São Paulo, Segunda-feira, 10 de Julho de 2000
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DANÇA
A coreógrafa e bailarina espanhola apresenta "Mas Distinguidas" hoje e amanhã no Sesc Anchieta, em São Paulo
La Ribot usa corpo como pôster mutante

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apesar da formação em dança, a espanhola La Ribot desenvolve um trabalho em sintonia com as artes plásticas, cujo objetivo é gerar um território misto, livre de classificações. Em "Mas Distinguidas", que apresenta hoje e amanhã em São Paulo, La Ribot faz de seu corpo nu uma tela adesiva, que ganha significados de acordo com os objetos, adereços ou efeitos nele fixados.
"Faço um trabalho conceitual. Minha idéia é explorar um corpo-objeto, transformando-o numa base neutra. É como se eu dispusesse de um tecido no qual posso escrever e fixar coisas, desde fotografias, textos, desenhos, adereços de figurinos", disse a coreógrafa e bailarina à Folha.
De caráter performático, as apresentações de La Ribot têm acontecido tanto em teatros quanto em museus. Com seu corpo magro, cabelos pintados de azul e pelos pubianos de vermelho, ela faz de si mesma uma espécie de pôster mutante.
"Minha nudez não tem conotações sexuais. Trata-se de um nu sintético, asséptico, plástico, que também pode ser relacionado a erotismo quando falo de sexo. Minha intenção é proporcionar interpretações muito abertas", ela diz. A opção pelas apresentações solo deram-se quando decidiu buscar um caminho estético próximo das artes visuais.
Nascida em Madri, Maria Ribot completou sua formação em dança clássica e moderna na França, Alemanha e Estados Unidos. Em 1985, ela começou a produzir suas próprias coreografias. Um ano depois, fundou o grupo Bocanda, em colaboração com Blanca Calvo. Essa companhia teve papel importante no desenvolvimento da dança contemporânea espanhola.
Desfeita sua primeira parceria, La Ribot iniciou nova fase em 90, quando resolveu expandir seu vocabulário. Em 93, ela lançou um projeto inusitado, denominado "Piezas Distinguidas". Desde então, já criou 32 dos 100 solos de curta duração que integram a obra.
"Mas Distinguidas" compõe a segunda série de peças, completadas em 97. "É um projeto amplo, baseado na idéia de trabalhar com o mínimo de elementos. Dependendo do tema, posso enfatizar o uso da música ou de um texto. Em todos estou sempre nua e abordando a dança da forma mais plástica possível. Faço uma coreografia para a mente, cujas imagens estão expostas para venda."
La Ribot ironiza o sentido de propriedade ao oferecer suas "Piezas Distinguidas" para compra, como obras de arte. Aos "distintos proprietários" ela oferece privilégios como a colocação do nome do comprador ao lado do título da obra, além de convites permanentes para assistir às apresentações em qualquer lugar do mundo. "Seria como ter um Van Gogh em casa, mas sem realmente possuir a obra", diz.
"Não há dramatização, tampouco narração em cada peça. Também não necessito do trabalho de figurinistas, embora em "Mas Distinguidas" conte com adereços escolhidos por Pepe Rubio. A única colaboração que mantenho é com o iluminador Daniel Demot."
Com durações que variam de 30 segundos a 7 minutos, as 13 peças de "Mas Distinguidas" procuram destacar idéias que se projetam visualmente sobre um corpo, que faz uso de seu movimento natural.
Segundo observou Julia Martin, no jornal "El Mundo", La Ribot não dança no sentido convencional, mas emana a dança de dentro de si, em pleno comando do ritmo, do tempo e da quietude. Quanto à música, La Ribot também tem uma postura flexível. Às vezes usa composições feitas especialmente para as peças. Em "Mas Distinguidas", ela se vale de uma escolha pessoal, que inclui obras de Eric Satie, Javier Lopez de Guereña Gonsalez e Carles Santos, sem esquecer do silêncio, que também é levado em conta.
Casada com o coreógrafo Gilles Jobin, cujo trabalho igualmente singular foi mostrado em São Paulo nos primeiros dias deste mês, La Ribot vive em Londres desde 97, onde já recebeu prêmios importantes. "As "Piezas Distinguidas" compõem um projeto de vida", diz a artista.



Espetáculo: Mas Distinguidas, com La Ribot
Onde: Teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/256-2281)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: R$ 20 (50% de desconto para comerciários)


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