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Turistas exploram grafites de São Paulo
Obras de Rui Amaral, osgêmeos e Zezão são comentadas em passeio
Além de explicar técnicas e contar histórias do grafite na cidade, roteiro turístico apresenta obras de artistas novos e consagrados
FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Dégradé, jogos de luz e sombra. A guia turística aponta para as pinturas, chama atenção
para assinaturas e técnicas.
Não estamos num museu, muito menos vendo quadros. São
grafites na avenida Doutor Arnaldo, zona oeste de São Paulo.
Entre buzinas e ônibus barulhentos, o grupo de dez turistas
atravessa a pé o bairro de Pinheiros, em direção à Vila Madalena, caçando desenhos com
ajuda da guia Yara Amaral, 26,
mais conhecida como Yá!, grafiteira há seis anos e ex-aluna
de artistas famosos do movimento, como Zezão e Boleta.
"A ideia é sensibilizar o olhar
para a cidade", explica Leandro
Herrera, sócio-fundador da
Soul Sampa, agência de turismo que organiza passeios temáticos pela cidade e, desde
abril, começou a explorar a fama do grafite paulistano, assim
como outras duas empresas
(leia mais no quadro à dir.).
Pelos 5 km de asfalto, surgem
trabalhos de artistas mais conhecidos, como Titi Freak e
Rui Amaral, além de nomes da
nova geração, como Zito, que
mistura grafite e fotografia numa obra localizada sob a ponte
da r. João Moura. Yara também
fala das gangues de pichadores,
como os coletivos Vicio e Sustos, e suas filosofias de rua.
Num "grapicho" -mix de
grafite e pichação- na rua Cardeal Arcoverde, por exemplo,
letras em tons de azul e contornos elaborados fazem mistério
sobre o que, afinal, estaria escrito ali. "Às vezes nem a gente
entende", diz Yara sobre o desenho pintado em 2008, provavelmente de forma ilegal.
"Da mesma forma que os intelectuais criam uma linguagem que ninguém entende, eles
[grafiteiros, pichadores] criaram a deles. Eles marginalizam
quem os marginaliza."
Beco do Batman
Enquanto a turma caminha
com suas câmeras fotográficas,
Leandro e um colega ficam de
olho para ninguém ficar para
atrás. O grupo é composto só de
mulheres, todas estrangeiras,
que moram ou estudam no
país. O passeio dura cinco horas, incluindo um workshop de
spray ao final e pausas para almoçar e tirar fotos, especialmente na escadaria da rua Cristiano Viana e no Beco do Batman, uma longa viela de paralelepípedos na Vila Madalena,
ambos locais tomados pelos
grafiteiros desde os anos 80.
Do grupo de americanas, argentinas e europeias, todas
querem ver osgêmeos, dupla
formada pelos irmãos Gustavo
e Otávio Pandolfo, que expõe
em galerias de arte mundo afora e é reconhecida pelos desenhos de bonecos amarelos.
Mas nenhuma delas consegue identificar a assinatura elaborada em amarelo que encontramos pelo caminho, no alto
de um muro. O "bomb" -letras
sem muitos detalhes, só com
contorno e preenchimento-
foi feito neste ano pelo coletivo
Vidaloka, do qual os dois participam, e, se olhado com calma,
quer dizer "osgêmeos".
"Por mais que eles estejam
nas galerias, eles continuam
pintando nas ruas", explica Yara. "Sempre passo por aqui e vejo esse negócio, mas nunca
imaginei que fosse dos gêmeos", comenta uma turista.
Zezão, famoso pelos tubos
azuis que pinta nos subterrâneos da cidade, também surpreende com um mural pintado no Beco do Batman, repleto
de nuvens de fumaça colorida
em spray e estêncil, coisa que
só os mais entendidos, como
sua ex-aluna, reconhecem.
"É uma maneira diferente de
descobrir o bairro, um passeio
divertido e sério", disse a francesa Erwane Kaloudoff, 36.
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