desses artistas para o seu interior -na fachada, é vista por um número maior de pessoas. Criou ainda um tour para mostrar grafites nas redondezas do museu, em um esforço para manter a vertente em seu cenário original.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Série é ambientada na polícia paulista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.