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Crítica/"Drês"
Nando Reis faz diário amoroso em novo CD
DA REPORTAGEM LOCAL
"Drês", o novo trabalho de Nando Reis,
46, funciona quase
como um diário. Suas 12 músicas foram escritas em pouco
mais de seis meses, durante o
último namoro do cantor. E o
álbum descreve, tanto quanto
possível, seu começo, seu meio
e seu fim.
O disco foi gravado no Rio de
Janeiro, longe da casa do artista. Com a distância ele queria
aprofundar o mergulho nas
sombras de sua música. "Gravar não é uma experiência puramente de prazer. É de dor,
também", diz. "Preciso que
meu telescópio pesque a mais
remota onda perdida em minha
própria escuridão emocional."
"A Letra A" (2003) e "Sim e
Não" (2006), os antecessores,
já retratavam relações amorosas de Nando com outras musas. Segundo ele, estar apaixonado favorece sua vontade de
trabalhar.
"Nenhuma música que compus é suficientemente objetiva
a ponto me deixar esquecer
que, no fundo, ela está falando
de um vendaval meu", avalia.
"Gosto das músicas que denotam relações conflituosas seja
consigo, com o mundo, com um
pensamento, com uma ordem.
Essas sobrevivem mais à passagem do tempo."
E o leque de conflitos se abre
em "Drês". Surgem temas dedicados a sua mãe, que morreu há
20 anos, e à filha mais velha, Sophia, nascida há 20. Vertidas
em música, as duas relações familiares se complementam. E
escancaram a intimidade e as
inseguranças do autor de forma
avassaladora.
Apesar disso, Nando não gosta de assumir esse caráter biográfico como parte relevante de
sua obra. "Tenho medo de dar a
sensação que o interesse que
minha vida desperta em mim
mereça a projeção que meu trabalho procura", diz.
"Qualquer
expressão artística revela a
mão do autor e, no fundo, fala
dele. A minha me expõe um
pouco mais porque preciso
sempre me colocar pra fora para conseguir olhar pra dentro."
"Drês" se mantém apoiado
musicalmente na banda Os Infernais, que acompanha Nando
desde 2002. Ainda que um pouco mais pesado para o lado do
rock, o álbum soa, em boa parte
do tempo, um tanto parecido
com seus últimos trabalhos.
Mas o cantor se diz preocupado em manter sob controle
esses limites entre o que é estilo e o que é simples repetição de
uma fórmula. "Isso é uma armadilha. Ao mesmo tempo em
que conheço minha força como
compositor, sei das minhas limitações", diz. "Por isso, tomo
o cuidado de, ao criar os arranjos, buscar na música algo diferente do que já tenha feito antes."
(MARCUS PRETO)
DRÊS
Artista: Nando Reis
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 28
Avaliação: bom
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