Após longa pausa, Mulatu Astatke volta ao estúdio em parceria com os britânicos do The Heliocentrics

BRUNA BITTENCOURT
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de um longo hiato, o etíope Mulatu Astatke, um dos grandes nomes da música africana, volta aos estúdios. Criador do ethio jazz -uma fusão entre o soul e o jazz americano e a música etíope-, Astatke, 66, encontra o jovem grupo britânico The Heliocentrics no disco "Inspiration Information". "Eu estava tão envolvido ensinando, pesquisando, escrevendo e fazendo palestras que não tive muito tempo para gravar CDs ou fazer shows", diz o músico à Folha, por telefone.
Nos anos 60, Astatke, 66, estudou na Inglaterra e nos EUA. De volta à Etiópia, misturou à música tradicional do país suas influências ocidentais. "Meu objetivo era voltar com algo novo, um tipo diferente de música", conta. "Quando você escuta o ethio jazz, pode ouvir jazz, música latina, africana, etíope."
Compositor, arranjador e multi-instrumentista, Astatke foi descoberto por um público mais amplo no fim dos anos 90, com a série francesa "Ethiopiques". Voltada à música africana dos anos 60 e 70, a série de discos dedicou seu quarto volume a Astatke. Em 2005, o diretor americano Jim Jarmusch levou diversas composições do etíope para a trilha de "Flores Partidas", dando continuidade ao revisionismo em torno de sua discografia. "Eu tinha um show em Nova York do Ethiopiques.
A secretária do Jim Jarmusch me ligou e ele veio com toda sua equipe. Eu nem sabia quem ele era", diz. "Depois de dois meses, ele me ligou dizendo que minha música combinava com o filme que ele estava fazendo."
No ano passado, Astatke foi convidado a tocar na Inglaterra. Para a apresentação, foi acompanhado pelo The Heliocentrics, grupo que já gravou com os produtores de hip hop Madlib e DJ Shadow. O encontro foi seguido pelo disco, o terceiro volume de "Inspiration Information", série que promove parcerias entre artistas. O álbum traz Astatke fiel ao ethio jazz, mas dialogando com referâncias externas à África, como reza sua cartilha.