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Crítica/"A Woman a Man Walked By"
PJ Harvey volta teatral em CD difícil e fascinante
Cantora inglesa retoma parceria com o músico John Parish em disco rústico
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
PJ Harvey é uma mulher
infiel. Não gosta de se
prender. Já foi a roqueira reclamando do amante que a
deixava seca, a sedutora e perigosa femme fatale, a francamente louca. A cada disco, adquire uma personalidade, seguindo constante na sua inconstância: é autêntica camaleoa do rock. "A Woman a Man
Walked By", o mais recente CD,
abriga novas faces da cantora
inglesa de 39 anos.
A mulher e o homem não estão apenas no título. PJ tem a
companhia do músico e produtor John Parish, amigo de longa
data que co-assina a autoria do
disco. Uma ideia básica guiou o
trabalho: criar músicas que
soassem diferentes de tudo que
os dois já tivessem feito antes.
O resultado são dez canções
cruas, com instrumentos que
remetem ao rústico e ao folk,
como o banjo e o ukulele. Com
clima angustiante, os temas vão
do grotesco a descrições de
morte e pesadelos. Não é um
caminho fácil de seguir -considerá-lo ruim é o atalho mais rápido. Mas para onde quer nos
levar esse estranho casal?
Em entrevistas recentes, PJ
nega tratar-se de trabalho teatral, em que cada música seria a
representação de um personagem específico, apesar de ser
exatamente esta a sensação
transmitida pelas diferentes
entonações da cantora, guiada
pela dramaticidade das letras.
Teatral
Em "The Soldier", PJ tem um
sonho onde é um soldado que
anda sobre rostos de mulheres
mortas e todos aqueles deixados para trás. Angustiada, canta
em falsete, como se estivesse
prestes a morrer. No mesmo
registro vocal e com clima de
mistério, fantasmagórico, ela
canta, em "Leaving California":
"Como fui cruel em imaginar
que eu poderia mudar você".
O tom muda radicalmente
em "Pig Will Not", inspirada no
poema "O Rebelde", de Charles
Baudelaire, em que um pecador
se recusa a seguir um anjo. PJ
incorpora a negação definitiva
do personagem e canta a plenos
pulmões. Chega até a latir.
Na
raivosa faixa-título, ela exagera
no tom, geme nervosa e conta
as agruras daquilo que parece
ser um hermafrodita. É como
naquelas peças de teatro intensas em que o espectador não sabe se ri ou se chora de emoção.
Esses extremos, no entanto,
não chegam a diminuir o impacto do disco. A faixa de abertura, a mais tradicional "Black
Hearted Love", entre o rock e o
blues, é uma das melhores músicas já cantadas por PJ ("quando você chama meu nome em
êxtase/ eu ofereço minha alma
em sacrifício").
Tematicamente, faz par com
a amarga "Passionless, Pointless", um raio-x de final de relacionamento na tradição de
"Love Will Tear Us Apart", do
Joy Divison. É um ex-casal que
ainda dorme na mesma cama,
cada um com o rosto virado para paredes opostas. Ela não encontra mais carinho nas mãos
do amante. Nesse contexto, o
verso "para onde vai a paixão?"
entra no rol dos grandes mistérios da vida.
A WOMAN A MAN WALKED BY
Artista: PJ Harvey & John Parish
Lançamento: Universal
Quanto: a definir (lançamento neste
mês no Brasil)
Avaliação: bom
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