São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2011

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Espetáculo discute abuso de poder no mundo corporativo

"O Contrato" evoca o teatro do absurdo para criticar a tênue fronteira existente entre vida pública e privada

Peça de Zé Henrique de Paula expande reflexão para a "perda de humanidade na vida contemporânea"

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

A devastação acontece dentro de um cubo branco vazado. Ele escancara uma sala de escritório, na qual mesa, cadeira, tudo é transparente. Inclusive a vida privada de uma funcionária.
Em "O Contrato", peça que estreia hoje, fechando o 15º Festival da Cultura Inglesa, Emma tem sua vida dissecada por seu superior.
Dirigida por Zé Henrique de Paula, a obra apresenta ao país Mike Bartlett, expoente da nova dramaturgia inglesa. Critica acidamente a tênue fronteira existente entre vida pessoal e privada na contemporaneidade.
"O Contrato" é dividido em 14 cenas bastante similares. A sensação de repetição está presente inclusive nas falas secas e sintéticas com que o gerente usa seu pequeno poder para invadir de forma progressiva a intimidade de sua funcionária.
Ele humilha, manipula e chantageia a subalterna, que a tudo resiste em nome do salário. "O personagem segue a política da empresa, mas sente um profundo prazer neste ato", diz Sergio Mastropasqua, que contracena com Renata Calmon.
O diretor aposta sobretudo na atuação para apresentar esse jogo que evoca o teatro do absurdo e, com o passar do tempo, deixa de ser patético para se tornar grotesco.
"Em "O Contrato" a discussão sobre abuso de poder na vida profissional se expande para uma reflexão sobre a perda da humanidade no mundo contemporâneo", diz Zé Henrique.
Com a movimentação dos atores, exacerba códigos que enquadram comportamentos-padrão na vida corporativa. Busca uma intersecção entre realismo e uma teatralidade quase coreográfica.
"Quis que a codificação ficasse visível nesses corpos que estancam em determinadas posições", explica. "É uma formalidade pseudo-gentil, muito comum no ambiente profissional do mundo hoje", fala Mastropasqua.
Como consequência, os personagens surgem um tanto desumanizados. "Inicialmente existe vida ao redor de Emma. Ela tenta resistir, mas em um momento não aguenta e sucumbe", fala Renata.

O CONTRATO

QUANDO sex., e sáb., às 21h, dom., às 19h; até 12/6
ONDE Teatro Cultura Inglesa (r. Deputado Lacerda Franco, 333, tel. 0/xx/11/3814-0100)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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