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Canais internacionais mostram Brasil que país não vê
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Por aqui, a ficção conta em
"América" -a novela que fala do
"sonho" de morar nos EUA- o
que os canais não exibem sobre as
histórias de compatriotas que
moram em outros países, sejam
elas de sucessos ou mazelas,
quando decidiram atravessar as
fronteiras. Mas a vida de brasileiros em outros países chamou a
atenção da Globo e da Record,
que atualmente dedicam programações exclusivas ao mercado internacional, numa espécie de Brasil que o próprio Brasil não vê.
Ambos os canais internacionais
exibem grande parte da programação brasileira, com um ou dois
dias de atraso, em horários diferentes, de acordo com cada fuso.
É possível, de Nova York, assistir
ao matinal de Ana Maria Braga e
também acompanhar a investida
da emissora em dramaturgia,
com "Essas Mulheres", à noite.
No Brasil não se assiste aos programas produzidos no exterior
desde 2003 -quando a Globo
deu o pontapé inicial com o "Planeta Brasil", jornalístico com reportagens sobre brasileiros que
vivem legal ou ilegalmente mundo afora. Os canais internacionais
começaram a investir na comunidade brasileira para aproximar a
linguagem da programação ao
público e oferecer serviços para a
crescente audiência nos continentes onde distribuem seus sinais.
Os programas exclusivos também servem para preencher lacunas da programação, para não
abusar de reprises. É que as emissoras não podem exibir algumas
produções nos seus canais internacionais, como filmes (cujos
contratos garantem exibição somente no Brasil), jogos de futebol
como os da Copa das Confederações (Globo), atrações ao vivo e,
no caso da Record, programação
religiosa durante a madrugada.
A Globo Internacional -audiência de 1,8 milhão de assinantes- tem também boletins de notícias ("Brasil Notícias"), programação esportiva e um dia de
shows com artistas brasileiros em
Nova York, uma vez por ano, chamado "Brazilian Day".
Na Record Internacional (cerca
de 300 mil assinantes, segundo o
canal), há quatro programas produzidos especificamente para o
canal do exterior: um de entrevistas com personalidades ("Link
Brasil", apresentado por Celso
Freitas), outro de shows e entrevistas ("Brasil in Concert"), um de
videoclipes ("Top Clip") e boletins diários de notícias e serviços
("Record News").
Poucas reportagens são exibidas nos programas da casa, como
o "Jornal Nacional" e o "Fantástico". Na Record, também não há
espaço na grade para a produção
internacional, que, diferentemente da concorrente, é gravada em
São Paulo. "A grade aqui é mais
enxuta. Não temos horários para
encaixar os programas criados
para o canal internacional e já temos alguns programas enraizados na cultura brasileira, como o
futebol e as novelas", diz Paulo
Calil, 33, diretor de programação
da Record Internacional.
Juntos, os jornalistas César Augusto, 37, e Luciana de Michelli,
31, viajam pelo mundo à procura
de histórias que os brasileiros têm
para contar ao "Planeta Brasil"
(Globo Internacional). "Brincam
com a gente nas ruas, dizendo que
acham ruim que as entrevistas
não passam no Brasil, pois eles
querem mostrar para os familiares que estão bem", diz Michelli.
Com o "Planeta Brasil", que é
apresentado pela jornalista Patrícia Poeta, a dupla de repórteres já
viajou por 22 Estados norte-americanos e para outros países, mostrando a realidade da comunidade brasileira, onde são recebidos
com café e pão de queijo. "Eles
criam um universo brasileiro onde estiverem", diz a jornalista.
Segundo Augusto, que falou à
Folha da Filadélfia, onde gravava
um especial do Dia dos Pais, a
maioria dos brasileiros com
quem conversa têm saudades do
país e pretende voltar. "O brasileiro é muito batalhador. A maioria
busca uma esperança de mudar
de vida e oferecer algo melhor para a família", diz o repórter.
Parte das histórias são tristes,
como as de pais que trabalham
nos EUA para pagar a faculdade
dos filhos no Brasil, mas também
há relatos engraçados, como os de
brasileiros que já fizeram as vezes
de pedreiro da casa de Sylvester
Stallone, de manicure da atriz Jennifer Aniston, de cozinheira de
Michael Jackson e do motorista
do cantor Lenny Kravitz, entre
outros, e gente que construiu sólida carreira no exterior com criatividade (como um brasileiro que
vende uma das bolsas mais cobiçadas de Nova York).
Os temas para o programa chegam por e-mail (planetabrasil@
globotv.com) ou pelas histórias
que os entrevistados contam. Os
assuntos são variados: falam de
comportamento, como tratar de
assuntos diplomáticos e mostram
o estilo de vida dos brasileiros.
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